quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Little Susie

Composição: Michael Jackson

Somebody killed Little Susie
The girl with the tune
Who sings in the daytime at noon
She was there screaming
Beating her voice in her doom
But nobody came to her soon

A fall down the stairs
Her dress torn
Oh, the blood in her hair
A mystery so sullen in air
She lie there so tenderly
Fashioned so slenderly
Lift her with care
Oh, the blood in her hair

Everyone came to see
The girl that now is dead
So blind stare the eyes in her head
And suddenly a voice from the crowd said
This girl lived in vain
Her face bear such agony, such strain

But only the man from next door
Knew Little Susie, now he cried
As he reached down
To close Susie's eyes
She lie there so tenderly
Fashioned so slenderly
Lift her with care
Oh, the blood in her hair

It was all for God's sake
For her singing the tune
For someone to feel her dispair
To be damned to know hoping is dead
And you're doomed
Then to scream out
And nobody's there

She knew no one cared

Father left home
Poor mother died
Leaving Susie alone
Grandfather's soul too had flown
No one to care
Just to love her
How much can one bear
Neglecting the needs in her prayers

Neglection can kill
Like a knife in your soul
Oh, it will
Little Susie fought so hard to live
She lie there so tenderly
Fashioned so slenderly
Lift her with care
So young and so fair

Por que essa sensação se prorroga corroendo? Murchar, será apenas para isso?. Quando a maldita síndrome de Cinderela passa? NINGUÉM VAI PEGAR A PORRA DO SAPATO.

Po

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O fio.

Toquei-o e ele rompeu-se da base suavemente... Não era convencional, o oxigênio ficou arisco, e logo, as antiguidades finalmente foram para o museu.
O fio era delicado, fino, delgado, ralo; sua resiliência era sutil, mas ali estava. Ele ondulava nos caminhos do vento, de um lado para o outro, de um desenho a outro, daqueles que só se vê contra a luz. O fio surgira, e flutuando no ar, agarrou-se em meu sedimento. As intempéries das reentrâncias arrastavam-no de um lado a outro, de uma face a outra, e, estranhamente, após tudo, ele estava lá.
O fio fora guardado, reservado? O que seria agora dele que havia sido descoberto em seu esconderijo? As cascatas não o levaram, ou os mares de tudo, ou as bravias empreitadas confusas e sincronizadas, mas ele insistiu e ficou, eis então sua cor representando a ele mesmo.
Talvez seja só uma forma de dizer que sempre pode recomeçar.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O expresso da meia-noite

Um dedo aponta numa direção incerta, um caminho está traçado em meio ás cinzas.
Deixe vir o vento, ele virá, e caminhar cega, em linhas desconhecidas estará novamente aí, como minha solução a tudo que esvazia.

Eram 11:53pm. Os sete minutos haviam sido postos no relógio de Cronus, a sorte lançada, era a hora de sentar e esperar. Os anseios reclusos, os intentos se desvendando novamente... O pano, o sumo, o tato. Uma reação em cadeia sem fim, pronta a se iniciar. O sete minutos viriam a passar, talvez como sete anos, mas sua contagem se processava, segundo por segundo, átomo por átomo estava a preparar um adeus. A chuva casta logo tocaria os chãos, e transformaria-se; faria de desertos, paraísos.
Uma luz confusa que crescia, uma luz lunar, um morar que se esvai, uma flor que passou do tempo... Deixa o vento levá-la (talvez a resposta), não deixa o vento levá-la (um desejo guardado na caixa das desgraças de Pandora). Um mergulho de cabeça, deixar espalhar o mar, deixar dizimar o astuto, deixar revelar a metade macia e carnosa de um fruto roubado, ceifado pela insanidade. Deixa viver...
A fumaça do expresso era jogada no ar, confundindo as vontades e os quereres, uma cegueira maior que a emocional. O barulho do apito ensurdeceria, roçando com velocidade descabida os sentidos enfraquecidos pelo balançar incessante das franjas... Os olhos em pedaços, sua morada funda; a beleza dos ossos sorrindo aos de fora, as carnes escapando das ironias devassas demais para serem ditas... Veja que no fim ainda restará algo para me orgulhar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Voltou todo sangue... Voltaram as dores, existem coisas ruins das quais não dá para se livrar. Aceitar a realidade, jogar tudo para o alto, se libertar dos grilhões daquilo que esperam de você. E, então veja as coisas acontecendo.

A tremedeira das mãos, mal conseguiam alcançar o inalcansável. Era sair, fazer surgir novamente a seifadora de sorrisos. Ela voltaria, já era hora, uma hora todos precisam sentir na pele os erros. Se os erros desabrocham dessa forma, eles param de consumir.
Era quase visceral a necessidade de algo para resistir. Não era o fim ainda! Ainda havia passos que teriam de ser dados, ainda havia tanta coisa para destruir... Os pedaços pelo chão, comer a areia abandonada por toda parte, os pedaços de um sonho ilusão, um querer inventado, uma fuga absoluta. Querer florescer a dor era a fuga, a fuga, a única solução. Essa linha - amaldiçoada seja - que traçara em noites em claro de lágrimas, seria seguida. Não importa o quanto, seguiria por ela. Vou lutar por ela. Vou rasgar por ela. Deixa florescer, deixa... A tremedeira pode ser evitada, deixa despedaçar o que tiver de ser despedaçado, deixa que tudo caia de fraqueza, mas essa linha seria sempre. Ela ficaria intocada, eu andaria por ela.
Mergulhar os olhos novamente no caldo denso e adocicado, belo, deixá-lo espalhar pelo chão... Seria libertar, libertar o que consome, libertar o vibrar agoniado dos ossos, e voltar a vislumbrar o brilho natural das obsidianas.
A tremedeira domina, e um vislumbre de razão surge! A insanidade toma forma, olha com olhos arredios e histéricos, de longe, como é divertido poder ver aquilo acontecer. Piada... A tremedeira termina de fazer o trabalho que a razão começou, cruelmente torrencial. E o ácido corrosivo - esses devaneios - voltam com força total.
Mas deixar estar é o que se deve fazer por enquanto. Aos urubus - todos eles - será dada apenas a carniça que merecem.

Rebento

Do niilismo que fui fixo - ciumento! -
nesse substrato sucinto em demasia
Deixo gritar as paixões da biologia
num cruel e gigantesco fio de lamento.

Talvez tenha sido eu, parco, tal rebento
que após o desejo da chegada, passou
sem ventura, mas que tão querido ficou,
que encanta a maldição de seu nascimento!

Eis então que a ventura ganhou! Motivado
estava então tal rebento a sofrer o destino
e sua dor seria poema mal-acabado.

A luz seria doentia, a profundidade
boa amiga, os sentidos em desatino
o prazer maior dessa realidade.

E provar ao mundo que existir é uma desgraça necessária.
Existia ar ali. O estático foi se modificando, discretamente, até o momento que se arreganhou em cores diferentes das escuras e sombrias que os olhos já tinham se acostumado.
Era pequeno, mas enorme ao mesmo tempo; os detalhes prateados traziam algumas certezas sobre pedacinhos de acontecimentos e de intentos, e logo, então, para tal surpresa, abriram em brilho. Tinham um jeito de brilhar amorfo, a luz podendo ser completamente ignorada. Os detalhes menores se esboçando lentamente como um pedaço de arte, os maiores se fixando como uma tatuagem nas retinas. Algo que, raramente, acontece. Era suave, mas longe de ser delicado, oscilava num vai e vem calmo, medido, complexo.
O néctar compartilhado, o flutuar que ocasionava. Logo, tudo virou água. E a água subiu, se elevou, solapou, esfriou, esquentou, e depois virou um empecilho, mas também um veículo. Era talvez um pequeno pedaço de história que começava-se a escrever, talvez uma chance de poder transbordar novamente, sem placidez. A mesma água que ameaçou, e mudou tantas vezes, por fim foi uma parte daquele todo: um todo sem começo, sem meio, sem fim; apenas a continuidade diria todas as verdades.
Era novamente um prazer estar respirando.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O anel

Antes dele estar aqui, já existia. Já existia na prata sua força, sua intensidade. Uma prata que saíra um dia da mina, que passara por tamanho número de mãos antes de ser o anel, sem que nenhuma de sua energia fosse perdida. Talvez outrora fosse uma taça, um garfo, outra jóia, mas nenhuma de tamanho valor. Talvez tivesse sido alguma rebarba, algum caco, algo dispensável, mas não agora onde ele estava. Não importava o que acontecera anteriormente, esse poder - poder supremo - que guarda o anel não iria se desfazer. Mesmo quando o dedo onde ele está se desfizesse, essa força tremenda estaria lá. E olhar para ele já era mais que rotina, senti-lo fazendo parte do dedo, como se fosse a quarta articulação.
Concebido, então seu par, passou em muitas mãos. Em nenhuma delas coube, em nenhuma delas se encaixou. Seu par estava longe então do anel, separado dele para sempre talvez. Iria para terra, sem jamais compreender a força do anel.
Mesmo que a terra sumisse, que a água secasse, que o fogo parasse de queimar e que o ar, de correr, o anel continuaria ali. A terra iria embora, a água estava secando aos poucos, o fogo se extinguindo sem combustível para queimar, o ar entrava e saia difícil. O éther era quase livre então. E o anel iria com ele.
O anel jamais sairia do dedo; mesmo sem seu significado, ele ainda significaria. Mesmo sem sua prata, a força estaria ali. O anel era o símbolo supremo, e não mais seria sujado por outras mãos. Estava no lugar certo, mas a hora era a errada. E seu par talvez nem existisse mais. Mas ele continuaria exatamente onde está. O seu verdadeiro significado, aquilo que fora selado por ele não iria embora, não importa o quanto doesse. Viria o véu preto, viria a rosa atirada no negro buraco, mas o anel ficaria.
Não era apenas um anel, era um grilhão arrastado por todos os segundos de existir, um peso vivo, que logo peso morto seria. Mas seria arrastado mesmo assim. Mesmo antes do anel, ele já estava ali. O anel já estava ali. Preso, no dedo. E nada seria capaz de tirá-lo, nada!
Quando deixei-me ver, já não estava mais lá. Retirei-me sucintamente, demasiada satisfeita para ver que ainda eram olhos cegos que olhavam para mim. Algumas palavras, foi-se na minha amada morada o último provar do mais doce mel. Não quero mais mel algum. Quero, ao menos dessa vez, dar-me ao luxo do luto de sua morte. Caminhe, caminhe por aí, mas em mim, vou matar-te, extinguir-te, esmagar-te como mereces, como mereces a borboleta delicada e frágil que sempre foste.
Deixe-me, ao menos por um instante respirar algo que não sejas tu. Deixe-me, por pelo menos um segundo, existir por algo que não sejas tu. Pode levar essa coisa cálida que guardei com tanto carinho por anos, leve embora de mim esta maldição.
A cada momento que penso que busquei, cegamente achar tamanho tolo sonho, sinto o corpo desaparecendo.

O silêncio devorava... Perdeu o sentido, mesmo as linhas curvas perderam seu lugar. Despersonificou, despersonalizou o indespersonalizável e estagnou. Flutuava no ar, impregnando de lodo tudo, e mesmo os mais leves movimentos gastavam tanta força, tanto ardor, que nada mais significava coisa alguma. Despedaçado e esturricado por toda parte, pegajoso, desleal.
Antes acompanhava sutilmente tudo, era resposta para as mais profundas perguntas, mas agora só empecílio, só imundice restava dele. E agarrava por tudo! Pelas paredes, pela pele, pelas moléculas do ar, pelos objetos bem cuidados, impregnando com dor, desespero e doença.
Eis então que surgiu e ficou clara a doença maior. O motivo da desmistificação e desembelezamento dele. Essas coisas de sonhar, de querer, essas coisas inúteis que impulsionam alguns, mas que ralos ainda apenas conseguem se corroer por ela. Essa coisa maldita, desdenhosa, mentirosa e suja.
Essa coisa precisava desaparecer, acima de tudo sumir para sempre, para limpar e purificar tudo de todo nojo, de todo ranço e rancor. Essa coisa venenosa, intravenal, líquida e quente, essa coisa pesada e crispada. E essa coisa há de desaparecer. E o silêncio vai voltar a ser belo, e vai voltar a ser leve, e vai voltar a impulsionar.
Melhor deixar pairar o vazio extremo do que preenchê-lo com dúvida.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Desejos / O meu mar

Como pude deixar-me acabar tão longe de mim?
Como pude permitir que tudo que eu sempre quis fosse destruído, despedaçado e mirrado por mim?
Oh, sou tua ghost, tua Lacrimosa, tua esfinge.
Estar e não existir, existir e não viver. Ou não estar, não existir, não viver?

Novamente sinto-me atraída aos vales das cruzes de mármore pelo perfume sedutor e adorável de criptas... Poder extirpar por fim esses suspiros ardidos e deficitários, flutuar além dessas moléculas e mergulhar na fúria do mar e de lá não ter de sair!
Eis que novamente vem ela: minha musa, minha senhora, essa incrível dama de tamanha beleza, que é proibida e foi coberta, pelos anos, pelo seu manto negro. Meu maior amor, minha espera, meu querer supremo, minha extrema unção.
Desejar-te voltou para me atormentar. Meu repouso se quebra, juntamente com todos os meus sonhos onde você não está. Você surge, ampara-me, mas nunca posso te tocar. Por você eu seria um homem, por você eu seria um sorriso, seria uma espada de prata. Não mais este réquiem.

Acordei com o mar nos olhos. Era saldado, deigado e arredio, buscava intensamente o chão. Esta ventura pode estar, então, chegando ao seu fim? Eu era vapor, era apenas uma essência gelada e sem existir algum, e logo nem mais o vapor frio e pegajoso do teu ar eu poderia ser.
O mar veio, revolto, e se jogou contra mim. Deslizou pela minha face, e depois escorreu - acre e sosso - pelas minhas entranhas vermelhas e adocicadas ainda de suspiros. Foi apodrecendo meus ossos vibrantes, meu baço repleto, e apagou o fogo do meu coração. Já não podia mais queimar-te, já não podia mais ser aquela pistola, era o desconstituir da criação, lento e dolorido, a cada segundo. Não queria parar o mar. Apenas dessa forma pude ver o fogo - o fogo destrutivo - e sentir que ele não estava mais ali.
Os passos sem jeito ficaram mais sem jeito, já não havia mais os apoios naturais para os braços ficarem; ambos membros pendiam apenas pela gravidade, à espera de serem arrancados por ela. As madeixas mal aparadas agora eram a última máscara, e mais que máscara eram a protecção contra o tudo de lá de fora. As palavras se desarticulando, perdendo seu significado, apenas deslizando suas ondas pelas moléculas repressoras a toda volta. Logo as ondas perderam o motivo de vibrar. Era apenas o ar que se afastava, e depois, nem mais era o ar. Era apenas o vibrar de minhas moléculas, a electricidade correndo. Mas o chamado, apesar de surdo, ainda lá estava. Nenhuma resposta. Apenas pena. Uma pena que não era para ter estado ali nunca.
As luzes fortes de aurora começaram a perder a forma, depois foram enfraquecendo, e apesar de significar que outro dia havia começado, não eram luzes ternas, nem quentes. A agressividade delas fizeram-me me cerrar ainda mais, e uma beirada rosada ficou pendurada para fora. Uma beirada que precisava - mais que tudo. - ser extinta. A necessidade de absorver o meio desaparecera; foi substituída por um entorpecimento suave, sem corpo, sem existir. Faltavam ainda dois passos, passos bem curtos para serem dados. A matemática, minha melhor conselheira, seria a peça que faltava para que um desses passos fossem dados. O outro, era preciso um esforço mais descomunal. No entanto, para poder deixar-me voar, sabia que o último passo jamais deveria ser dado. Que deveria ser ignorado nos caminhos estranhos que eu escolhera. O ser humano tem essa linda capacidade de se conformar.
E esse mar, malditíssimo mar, ele não terminaria de mim o que começou. Era melhor voar, e deixar apodrecer longe de mim esses pedaços sangrentos que nomearam.
Minha matemática, tamanho querida, dessa vez não tinha o poder de mudar aquele caminho. Era o nada, ou o nada. Era o nada daqui, ou o nada de outro lugar. No fim, o olhar ainda seria esfumaçado, e sem graça alguma.
Pude olhar uma flor que havia sido atirada no mar, na noite anterior, e vomitada por ele pela manhã. Para meu desespero, estava tão desfigurada, que consegui nela um espelho de verdade. E também nela, tive uma visão do futuro. Não podia deixar, de forma nenhuma que tu visses, com teus olhos castos, como ficaria a rosa depois que foi devorada pelo seu próprio mar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

É lá que mora o doce mais doce,
o bem-querer mais bem-quisto,
todas as graças das mais graciosas,
o fermentado e destilado sumo deste fruto carnoso e demasiado branco,
o lenço profundo das lágrimas que desmancham os olhos de saudade...
Perdido por todos os lados, ofuscado pela luz matinal de um sentimento que cisma em nascer e se pôr, dia a dia, por todos os segundos que preenchem o existir dessas duas metades: a de cima, e a de baixo.
Desgostosa a distância entre estas, se novamente se unem, abafam o som maldito; mas se se aproximam, e se apertam uma na outra, suas cores se tingem em rubro vivo, e logo amanhecem no mais pueril sorriso que já riscou tal face...
Acima de tudo, é o local mais seguro do mundo, onde mora os mananciais do descanso mais terno, e morno... A casa de tamanha quimera de beleza e plenitude, a casa dos justos, e dos intuitivos. Uma casa onde pouca razão reina, onde se espelham as batidas mais fortes do miocárdio, onde se pode ler alguns segredos - apenas os tolos - e onde desabrocham os mais escondidos mistérios das emoções humanas.
Poderia viver - e sobreviver - dessas duas bem-feitas metades, que mesmo silenciosas, possuem toda uma voz e sua canção própria. Mas não poderia viver - em plenitude! - sem esses dois pedaços, essas duas partes - a de cima, e a de baixo - de calma, furor e majestade... Essas metades que dão asas a minha poesia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Os Ossos

A fibra das carnes agarram-nos, e bambeiam-se pelos tendões. O sangue lhes corre de ponta a ponta, as moléculas incipientes de suas superfícies porosas prendem-se e desprendem-se deles como se lhes fossem indiferentes... E eles, duros, rijos, mas frágeis, vibram...
Sacolejantes, presos pelas beiradas, vibram a energia de existirem. Vibram ritmos e canções de todas as partes do mundo, vibram desejos e arrepios da pele, vibram crispados de protuberâncias confusas e desdenhosas, vibram rompendo as vísceras e contundindo as espécimes variadas de emoções. Vibram por terem vida própria, vibram pela sensação de existirem, vibram independentes de tudo, independentes de seus próprios donos. Seu chacoalhar confuso movendo o resto pelas ondas teimosas do ser e do não-ser, oh, os quereres que guardam!
Ao aproximarem-se do quisto, remexem de um jeito inimaginável, logo tomam o controle e fazem das diferenças um motivo para unir! Impressionam pela teimosia, suas paixões misteriosas adormecidas entre material duro e quase sem vida, a rigidez sensível de seus súditos - oh esqueleto! - das vontades misteriosas e das coisas que nunca contamos, essa casca interna no corpo, espectral quando a vida se esvai e larga apenas pedaços de existir em memórias alheias...
permanecem incompletos, suas vontades intactas, seu existir um mistério! Em ti viveria o elixir da vida? Pois é de ti que a existência Oh, ossos! - veja só como são! - essa escarne de pequenices, essa excência branca do existir, os guardiões do tutano - e dos desejos tutanais - e das graças enraizadas que apoiam o existir dos humanos. Oh, ossos, seus mistérios tutanaisefêmera e tola desses seres sem metade se completa na terra, onde todos hão de ser iguais.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O que fazer com aquela maldita ânsia?
Ela vem rasgando a carne, sendo cuspida em chamas do meio dos miolos e largando um rastro ardido pelos feixes musculares! Intensa, vem arrastando consigo as vontades misteriosas que nem ao menos entendemos porque moram lá... Vem o grito, vem a força de escapar de tudo, vem a degustação dos ventos de primavera, vem o poder de romper o infinito áspero e sem paredes...
E logo, me acabo, me basto de lábios bem-feitos, os mais plácidos que já vi...
Um arrepio na pele, as mãos que continuam iguais, a saudade se dissolve em meio às palavras sem ambição alguma, sussurradas suavemente à altura do ouvido, arrastadas entre a lama e árvores - quem seria melhor confidente que elas? - e depois a chuva, e então os livros, calados, começam a falar...
Como cogitar que um querer bem quisto caminharia por tantas pedras e continuaria quase intacto, quase sem ondas, quase sem marcas? Só pode ser realmente pureza, daquela que achamos só ver nos filmes, pureza rara daqueles que estiveram murados esperando. Aqueles que souberam baixar a guarda apenas no momento certo. Daqueles que ficaram marcados como os insensíveis, e que lidaram com o mundo como quem lida com adultos grandes e maus. Daqueles que aprenderam cedo que confiar é perigoso de mais para se dar ao desfrute de confiar em todos facilmente.
E logo os lábios se afastam, esboçam um sorriso e rosam pela percepção de serem observados, mostrando graça além da graça, timidez além de timidez, e além de tudo, temor além de temor. Impossível explicar.
Talvez esse poder que as pessoas que amamos tem de nos ferir.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Será...

QUE ALGUÉM ALGUM DIA VAI LER ALGUMA COISA AQUI E COMENTAR? ACHO QUE NÃO, ESCREVER AQUI PARA NINGUÉM LER PARECE ATÉ DIVERTIDO, ALVEZ SEJA POR SER EXPOSTO E GRATUITO QUE NINGUÉM QUEIRA.

Nada

Redescobrir uma noite vazia de insônia, me torcer de dores em algumas partes do corpo, sendo que algumas delas me trarão consequências bem ruins para amanhã. Veja o vazio, o belo vazio a minha volta, todo o vácuo azedo de encontrar uma farpa que te tira tanto o ar que ele não volta mais do mesmo jeito.
A questão não é a solidão, solidão é natural, e a verdade maior que cada um precisa compreender como a única solução para a felicidade; a questão é a saudade, a vontade de gritar que certas coisas podem causar - apenas um grupo pequeno de palavras - e o simples fato da lei do silêncio que precisa ser respeitada, porque eu não sou exatamente uma das pessoas que podem se dar ao luxo de pagar as multas. Aí transformei a vontade de gritar em vontade de cantar e me controlei. Logo me apercebi de que provavelmente minha vozinha petulante de contralto incomodava algum trabalhador ou uma velhinha, e continuei mais alto. É quase impossível fingir que eu não existo se eu sou inconveniente, fato. Já que eu tenho sobrado para alguns amigos, tenho sobrado em tantas situações, agora adotei o método de existir para o mundo através do incomodar.
Funciona de formas diferentes, cada situação pede uma delas. Aí me pego lembrando de homo sapiens estúpidos me incomodando, e penso melhor. Ainda consigo seguir a risca aquela de não fazer com os outros o que não gosto que façam comigo. Diferentemente da maioria dos hipócritas que falam isso, como deve ser bem evidente.
Tentei me aventurar num soneto, e nada. Numa dança, e nada. Com minha gaita, e nada. Agora estou bebendo e isso me piora as dores da gastrite, é como se ao invés de martine com coca-cola fossem peixes carnívoros comendo meu estômago de dentro para fora. Quem tem gastrite nervosa sabe. E nada no computador, tenho a impressão de ficar a cada dia mais desinteressante, de falar mais as coisas erradas e de ir do nada para o nada, independente do quanto eu progrida.
Tudo inútil, brigar contra tanta coisa é inútil, tentar me encaixar, mais inútil ainda. Alguém tem algum manual de como ser um ser humano realmente? Se tiver, por favor me dê, eu juro que vou ler tudo, e se novamente me frustrar tentando, eu queimarei o livro e vou comer ele em bravas para ver se métodos indígenas antigos podem funcionar de forma não tão ortodoxa...
Talvez eu só esteja no tempo errado, tenha recebido os objetivos errados ou esteja seguindo o caminho errado.
Mas talvez eu não seja nada. Pode nem ser eu mesma escrevendo esse texto...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

E aí, aconteceu.

A tarde gelada, mil palavras escondidas no meio das equações matemáticas, dos livros e das fotos a serem tiradas. Um compromisso, um vestido de baile, um salto quase desproporcional... E de repente, eu não senti minhas pernas. Bateu em mim com tamanha força um vazio, uma vontade de mergulhar nas minhas tolices e fingir que não tinha que encarar o mundo com minha face misantropa, desigual e inapropriada. Apertos incomuns, uma vontade explosiva de correr para onde minhas pernas mandavam, até que eu pudesse voltar a senti-las. Aí descobri que era a primeira vez que sentia saudade de alguém que não fosse eu mesma. Apesar de saber que eu estava longe demais para me alcançar, gritei por mim... E eu não estava lá. Estava em outro lugar distante, sem alma e sem metade, sem graça e sem cor alguma, sem formas belas de se ver sem algo em que segurar para evitar algo que acontecia desde um fatídico dia num lugar imundo: minha queda. Cair, o que tenho feito além disso? Mergulhada em belas ilusões desiluditivas, apertada entre a mentira iminente e a verdade azeda e escondida onde ninguém consegue alcançar. Nada vale, nada mesmo, um oi no meio da madrugada, uns minutos de insônia insignificantes nos 86400 segundos do dia? Era a verdade azeda que voltava, era azedar totalmente de tudo, era voltar a ver a vida em preto apenas, depois da evolução de enxergar branco e nuances entre essas duas cores. E aí, aconteceu a ideia. E a ideia, me despedaçou, depois pisou em mim, depois me engolir, depois me vomitou ardida, séria, insana, descontente, redescoberta. Não importa quantas palavras de 2+2 eu diga, nunca vai valer; nunca vai significar nada, nunca vai ter lógica insuficiente no que eu digo. E agora me afogo nos oceanos do sono, pois lá posso fingir que não existo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um era uma vez tem fim.Um adeus ardido e marcante, que nem ao menos se deu ao luxo de acontecer. Qual será o próximo passo? A próxima boca, o amor seguinte? Qual será seu motivo para continuar se esturricando por aí, se partindo e ferindo?
Olhei para trás e forcei os olhos, mas não vi nada. Você já tinha ido embora. E era quase certeza que era para sempre. Chorar? Para que? Prolongar o que não aconteceu? Talvez só uma tolice lapidada para ficar da cor que eu gosto, mas quem vai realmente saber, se nem eu mesma sei?
Acontece que aconteceu. E nada aconteceu. E tudo piorou, a saudade inunda minha alma e meu substrato a cada momento que uma ranhura sua me vem a cabeça.
Quantas vezes você teve que se colar? Quantas vezes precisou esquecer a dor, e seguir? Quantas vezes te sangraram sem dó ou piedade, e te forçaram a aceitar um destino de privação daquilo que mais queria?
E agora é minha vez. Estranho não, como de repente o jogo inverte e nos vemos perdidos numa teia sem fim de idas, mas algumas sem volta. Se eu dissesse que não existe nada mais aqui para você, seria mentira. Mas dizer que existe algo de relevante agora, igualmente mentira seria.
Será que você não entende? O tempo passa, nos corrói de uma forma que nada pode recuperar.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Em algum lugar

Hoje descobri que já não é mais legal estar perto...
Descobri que no seu vácuo, meu silêncio desconfortável fica aprazível, e as coisas que tanto me irritavam voltam a ser afáveis.
Teve sim um dia que quando você estava era legal; admito. Agora não passa de um incômodo extra, mais uma pedra para eu carregar. Não vou dizer que se você morresse tudo melhoraria, mas conto os dias para você desaparecer de vez da minha visão.
O cheiro do seu cabelo está inconveniente, e aquele jeito de oscilar da esquerda para direita meio aleatoriamentente, além de ter perdido totalmente a graça, está se tornando a cada dia algo que irrita. Na verdade, nem fazes mais isto.
Menos sorrisos, menos palavras... Seria essa a verdadeira face? Seria esse o verdadeiro eu? Deve ser o vazio que te acomete. Bem-vindo ao clube, você é só mais um entre centenas de milhares. Curioso... É só ter distância para respirar que novamente todo encanto acaba. Deve ser alguma tendência natural.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os Esquecidos

obs.: nenhuma relação com o filme.

Sentei para meditar, pensei sobre tudo que cada gota d'água significou. Olhei a minha volta esperando que algo mudasse. Mudou. Pensei demais, fiquei pra escanteio...
Enquanto refletia sobre a relevância da minha existência, minha existência foi ficando irrelevante. Tão irrelevante que em pouco tempo notei que só os mais insistentes tinham ficado por perto. E mesmo assim, mantiveram distância segura. Andei, procurei, tentei pedir que voltassem. Não voltaram. Foi o pé final. Melhor não olhar para trás agora, minha cara. Melhor fingir que nunca estiveram perto. Aprenda a se sentir bem sendo invisível. Agora eles não podem mais machucar você.
Havia outros a minha volta, outros que também estavam empoeirados. Mas empoeirados que eu, outros menos. Nos menos empoeirados, notei que ainda procuravam. Nos mais, vi que voltavam a meditar e periodicamente olhavam para ver se havia alguém. E quanto menos gente, mas felizes.
Foi aí que entendi: se você se vira para dentro, e fica ali por um tempo, começa a enxergar melhor quais são os verdadeiros meios da felicidade. Eles ficam claros através do auto-conhecimento, da leitura, da introversão e também do amor próprio. Aí ´os existe verdade; os falsos se vão, os fracos se vão, e os poucos que ficam, provavelmente aprendem a meditar sobre si mesmos também. Aí surge a bela teia: a teia dos Esquecidos, forte e imrrompível, buscando sabedoria em cada um dos seus nós, e cada nó tem algo para passar.
E a verdade, límpida, então surge: podemos estar próximos, podemos estar ligados, podemos ser pequenas partes de um grande todo, mas cada parte é individual, como elétrons que se movem coordenados pelos movimentos de seu oposto, e só. E então sorrir, e ter a certeza de uma pura verdade, mesmo que muito chocante no começo:
"Estamos todos sós."

Dangerous Game

Jekyll and Hyde

Composição: Leslie Bricusse

Lucy:
I feel your fingers
Cold on my shoulder
Your chilling touch,
As it runs down my spine
Watching your eyes
As they invade my soul
Forbidden pleasures
I'm afraid to make mine.

At the touch of your hand
At the sound of your voice
At the moment your eyes meet mine
I am out of my mind
I am out of control
Full of feelings i can't define!

Hyde:
It's a sin with a name

Lucy:
Like a hand in a flame

Hyde:
And our senses proclaim

Hyde/lucy:
It's a dangerous game!

Hyde:
A darker dream
That has no ending
That's so unreal
You believe that it's true!
A dance of death
Out of a mystery tale
The frightened princess
Doesn't know what to do!
Will the ghosts go away?

Lucy:
No -

Hyde:
Will she will them to stay?

Lucy:
No -

Hyde:
Either way, there's no way to win!

Lucy:
All i know is' i'm lost
And i'm counting the cost
My emotions are in a spin!
I don't know who to blame...

Hyde:
It's a crime and a shame!

Lucy:
But it's true all the same

Hyde/lucy:
It's a dangerous game!

No one speaks
Not one word
But what words are in our eyes
(alternating)
Silence speaks
Loud and clear

All the words we (don't) want to hear!

At the touch of your hand
At the sound of your voice
At the moment your eyes meet mine

I am losing my mind
I am losing control
Fighting feelings i can't define!

Lucy:
It's a sin with a name

Hyde:
No remorse and no shame
Fire, fury and flame

Lucy:
Cos the devil's to blame

Hyde/lucy:
And the angels proclaim
It's a dangerous game!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sedentos

Sacudi a cabeça, tentei expulsar dali de qualquer jeito a impressão de que via você se materializando na minha frente. Foi só um sonho. E é profundamente detestável para mim admitir isso.
Você estava ali, sim, estava, eu pude, pela primeira vez em meses, escutar a sua voz. Os cabelos ralos estavam aparados. Acho que preferia quando estavam compridos; de tal forma, escondiam seus olhos... Aqueles olhos.
Era como olhar para um ladrão. Tive raiva daqueles olhos pela primeira vez. Já tinha notado que você era bem branco, quase aguado, mas pareceu mais bonito ontem quando fui dormir. Mas seu olhar ainda era um mistério!
Era como um criminoso caminhando na milha verde. Um destino trágico lhe aguardava e você já sabia disso. Aí, olhou para mim. Ali estavam suas respostas. Se jogou no pegiro, depois fogo... Depois não pude mais vê-lo. Mas escutei sua voz! Novamente não consegui dizer meu nome, sua voz me anestesiou. Você estava sedento, eu estava sedenta. Ameacei você! Disse coisas feias sobre saudade, e espera. Coisas tão feias que te fizeram torcer a cara. Deixei torcer. Já estou de saco cheio de ficar procurando. Mas mesmo assim, vou continuar.
Aí acordei. Seu rosto gravado na minha mente. E a boca seca.
E sei que quando você acordou, sua boca também estava seca.
Talvez estejamos sedentos de algo impossível. Bebamos então água e vamos fingir que não teve sonho. Quem sabe desse jeito, hoje à noite, consigamos dormir melhor.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O dia depois de amanhã

Despertar novamente e ver o dia depois de amanhã.
As visões confusas, as dúvidas, nem ao menos saber se estarei lá para presenciá-lo.
Detalhes, cara minha, detalhes. Detalhes de tamanha relevância que deixam meus dedos endurecidos e minhas articulações doídas. Detalhes que fazem meu coração perder o rumo, e meu baço ficar repleto com sentimentos positivos.
Sim, eu amo com o baço. Amar com o coração dói. É artificial, desnecessário e manjado. Aí, meu baço... Cheio de novas histórias sempre, para contar. E guardar... Algumas, para esquecer.
No dia depois de amanhã, tudo pode mudar. Mas não vai mudar. Mas eu continuo achando que vai mudar.
Por que? O dia depois de amanhã vai responder.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A petulância, a curiosidade...
Logo, meus pés não tocam mais o chão.
Esse amor absurdo de viver, amar a vida acima de mil amores espalhados na poeira das velhas más intenções...
Um anel, um lasco de papel desbotado, um coração de argila. Tudo caiu e quebrou, será que um dia estiveram aqui? Será que um dia eu realmente estive aqui?
Amar a vida, e odiá-la tanto, que o ar entra azedo pela boca, e sai queimando as narinas. E saber que desde o começo era para ser assim. "Como pode alguém amar um monstro?" Como poderia alguém amar? Demonstrações escalaufabéticas de algo que talvez nem exista.
A chama queimando como se estivesse ali por algum motivo... O baço se aquece num sentimento inigualável. Palavras perdem o sentido, cada vez mais difícil entendê-las. Segundos com um porque depois de tanta espera. E saber que mais espera viria. Saber que esperar faz parte. Que o sono talvez só não seja tão necessário. Que aquelas cascatas vão estar lá, talvez estejam entre outros dedos. Imaginar mais um segundo ali, perto de um portal velho e algumas pessoas sem significado algum, fora do nosso campo semântico.
A perfeição pode estar em algum pacote diferente do imaginado. Ou pode ser exatamente como eu esperei. Ou pode estar só dentro de mim. Ou pode simplesmente não existir.
Que os próximos copos estejam cheios, que o pinguim imperador goze sua queda - que na verdade nem sabe estar a cair - e que possam haver fatias de pizza, de todos os sabores imagináveis. De pasta de dente talvez.
Odeio-me demais nesse momento por querer começar de novo.

A Sobra

Daquele funil enorme que fica sobrevoando as situações, poucos passam. Por isso um funil. Já é esse o intuito pré-estabelecido.
E os que não passam? Os que não têm aquele formato exato para passar? Sobram. Simplesmente sobram. Às vezes por características tão irrelevantes que lhes causa raiva. Também, pudera.
Só quem já sobrou sabe como é, mas dificilmente se poderá achar alguém que nunca tenha sobrado. São assim as coisas, ou se vive com elas os se afasta de tudo que tenha funil. Se fechar resolveria, se a vontade de passar no funil só não aumentasse quando não passamos. Fato.
E as sobras? Onde elas chegaram, o que elas podem fazer por sobrar, como vai ser a partir daquele momento, quando ela tentou ser absorvida e não foi?
As sobras. Por hábito, nos livramos logo delas. Por questão de manter puro a ambiente, e por questão do espaço que ocupam. Logo nos livramos das sobras, ou as largamos em algum lugar onde um qualquer possa carregar.
E fazemos isso com pessoas. Tratamos pessoas que sobram como lixo, como nada. Sobrar faz parte? Palavras de alguém que nunca sobrou. O pior é que na maioria das vezes que se sobra, não é algo que se possa modificar. Nos rasgamos por dentro em busca de uma forma de mudar aquilo, achando que passando no funil sempre seremos melhores... Será mesmo que o seremos?
Talvez só não devesse haver funil. Já pensou em quantas pessoas já fez sobrar? E o pior é que nos sentimos muito especiais em relação aos que sobram!
Cada um deveria só estar onde gostaria de estar.
Escrevo isso como sendo mais uma sobra. Uma sobra de tantas coisas que me dá raiva. Sou resto de tantas histórias que nunca quis fazer parte, de tantos grupos, de tantas outras pessoas...
Acho que um dia vou acabar me acostumando.

domingo, 19 de outubro de 2008

O vento

Nos momentos críticos, está lá sempre o vento. A arte de me esgueirar por ele, de arranhá-lo, de escutá-lo falar suas indecências esquivas e suas graças desgraçadas. O vento, cheio de vozes cheio de palavras e de sensações.
O vento, que nunca me deixa; ele vem ressecando tudo de feio, mudando os segundos em minutos, minutos em horas. Descobrir a arte de domar o vento, de controlá-lo, um objetivo que já a muito alcancei, mas nunca porei em uso.
Se domino o vento, se o submeto ao que eu acho certo, ele não seria mais vento.
O vento que me faz desejar arrastar as mãos novamente em objetos antigos, o vento que me faz sentir novos sabores em comidas que a muito já fazem parte da minha cina.
O vento veio, me trouxe a sensação de nadar em sangue denso e pegajoso; me trouxe a sensação de não ter peso, de não precisar mais respirar, excretar, absorver; o vento veio e a euforia deixou por onde ele passou em mim.
Mas, se eu domino o vento, ele não é mais vento.
O vento dançante, saltitante, tão tolo quanto eu...
Vai, vento arrasta essa existência insignificante e faça-a mergulhar nos mais profundos mananciais de desespero, de loucura, de doçura, de suavidade, de arte.
Vento.

sábado, 4 de outubro de 2008

A sensação absurda de nada, às vezes, chega a tamanho insustentável extremo, que de qualquer jeito é preciso que seja preenchida.
Um arrepio na pele, uma busca ansiosa entre as roupas íntimas de algodão, os lenços, e nada. Ela se prorroga, e persiste em outros espaços, por toda casa, até que, depois de tudo revirado, finalmente o objeto tão desejado é encontrado.
Onde está o corpo? Onde está o ser? Nada, nada dá para encontrar no meio daquele caos imundo, daquela baixeza, daquele monte de lixo, amontoado, liberando sucos de uma repulsiva fermentação.
E surge uma perna... O deleite, o alívio, o objeto funcionando a todo vapor, as mãos tremendo, e o sangue jorra com uma delicadeza, lavando mágoas, emporcalhando o chão e arrastando aquilo que incomoda. Então vem a paz... Não existe mais vazio, ele está completamente preenchido com a dor física, a sensação de ter um corpo, a sensação de não ser só mais uma manifestação vapórica no ar.
Respiração, choro. A tremedeira então piora e vem nova agonia: como fazer para sair daqui amanhã, como vou mostrar minha cara de pessoa errada e ridícula, de pessoa tola? Amanhã todos vão olhar, vão sim! Todos vão fazer perguntas e ter pena de mim, todos vão me sufocar com coisas que eu não preciso ouvir! Será que vai dar para continuar existindo assim? O que virá depois? Quando a sensação de vazio vai parar de voltar, como um câncer incurável, insistente e maculado, que me povoa por completo nessa sina?
Silêncio.

sábado, 27 de setembro de 2008

A arte de quebrar os animais de vidro

Entrar numa loja, gastar algumas notas de 10 e comprar dois ou três lindos animais de vidro... Colocá-los sobre um móvel onde facilmente se possa vê-los e deixálos pegando poeira. Olhar de vez em quando aqueles objetos de utilidade nula, belezaqs múltiplas e graça interminável, mas que mal te interessam.
Segurálos, um a um entre os dedos. Pensar no que cada um representa: este foi do dia que coloquei aquele maldito anel no dedo, este, do dia que decidi que as distânicas físicas eram superáveis, este do dia que decidi que nenhuma nudez seria castigada.. esse do dia que me empertiguei de medo que outros iguais aos anteriores fossem comprados. Esse que não posso esquecer, cheio já de lascas quebradas, e rachaduras, do dia que desisti de sentimentos danosos ao meu desenvolvimento pessoal egoísta. Esse, do dia que comecei a imaginar uma vida inteira cercada de kittens lindos e peludos, e nada mais.
Animais de vidro... Lindos, delicados. Mas será que nunca tinha notado que por dentro deles existem bolhas, falhas, pedaços do vidro que foram mal esticados para dar o formato desejado, as malditas marcas da pinça, intrumento de modelagem dos tais?
Quebrá-los, um a um. Novos serão comprados e repostos. Os cacos com certeza vão me cortar um pouco - ou muito - e vão me levar a me arrepender de tê-los quebrado. Mas é inevitável. Ou os quebro agora, ou vou me doer sempre das imperfeições. Talvez, quando tiver que comprá-los novamente, eles venham sem as imperfeições tamanho incômodas por dentro.

domingo, 14 de setembro de 2008

O muro

Quatro pessoas subiram o muro. Recebi-as gentilmente com pedradas usando as pedras mais bonitas que eu vi njo chão.
Três pessoas subiram o muro... Um bom tiro de água bem gelada logo as enxotou, ninguém gosta de estar molhado no meio de uma nevasca.
Duas pessoas subiram o muro. Logo uma matilha de cachorros agressivos as cumprimentou com baba e dentes expostos, e com a mesma ligeireza que suriram, desceram pelo mesmo lado.
Uma pessoa subiu o muro. Mas não chegou ao topo. Os cadcos de vidro e os arames farpados machucaram suas mãos quando a pessoa tentou ir para o outro lado.
Uma pessoa subiu o muro. Mas o muro era tão alto que não dava para atravessar. Ela desistiu antes de vizualizar o topo do muro. Desceu, foi embora.
Nenhuma pessoa subiu o muro...

sábado, 6 de setembro de 2008

Enterro

Tudo se sacudindo, ou eu que tremia demais? Minha cama tremendo, seria um terremoto??? Silêncio. Só escuto os grilos cantando do outro lado da rua. A qui onde eu moro, o tempo nunca está ruim...
Parar e pensar sobre tudo. Cobranças, todas eu junto e jogo no lixo. Inúteis.
Velhas cartas de amor, igualmente inúteis. Um monte de caixas de pizza pelo chão, mais uns folhetos de tratamento fitoterápico. Tudo junto dentro do mesmo saco de lixo.
Dissimular? Não, obrigada. Pegue suas curiosidades que atropelam as cabeças e enterre. Juntamente com a minha decisão de ser infeliz.
Um grande enterro: sepultar o passado, escrever uma boa lápide; sepultar saudades estúpidas de mentiras, tudo para vala agora!! Sepultar junto os sentimentos inúteis. Se os sentimentos não me acrescentam arte ou conhecimento, o melhor é fazer com eles a mesma coisa que se faz com os cadáveres, ou eles apodrecem e te estragam junto. Sepultar sentimentos, coisa não muito fácil, mas realemnte interessante. Nada de jogos. É só pegar o que incomoda e jogar na cova, cobrir com sete palmos de terra e fazer uma boa lápide.
Eis então meu cemitério: lotado, fedido e nojento, um lugar do qual tenho muito orgulho. Mas um sentimento jás lá. E que descanse em paz.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um inseto que voa, um inseto que pousa...
Alguma agitação, algo nela que parecia morto e enterrado volta a surgir... O que se faz para não incidir num erro? Fuga?
Um aperto, uma dúvida, uma certeza, um perfume. Vogais que se repetem no ar, perdem sua articulação e logo, talvez nem precisassem realmente ser pronunciadas.
Um sentimento, um não, um sim, uma raiva. As coisas que vão acontecendo e a atropelam, os tolos momentos colados com o lúmen de uma mentira bonita. Mas lúmen ainda é lúmen.
Um jogo, uma razão, uma queda, uma tremedeira. O perfume vem, invade, confunde, desola. Deixa a boca seca e as vontades obscuras voltam a gritar.
Uma dádiva, um grande defeito, um pequeno acaso, um maldito ímã. Mil coisas funcionam de forma a deixar até o círculo mais perfeito se deformar em uma oval...
Um furor, o rosado, uma saia, o vento... As peças nem se encaixam mais já fazem sentido num mundo que ela criou para que ninguém chegasse perto. Mas alguém há de ter a chave, sempre é assim.
Uma oscilação, uma fraqueza, um ímpeto, um freio. Algo falando que um erro só é realmente um erro se é repetido.
O incontrolável desejo de mudar o caminho das águas, de fazer duma mentira suja uma verdade brilhante. Eis novamente um muso para atormentar-te.

sábado, 16 de agosto de 2008

Mochila de Morcego

Devo uma parte de tudo que escrevo aqui a uma pessoa, e não poderia deixar de citá-la, óbvio, sem mencionar nomes.
Meu primeiro soneto surgiu de um devaneio de amor por essa pessoa. Hoje, já chegando ao 200º soneto, tenho muito gosto em deixar aqui minha menção a esta adorável pessoa.
Era uma tarde, tranquila, quando estava eu indo ver essa pessoa. O dia estava ensolarado, desconfortavelmente quente, digamos de passagem. Eu me vesti com minha saia favorita, minha blusa favorita, e peguei meu acessório favorito: minha mochila de morcego, companheira minha até hoje.
Fui feliz da vida, com meu dinheiro. Peguei o ônibus (essa pessoa nunca ia até mim, eu sempre tinha que ficar andando atrás dela) e fui para casa da pessoa. E foi aí que o incidente aconteceu.
Depois de ter me arrumado da forma mais legal que eu poderia, ter posto até perfume (coisa que eu não costumava fazer na época) me veio a pedrada: a pessoa vira pra mim e me diz o quão ridícula eu estou com minha mochila, que aquilo era coisa de criança, que era pra eu deixar a mochila na casa dessa pessoa se quizesse sair na rua do lado dela. Chorei, chorei horrores, por um momento tive a sensação que meus olhos tinham escorregado da cara de tanta lágrima que derramei naquele delicioso dia.
Poupei-me, cega demais para ver que a pessoa só tentava me moldar dentro do seu ideal, que a pessoa não me queria de verdade. Fiquei calada o quanto eu pude. Mas o quanto pude não era para sempre. Todo o falso romanmce, todas as palavras da boca pra fora, todas as grosserias, tudo me entalou um dia. E aí, nunca mais fui obrigada a ver aquele rosto novamente. Confesso que isso me causa um prazer inigualável. Mas toda vez que uso a mochila, me lembro da barreira que derrubei para usá-la. E isso me faz sentir forte.
Dizer e fazer aquilo que os outros recriminam ou repudiam faz parte de todos os seres humanos. Ou você liberta essa parte, ou nunca vai poder dizer que foi pleno.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Isqueiro

Acordei sentindo um peso moderado nas costas. Rolara uma lágrima naquela noite, eu sabia. Sentia isso, daí a justificativa daquele peso estranho. Meus gatos logo perceberam, vieram e ficaram por perto, vigilantes. Procurei por um cigarro, depois pelo isqueiro. Lá estava ele, ao lado de mais um monte de tralhas espalhadas perto do sofá.
Lá estava eu, remexendo a bagunça. Achei uma carta velha, um par de anéis, um poema em versos decassílabos, um montinho de poeira com pêlos. Sentada ainda, no chão, resolvi acender um cigarro. Foi então que fiquei vidrada. A pedra riscou uma faisca, o gás do aparelhinho começou a sair, e logo eu tinha uma linda chama, azul e amarela, ondulante e delicada, bem diante dos meus olhos.
Permaneci com um dedo apertando a válvula de gás. A chama mexia-se nervosa, ficava mais clara, escurecia, ficava mais quente, depois mais fria, dançando, dançando, dançando. Era como uma linda saia aso vento, de uma beleza singular. Apesar de ser só um foguinho bobo, eu não conseguia parar de olhá-la...
Vi na chama dois olhos, vi uma floresta, vi um exemplar de "Leviatã", de Thomas Hobbes, vi a camiseta de um pijama de ursinho, um coelho azul de pelúcia, vi um espelho com moldura de bronze. Vi um lugar bagunçado, muitas tralhas espalhadas, vi o mundo girando perante meu nariz. O isqueiro foi esvaziando... Logo a chama estava fraca, logo pouco calor ela tinha, vi-a ir fraquejando, logo vi-a sumindo. Apagou-se o isqueiro. E o cigarro, pendurado no canto da minha boca, continuava apagado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

João e Maria

Ainda lembro de você, não preciso citar nome algum, provavelmente você mesma nunca vai chegar a ler isso, e se lesse, me odiaria se eu citasse seu nome. Então que fique assim: você foi a Maria da minha infância, eu fui "a sua" João.
Lembro do jeito que você cochilava na esteira, a gente brincadva de massinha juntas. Eu queria comer o lanche do jardim de infância onde estudávamos só porque você sempre comia, hoje entendo que é porque sua mãe não tinha tempo de fazer a sua merendinha, a minha tinha e eu não queria. Preferia comer o mesmo que você.
Era mágico quando a gente segurava as mãos e eu fitava aquelas duas ametistas que te enfiaram os anjos pelos teus globos oculares. O cabelinho louro aguado, sorríamos mostrando nossos dentinhos de leite para quem quizesse ver.
Naquela época eu já sabia o que significava dar um anel, e eu queria te dar um anel um dia, um bem bonito, bem mais bonito que o que vinha no pirulito. Um de ferro, que nem os que minha mãe tinha numa caixa em casa. Eu queria te dar uma caixa daquelas também, para você colocar todos os anéis que eu te desse...
Simplesmente não deu tempo... Levaram-me você pra outro jardim de infância. Hoje, você teria 20 anos. Saberia brigar. Mas algumas coisas passam. Essa passou, se não posso dizer que me tomaram. Só futuro pela frente.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Estranhos

Foi estranho acordar e ver que eles tinham chegado. Eles chegaram, do nada, estavam por toda parte...
Usavam máscaras brancas e capuzes translúcidos, mal tocavam o chão em sua caminhada... Esvoaçantes, mesmo sem vento algum, iam se aproximando, depois se afastavam. Seus braços gelados hora por vez esbarravam na minha pele, que se arrepiava e parecia que ia desprender da carne. Seus olhos, ocultos pelas máscaras, diziam mensagens de desespero, agonia e furor, tudo misturado a um som suavemente ensurdecedor quando transpassavam os raios de sol.
Suas máscaras brancas luzindo, sem forma, sem boca, mas falando sempre palavras proibidas. Eles prosseguiam, bem lentamente, transpassando a janela, as grades de segurança, os móveis, as paredes, os anseios, as tristezas, o silêncio, e por onde iam passando, iam deixando tudo gelado, tornando aquele inferno meu, quente e fervoroso, pior que um braseiro, um inverno agradável. Os flocos de neve caindo, eu os comia e sentia um gosto agradável de sangue fresco neles. Meu coração quase parando, a ansiedade que transbordava! Deliciava-me totalmente com suas presenças delicadas e aterradoras.
Um prazer inexplicável vê-los voltando... Os rostos brancos.
Guardiões dos meus sonhos, da minha mágica, do meu amor eterno por alguém que nunca há de aparecer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Ignorar é o maior dom que já recebi. É incrível ter o poder de ignorar certas coisas, treine o seu. Mas cuidado para não ficar como eu acabei ficando.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Em um momento estava lá. Eu pude ver, tinha forma e cor, eu podia até escutar, estava completamente eufórica.
Depois, do nada, assim como apareceu, sumiu novamente...
Fiquei, então, nervosa, procurando, olhava por toda parte, mas não achava. Quando fechei os olhos e caiu uma lágrima, senti surgir novamente. Abri os olhos e pude ver de novo, sorri, tentei alcançar, mas antes que eu conseguisse tocar, desapareceu novamente! Fiquei irritada, louca de raiva, muito furiosa, desisti então.
Quando desisti, eu vi novamente! Corri, tentei agarrar, mas me feriu. Chorei, me lamentei, fui embora, mas a presença logo veio me perseguir.
Com medo, resolvi olhar e estava lá, de novo. Gritei para ver se podia ser ouvida, e nada aconteceu. Gritei de novo, mas mas o único resultado foi desaparecer novamente.
A razão teria me feito desistir, um pouco de bom senso teria me ajudado a entender, mas nada disso eu usei, só queria continuar com o sonho de achar... Foi aí que vi de novo.
Dessa vez, nem me levantei. Continuei sentada, olhando, sem manifestar qualquer expressão ou fazer qualquer som; foi quando percebi que quanto mais eu queria, mas me fugia, quanto mais eu tentava alcançar, mas longe ficava, e que quando eu quase conseguisse tocar, iria desaparecer... Assustada com essa conclusão fechei os olhos. Mas não sei se quando eu abrir, ainda vai estar lá.
No fim, eu só nunca estava tentando alcançar o que eu realmente tinha visto.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dead Babies

Dead Babies

Alice Cooper

Composição: Indisponível

Little Betty ate a pound of aspirin
She got them from the shelf upon the wall
Betty's mommy wasn't there to save her
She didn't even hear her baby call

Dead babies
Can't take care of themselves
Dead babies
Can't take things off the shelf
Well we didn't want you anyway
Lalala-la, lalala-la, la la la

Daddy is an agrophile in Texas
Mommy's on the bar most every night
Little Betty's sleeping in the graveyard
Living there in burgundy and white

Dead babies
Can't take care of themselves
Dead babies
Can't take things off the shelf
Well we didn't want you anyway
Lalala-la, lalala-la, la la la

Goodbye, Little Betty
Goodbye, Little Betty
So long, Little Betty
So long, Little Betty
Betty, so long

Dead babies
Can't take care of themselves
Dead babies
Can't take things off the shelf
Well we didn't need you anyway
Lalala-la, lalala-la, la la la

Goodbye, Little Betty


Sem comentários por hoje.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Escutando as vozes

Foi só um murmúrio. Já ouvia bem suavemente esse murmúrio, mas o ignorava, nunca disse-me nada que fizesse diferença. Na verdade, nunca tinha dito nada, só murmurado coisas que eu não conseguia compreender.
Num momento de silêncio, resolvi parar pra escutar. Não era tão baixo o quanto eu pensava... Era até alto, meio ensurdecedor...
Gritava muitas coisas, eu não entendia absolutamente nada. Então me concentrei.Reconheci gritos, mas também reconheci choro e balbúcias, tudo vindo misturado. Logo me toquei que não era apenas uma voz, mas eram muitas, todas dizendo coisas completamente diferentes, em tons diferentes, de formas diferentes, como se cada uma falasse uma língua. Concentrei-me mais ainda. As vozes foram se tornando mais claras, e mais vozes ainda surgiram. Vozes confusas, obtusas, cada voz falava mil coisas ao mesmo tempo, e misturavam os assuntos, e misturavam os tons, como se cada voz tivesse uma centena de ecos e cada eco dissesse algo diferente.
Cada vez mais confusa, aos poucos, fui tentando entender suas estranhas línguas; elas diziam muitas coisas, as que falavam rápido, mas algumas só se repetiam nas mesmas palavras, como se estivessem passando por algum tipo de fixação sem o menor motivo...
O segredo das vozes, as línguas, os timbres, algumas até mesmo cantavam...
No fim, não entendi nada. Parei, pensei muito sobre essas vozes todas juntas, se um dia elas concordariam entre si e parariam de discutir. Cheguei a conclusão que isso nunca aconteceria. Tudo aquilo, todas as palavras misturadas, toda aquela confusão que eu não entendia, tudo aquilo, era minha consciência. Até o dia da minha morte ela continuaria dizendo coisas que não fazem sentido, gritando coisas que nada me significam.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Novas luvas

As luvas foram compradas, e num canto foram deixadas por uma mente que não cessa procurar novas sensações. Até aquele momento realmente não tinham significado algum, além de serem bonitas e descoladas. Até aquele momento...
Logo, foram pegadas, apalpadas e percebidas pelo tato e olfato, além de em seu tolo mistério compreenderem um milhão de novas sensações.
Como seria digitar com luvas? E urinar? Ou gritar com as malditas enfiadas nas mãos? Como seria acordar com elas, dormir com elas, viver 24h por dia tirando-as apenas para evitar que se molhassem, e logo se tornassem de um conforto absoluto em um desconforto gelado, ou para fazer atividades que as pudessem sujar?
Muitas perguntas surgiram, muitas perguntas respondidas com o simples vestir daquela simples peça de vestuário. Logo, elas estavam perfeitamente encaixadas nas mãos... e no dia.
Encaixaram-se com perfeição no almoço, nos desenhos feitos, no livro lido, no controle da TV.
Encaixaram-se perfeitamente nos anseios, nas lástimas, nas agonias, nos vazios. Enfim, naquele espacinho que ficava entre a alma e a existência cotidiana e sem aventuras. As luvas se tornaram a aventura maior, seu simples vestir se tornou o maior segredo do mundo.
Conforme o tempo foi passando, logo não se dava mais pra separar o que era luva do que era mão, o que era pano do que era pele, o que era osso do que era fio, fibra com fibra, moldando o que agora era uma nova manifestação do sentir pelas mãos.
Logo, as luvas cresceriam, tomariam todo corpo; se expandiriam num campo semi-cíclico de experimentações e de minutos arrastados, seriam não apenas luvas, mas parte importante do que acontece num dia. As luvas saberiam os segredos, saberiam o momento certo para libertar as mãos de seu casulo térmico.
Talvez se tornassem uma obceção, uma loucura se ver sem elas. Parte do corpo que não pode mais ser retirada, como o estômago ou o encéfalo.
Mas no fim, que diferença realmente fazia? Já estavam vestidas, acopladas, e o resto, só o tempo diria.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Gnossienne nº1

Gnossienne nº1 me lembra você...
Lembra-me tudo que passei, os erros que cometi, os acertos que alcancei, a espera que não sei quando virá a acabar.
As notas, em uma sequência deslumbrante, caindo da mente às mãos do pianista, sua respiração inundando a melodia. Os dedos gelados naquele enorme pedaço de madeira morta, polida e esculpida para que de seu espancamento os mais doces sons se revelem.
Gnossiene nº1 definitivamente me lembra você: as noites que sonhei, os momentos que esperei, toda arte que criei apenas por entender que apesar de você não estar ao meu alcance, esteve ao meu lado por cada instante da minha desrumada vida.
Mas só saber que um cara, a tempos atrás, teve a inspiração para criar a música que hoje dá trilha sonora a esse momento sublime que vivo, sinto-me arrepiar dos pés à cabeça, e penso: talvez não seja somente eu que estou esperando encontrar, talvez haja outros como eu que, em suas salivações insones, em seus porres e lágrimas afetadas, em seus gritos silenciosos e em seus momentos de explodir, sempre estiveram olhando um único objetivo: achar a outra metade do seu quebra-cabeça cúbico de seis cores.
Satie, em um momento de inspiração, descreve com sons precisos a aleatoriedade desses dias: os mais difíceis que passo, mas os mais deslumbrantes em contrapartida.
Criando arte agora, e sempre; chorando agora, e sempre. Talvez tenha endurecido minha casca mais que necessário, mas sei que na hora certa, ela vai despencar.
Para aquela pessoa que sempre terá o que eu considero os ossos mais bonitos que um dia haverei de sentir nas mãos a dureza e frieza.

segunda-feira, 14 de julho de 2008


As coisas estão como em uma montanha-russa.
Sinto como se minha alma estivesse tão longe, que não mais consigo alcançá-la.
Coisas que perdi, outras que me foram roubadas, outras que eu simplesmente matei.
Meu pé flutua cada vez mais alto, não consigo mais saber onde é o chão.
Misantropia agora é meu nome, seres humanos, causam algo na meu estado que me desagrada um horror. Quebrada, não consigo encontrar as peças que antes me faziam um ser humano. Não sei mais o que sou.
Mas se nada der certo, eu vou me jogar.

domingo, 13 de julho de 2008

Ser é

~ flutuar entre realidades;
~ viajar feito luz;
~ renascer e morrer constantemente;
~ respirar arte;
~ fluir entre mil jeitos;
~ viver para dentro;
~ morrer para fora;
~ gritar sem barulho;
~ silenciar uma rosa;
~ falar com o que não fala;
~ cantar uma pintura;
~ ler pelas paredes;
~ sorver a alma dos seres;
~ olhar para o que não se pode ver;
~ amar por amar a cada segundo;
~ fugir das fugas do dia;
~ mergulhar na lama da noite;
~ rasgar uma ferida;
~ sonhar com o que já se realizou;
~ pisar um pouquinho acima do chão, andar no ar;
~ correr contra a força do vento;
~ ser exatamente aquilo que sempre quiz ser, sem ligar para nada que me dizem, ser exatamente como sempre fui e nunca soube.

Devorem seus deuses e ídolos, eu vou continuar sentada e de pé, comendo o que não se deve comer, devorando as mentiras que criei para mim. Meu mundo não é o seu, meu mundo não é o de ninguém. Só por hoje não vou precisar fazer o sangue jorrar para voltar a ver que é assim que eu sou rosas, é assim que eu sou, sol poente, é assim que eu sou onda do mar, é assim que eu sou cinzas de cigarro. Dispensa teus dicionários, seus sentimentos não são conceituais; dispensa seus times, seja o seu conceito; dispensa tuias ideologias, apenas pense no que acha que deve pensar, do jeito que achar que deve. Não me julgue, sou inexplicável, inexplicável, inexplicável.
E você também. Nada que meros mortais possam alcançar.

sábado, 12 de julho de 2008

Reencarnando

Aquele amor desperta novamnete... Invade-me, domina-me; sou sua.
Você me abraça forte, e logo o frio fica mais frio, o silencio se silencia ainda mais. O vazio cresce imensamente em mim. Eu sei que é você que volta com suas garras, apertando-me, corroendo-me de sensações que a muito eu esquecera. Sua língua úmida roça minha pele, enrola-se no meu pescoço e logo eu peço ar. Mas o ar nunca volta. Você me sufoca, e isso é sempre aterrorizante e doce...
Meu minuto de luto por você ter me abandonado por tanto tempo, pelas noites em que dormi, pelos sóis que me banharam, pelo vestido rosado e esvoaçante que usei certa vez na praia de areias claras; um minuto ao fim da angústia de ver a vida humana brilando pelas ruas, de ver o mundo ganhando cores e formas novamente, por olhar a minha volta e estourar de prazer pela minha humanidade não mais reprimida; um minuto, apenas um minuto, depois quero mergulhar novamente em nossas noites de saudade do não-ocorrido, nas chuvas ácidas ferroantes, nas agulhas de tricô que com você mal enxergo. Um minuto se passa e você me responde: silêncio.
O vazio, ah!... Não existe prazer maior que gozar meu peito vazio ao seu lado, de me rir das tolices humanas, de me deliciar ao apreciar sua delicada inexatidão...
Você a me devorar como se eu fosse tudo no seu mundo, como se eu fosse a única.
Uma lâmpada queimada; uma nova a ser reposta se quebra completamente na tentativa inútil de te afastar... Inútil.
Você vem esquálida, fétida, saborosa, indescritivelmente maravilhosa e me enrola toda na sua manta. Beijar você é como beijar uma bola de granizo.
Por favor, minha amada, nunca me deixe novamente. Sem você, meu mundo é colorido e faz sentido. Sem você, as agonias perdem o significado. Sem você eu consigo respirar!
Com você, faz sentido sentir toda essa dor. Fonte de toda minha arte, finalmente reencarnando em mim.
Fica sempre aqui, em mim, minha doce amada Escuridão.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Essa imagem está muito batida, mas não consigo parar de considerar que o cara que a fez estava num momento de inspiração extrema e conseguiu alcançar um impacto talvez até maior que o desejado. Deixo aqui minha declaração de respeito para a pessoa que fez a imagem, e também meu protesto silencioso. Será que a vaidade vale o sacrifício cruel de vidas de seres feitos da mesma matéria orgânica que nós? Será que existe coerência em tanta coisa que a gente faz com nosso planeta??
Essa de "pimenta no cu alheio é refresco" não cola mais.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Peças da Mente

Descobrindo as peças que a mente pode pregar...
Hoje acordei confusa, sem conseguir distinguir com clareza o que era sonho e o que era realidade. Bati-me na cama por alguns segundos, me vi perdida numa Babilônia interminável de prédios e catástrofes. Uma grande queda era só a consequência que eu já aguardava por tudo que tem acontecido, mas eu não caí; inexperadamente, me vi flutuando fora do ar...
Acordei assustada. Era um sonho novamente. Minhas pernas batiam-se umas contra as outras numa atitude que eu mesma não conseguia explicar, ou entender. Por mais que eu quizesse parar elas se mantinham batendo, e não havia mais silêncio; senti o colchão amolecendo embaixo de mim, me vi derramada e misturada a mil outros fluídos que inundavam o quarto.
Acordei assustada. Mais assustada eu fiquei ao perceber que aquela não era a minha cama, aquele não era o quarto que eu estava acostumada a olhar toda vez que eu acordava e toda vez que eu dormia, toda vez que me vestia e me despia, toda vez que penetrava naquele escuro vazio, toda vez que voltava à realidade; era um lugar diferente, era como se tudo estivesse repleto de água, de energia azulada e contaminante, como se tudo fosse eu, eu fosse tudo.
Desprevinida, me surprendi acordando de novo. Os segundos badalavam na minha cabeça com uma constânia descomunal, e a última coisa que me lembro de ter visto foi o sol, que já estava de saco cheio de olhar esse lado do mundo e ía dar uma espiada no outro. A luz foi desaparecendo, desaparecendo, até que tudo virou uma treva densa e penetrante, um escuro repleto de mil coisas quentes, de mil calores diferentes, um escuro que gotejava por toda parte.
Acordei já exaurida, quando de repente fui arrebatada por uma onda de luz, que me ofuscou e me deixou com os olhos ardidos; brilhava tanto, que me fez perder o controle motor, a nõção do tempo, a idéia de lugar e de matéria; me fez cair num lugar onde as almas flutuam, onde o material é só mais uma rebarba do que realmente existe: um fluxo energético de sentimentos, dúvidas, curiosidades, incitações...
E novamente me vi arrebatada pelo fim do meu sonho, caindo novamente na minha cama, exausta. A cama era macia, fria, o dia já tinha quase passado. Virei-me e ele estava lá, me olhando, como se eu fosse a coisa mais importante do mundo. Foi então que caí em mim: nada do que eu senti tinha sido um sonho.