segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Claustrofobia

Uma parede - empurro um pouco para lá - e uma porta: só há uma saída. Enquanto isso, as quatro paredes se fecham com mais força. E vai ficando pequeno o ar, e falta espaço para esticar-me, e fica tão justo, que dá vontade de duplicar o lugar, e começo então a me debater. Jogo-me de um lado a outro, forçando as paredes para longe e empurrando-as com uma força que mesmo eu desconheço, e abre espaço. E mais coisas ali... E falta espaço de novo. 
Quanto mais debato-me, mas energias surgem, e menor o espaço vai ficando, e mais agoniante vai ficando, a sensação de claustrofobia sobre mim fazendo pressão para uma reação, e a tremedeira das mãos deixando-me ainda mais tensa.. Uma pergunta se perpetua no silêncio, em câmera lenta, e se choca contra a parede. Escorre pegajosa e mela o chão. E o chão vai ficando cada vez mais pegajoso. E cada vez mais força preciso. E cada vez mais energia preciso. E o ciclo está começando a exigir mais do que posso suportar. Quando o ar quase acaba, posso até fingir que ainda posso respirar, mas isso também exige esforço. Estou cansada. Batalha sem fim, o mundo brigando para apertar mais ainda...
Assim é a minha cabeça. Talvez eu precise de outra maior, ou outra para usar junto com essa.

...

- Onde estará?
Estava ali! E ali não vejo
nem estimo
onde há de estar 
nem um gracejo
nem o olhar
nem a casca de um percevejo
deixou no lugar
Sumiu! Onde pode estar?
Vaporizou discreta
desmontando um castelo
e levando o belo
em linha reta
desmontando o altar
retesando a esfera
que havia de deixar
e represando 
arredia
todo ganho
vadiando
arrastando o ar.
Por onde andaria?
Porque não deixou
nem pedra
nem aspereza
nem o aipo
que outrora
levou a mesa
nem graça, metástase, alteza
nem vontade.
Andaria na noite?
Arrepiando os montes,
procuro e nada
procuro numa vereda
remexo na varanda
ao menos haveria
de haver
um sinal.
Procurei ardendo
uma fúria crescia
uma ira arrepiada
mas estava perdida,
perdida de estar.
- E eu te digo:

Essa é a pergunta
que há de morrer
na tua barriga
que na tua espera
há de gritar
e a voz apertada vai passar batida
e a ferida que deixa
não vai fechar
Pois sou essa coisa bandida
que te suga a vida
e te faz amar
e te cresce na esperança
e te carece na espera
e quando menos puder imaginar
já passei desapercebida
levando a esperança
a esperteza
e a confiança
e deixando na ruína
toda a tua sina
de me querer e eu não te amar!

domingo, 24 de janeiro de 2010

E se...

... ele falhar?


Fica esse chove-não-molha, esse blablabla, essas babaquicezinhas, e eu sei lá porque... É minha culpa, não devia ter sido sincera, devia ter mentido, fingido, enganado e sacaneado. Aí eu me dava bem. Aí as coisas boas aconteciam. Ou melhor, elas continuariam acontecendo. Fica a lição. Chance? Espera sentado. Deixa-me quieta, no meu canto, que isso passa. E se ele falhar, se ele parar de funcionar, esperem sentados pelo sinal de fumaça avisando. Ninguém, nenhum de vocês vai nem saber. Ninguém vai pôr flores. Ninguém vai jogar droga de terra nenhuma. Não verão nem os ossos. Não vão segurar em droga de alça nenhuma. Esperem sentados. Melhor, deitados.Foda-se.