segunda-feira, 23 de maio de 2011

Conto: O Mestre das Bonecas

O mestre das Bonecas caminhou pelo meio de seu escuro laboratório à procura da boneca mais bonita. Cada uma tinha um olhar diferente, cada uma o levava a sonhar com um futuro distinto; e como sua cina, ele as pôs todas, de pé, a dançar, a procura da perfeita.
E lá estava ela: o vestidinho manchado de poeira, a boneca usada de porcelana, com graxa na beirada do vestido e o nos olhos o mistério do mundo. E ele pôs-se a dançar com ela, em sua dancinha alucinada, e logo ele a tomou nas mãos. E de perto ele viu suas rachaduras,  e em seus movimentos alucinados, derrubou a boneca no chão. Seu doce rosto sujo despedaçou-se completamente e os cacos se espalharam pela sala em meio à dança alucinada das outras bonecas que, silenciosas, se mexiam e apreciavam toda com espanto. E o Mestre das Bonecas seguiu dançando, pisando os cacos, até que mais nada dela ali sobrasse. E foi então que ele se deu conta do que fizera. Ele se ajoelhou no vestidinho e chorou. Recolhidos os resquícios do que fora a boneca mais bonita ele lamentou cada segundo alucidado, mas nada, nada mais restara dela. A poeira foi atirada ao vento e a roupinha ele despedaçou, furioso. A trança única de cabelos escuros ele segurou entre os dedos, apertou. Depois picou e queimou. Libertou as cinzas junto com o resto, pela janela, ao vento. 
E jamais voltou àquele lugar.


As cinzas circularam no vento, indecisas, e foram levadas pela chuva. E o fantasma da boneca seguiu dançando, nunca parou. E hoje ele dança nos velhos sonhos do grandioso Mestre das Bonecas, o único, o especial, o sublime. O sozinho.