sábado, 4 de outubro de 2008

A sensação absurda de nada, às vezes, chega a tamanho insustentável extremo, que de qualquer jeito é preciso que seja preenchida.
Um arrepio na pele, uma busca ansiosa entre as roupas íntimas de algodão, os lenços, e nada. Ela se prorroga, e persiste em outros espaços, por toda casa, até que, depois de tudo revirado, finalmente o objeto tão desejado é encontrado.
Onde está o corpo? Onde está o ser? Nada, nada dá para encontrar no meio daquele caos imundo, daquela baixeza, daquele monte de lixo, amontoado, liberando sucos de uma repulsiva fermentação.
E surge uma perna... O deleite, o alívio, o objeto funcionando a todo vapor, as mãos tremendo, e o sangue jorra com uma delicadeza, lavando mágoas, emporcalhando o chão e arrastando aquilo que incomoda. Então vem a paz... Não existe mais vazio, ele está completamente preenchido com a dor física, a sensação de ter um corpo, a sensação de não ser só mais uma manifestação vapórica no ar.
Respiração, choro. A tremedeira então piora e vem nova agonia: como fazer para sair daqui amanhã, como vou mostrar minha cara de pessoa errada e ridícula, de pessoa tola? Amanhã todos vão olhar, vão sim! Todos vão fazer perguntas e ter pena de mim, todos vão me sufocar com coisas que eu não preciso ouvir! Será que vai dar para continuar existindo assim? O que virá depois? Quando a sensação de vazio vai parar de voltar, como um câncer incurável, insistente e maculado, que me povoa por completo nessa sina?
Silêncio.