sábado, 27 de setembro de 2008

A arte de quebrar os animais de vidro

Entrar numa loja, gastar algumas notas de 10 e comprar dois ou três lindos animais de vidro... Colocá-los sobre um móvel onde facilmente se possa vê-los e deixálos pegando poeira. Olhar de vez em quando aqueles objetos de utilidade nula, belezaqs múltiplas e graça interminável, mas que mal te interessam.
Segurálos, um a um entre os dedos. Pensar no que cada um representa: este foi do dia que coloquei aquele maldito anel no dedo, este, do dia que decidi que as distânicas físicas eram superáveis, este do dia que decidi que nenhuma nudez seria castigada.. esse do dia que me empertiguei de medo que outros iguais aos anteriores fossem comprados. Esse que não posso esquecer, cheio já de lascas quebradas, e rachaduras, do dia que desisti de sentimentos danosos ao meu desenvolvimento pessoal egoísta. Esse, do dia que comecei a imaginar uma vida inteira cercada de kittens lindos e peludos, e nada mais.
Animais de vidro... Lindos, delicados. Mas será que nunca tinha notado que por dentro deles existem bolhas, falhas, pedaços do vidro que foram mal esticados para dar o formato desejado, as malditas marcas da pinça, intrumento de modelagem dos tais?
Quebrá-los, um a um. Novos serão comprados e repostos. Os cacos com certeza vão me cortar um pouco - ou muito - e vão me levar a me arrepender de tê-los quebrado. Mas é inevitável. Ou os quebro agora, ou vou me doer sempre das imperfeições. Talvez, quando tiver que comprá-los novamente, eles venham sem as imperfeições tamanho incômodas por dentro.