segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Bala - cont.

A bala corria úmida no ar. Atravessou o limite da janela, estava em novo território. Estava áspera, morna, descontrolada e tonta. Caiu na varanda próxima, rolou um pouco no chão e ficou inerte.
O calor se desfazia no ar, era levado pela brisa suave que cismou de passar. Mal esfriou, perdeu a vida.
A bala morta, jogada, deprimida da própria morte... Logo foi aos lábios de um incrédulo, derreteu na boca deste, saborosa e adocicada. Virou caramelo, desceu líquida pela garganta, e começou a ser digerida. Ainda cheirava a sangue, e rapidamente esquentou novamente; ficou viva!
Balançou um pouco, encontrou o caminho da luz num jorro quente. E desceu feliz pela privada.

domingo, 17 de maio de 2009

A Bala

Foi um tiro no escuro. Ela girou a roleta russa tão rápido que ficou tonta... Olhou tambor numa velocidade alucinante, vibrou com a sensação da dúvida, e convencida da sua decisão, disparou o revolver 38 quatro vezes na direção da própria boca. As quinta e sexta vez não disparou. Seu corpo não mexia mais.
O estrondo no quarto fez as paredes vibrarem.Os que estavam no quarto, esperando suas vezes de tocar no ferro frio, gelaram. Gelaram tanto que ficaram mais frios que o ferro. O suco vermelho espirrou na cara de um deles, que nem ao menos conseguiu gritar. Deu esperanças para quem esperava que a brincadeira perigosa terminasse. Em vão.
A bala não derreteu na boca. Não era um caramelo, tinha gosto de pólvora, mas não deu tempo de sentir gosto algum. Ela rompeu o céu da boca, e o tecido macio que preenchia toda cabeça, finalizando cm sua saída, e junto dela, pedaços rubros pegajosos. Era o fim.
Os que estavam na sala correram para o quarto. Das quatro pessoas, três estavam geladas. Apenas uma quente, jorrando valvularmente da cabeça, ainda tinha algum calor no corpo. Era uma tragédia, uma tragédia medida e pré-meditada. Azar do mundo, mais um individuo caiu. A culpa era da pessoa que atirou contra si? Era do mundo mau? Era do azar? Era da teimosia, da adrenalina do momento? Não.
A culpa era da bala.