Ela e o espelho...
Ela impunha a caneta, como uma arma dela e dela mesma contra o mundo. Uma linha lânguida que desce macia sobre uma superfície rugosa. E o espelho a encara. É apenas ela e o espelho.
Pequenas partículas de grafite sobre o papel. Ela encara o espelho, encara o caminho que o pó cinzento percorre pela superfície brancosa. Só algo significativo dali sai quando não há harmonia, ou quando a harmonia se torna supre-real. Essas são as letras, as linhas, os arabescos, os pontos que lhe firmam o ser no conceito de realidade. Aquilo ali a diz viva.
Risco, logo existo.
Risco o arabesco tênue
entre a rugura armada
e a armadura.
Risco a reta contínua
entre a plena costa do ciano
e a lapela da camisa
como que rabisca naquela lisa
levedura prensada dos insanos.
E de pedaços de reta vou formando
a linha limítrofe entre a rinha sombria do ciso
o riso prostrado do retardado
e o friso do ponto.
Amor fora de sintonia
-
Quando eu quero sua atenção, você me dá um novo outro assunto
Se em um dia você me quis, com outra eu estava antes
Nosso amor sempre esteve fora de sintonia
...