segunda-feira, 12 de julho de 2010

Risco, logo existo

Ela e o espelho...
Ela impunha a caneta, como uma arma dela e dela mesma contra o mundo. Uma linha lânguida que desce macia sobre uma superfície rugosa. E o espelho a encara. É apenas ela e o espelho.
Pequenas partículas de grafite sobre o papel. Ela encara o espelho, encara o caminho que o pó cinzento percorre pela superfície brancosa. Só algo significativo dali sai quando não há harmonia, ou quando a harmonia se torna supre-real. Essas são as letras, as linhas, os arabescos, os pontos que lhe firmam o ser no conceito de realidade. Aquilo ali a diz viva. 


Risco, logo existo.
Risco o arabesco tênue
entre a rugura armada
e a armadura.
Risco a reta contínua
entre a plena costa do ciano
e a lapela da camisa
como que rabisca naquela lisa
levedura prensada dos insanos.
E de pedaços de reta vou formando
a linha limítrofe entre a rinha sombria do ciso
o riso prostrado do retardado
e o friso do ponto.

Coisas raras

Existem coisas que não acontecem toda hora.
Nascimento de albino.
Acidente de carrinho de supermercado.
Rompimento das barreiras do som.
Lilian pensar em compromisso sério.
Coisas acontecendo, e ninguém está olhando.
Sou a atriz principal do meu próprio filme:
sem diretor, sem pláteia, sem fãs.
Às vezes abandono realmente sucks.