segunda-feira, 19 de setembro de 2011

~

Ocorreu um caso
fruto do mais tenro acaso
desdobrado pelas circunstâncias mais mesquinhas
e recheado da verdade que tudo que dura tem
Um casório sem casados
um ajuntamento ilusúrio
um olhar permanecia
um desiluto criando novas raizes em matéria grossa.
E camada sobre camada, um desenho
um poema
uma sobrancela
um olhar despreocupado.
E os corpos tombando lado a lado à preguiça e ao ritmo
descompassado de uma tarde qualquer
que cisma terminar cedo demais.
E já haviam me dito os outros que,
no meio de tudo, talvez fosse isso
isso fosse o amor, talvez fosse isso
e eu comecei a acreditar ser.
E não havia o que não acreditar.
Isso deve ser amor, isso deve ser
essa sensação de pés que o chão não tocam
essa coisa simples de sorrir e agradecer um gracejo
com um beijo.
E ele disse "isso é, eu sei que é amor"
e segurou mãos firme,
e olhou pra frente o amanhecer nublar
e deixou o vento bater e se deixou ficar
mais uma tarde despreocupada.
Aquilo é, é óbvio que é amor
a permanência do gosto,
a plenitude do descompasso
e a sutileza da raiz.
E os corpos tombados lado a lado
destituídos de tempo
desiludidos dos falsos milagres
deslizando lentos
pra um lugarzinho pleno de eternidade.
Ela sabia, ele sabia
aquilo devia ser amor, era pra ser amor
era um vibrar comuto de desarmonizar
tudo ali do lado de fora da bolha
criando do nada uma luz desigual
derramando graças nos olhares dos desocupados.