Demônios são criaturas que não nos deixam dormir...
São célebres, fugazes, devoradores;
Abastados e trêmulos, nos fazer sorrir
Sagazes, chantagistas, violentos, nos devolvem as dores.
Demônios são coisas que flutuam em toda parte
São fluídos, pegajosos, deletérios
Demônios são seres de mistérios
Que endiabram e causam dor com arte.
Eles apunhalam, cercam, arrastam
pra lama, pro pano, pro leito,
a dama disfarçada, a mão no peito,
o olhar pueril que arrebata.
O caminhar confiante do respeitoso,
o deslizar sombrio do desvairido,
o rouxinar suave do instruído,
a fúria, o limo, a gama, o gozo.
O Limbo, o corte, o sangue, a morte
Vingança, egoísmo, comodidade e dor
A Troca, a volta, a redenção, o amor
Demência, inconsequência e tremor
Casados os pedaços, os demônios cintilam
Nos olhos dos que oscilam,
no peito dos que oscilam,
na boca dos que cintilam;
E na saliva, no berro, no suor, na lágrima,
saboreiam da criatura pisoteada o mesmo gosto
que o demônios que antes os pisou lambusou o rosto,
e que os infectou com agonia e lástima.