quinta-feira, 9 de julho de 2009

Intro

Ela olhou para todos os lados. A garganta ardia infernalmente, um grito preso; gemeu bestialmente um lamento de liberdade, arremessou as próprias mãos contra a mesa, o vidro grosso se partindo em pedaços, um deles bem definido em forma de punhal.
Seu olhar ardeu nele, depois ardeu na pessoa entre ela e a porta: uma atração fatal, o pescoço pedia a ponta. Ela o segurou, mal notou que uma parte da mão estava ferida. Um corte muito pequeno, mas tão fundo que o sangramento era torrencial, absurdo para o sangue que saia apenas de um talhinho no dedo mindinho.
dessa, mas dela mesma, a ponta luzindo sob a luz fria, em Um grito da pessoa, e a força mudou de direção. O vidro já não caminhava mais no ar na direçãodireção ao pulso. Sentiu a ponta tocar em si mesma, gemeu gostoso da dorzinha, e aí a porta abriu. Forçou mais, apenas um furinho até ser pega por um homem forte e o vidro se despender de sua mão, cair no chão e se tonar poeira daquilo que ela tanto queria. A primeira lágrima rolou em seu rosto. Se debateu, a porta aberta, movimentos tão fortes que quebraram o nariz do homem, e lhe feriram a bochecha; antes que tivesse tempo de correr, um segundo homem surgiu. Ainda dava, ainda era possível, era só lutar! Então, surgiu um terceiro homem. A segunda lágrima escorreu. Rendeu-se pela própria segurança. O pescoço sendo apertado para que as reações parassem, meio arrastada, meio carregada, ela ia sem fazer nenhuma forma para ir para a caixinha sem tampa.
Entrou pela porta de grade e recebeu três picadas no braço direito, uma bolinha na boca, e logo um sono devastador a devorou. Quando deitava e se ajeitava delicadamente, mãos a seguraram e amarraram braços e pernas nas extremidades da cama. A terceira lágrima escorreu. As vozes corriam.
Três vezes o sol nasceu e se pôs duas, até que as faixas fossem desamarradas; e mais 48 horas dela sem se mexer, sem comer, sem mal respirar, até que ela levantou. Mas estava morta. E morta continuaria pelas próximas quatro semanas. Ou era o que todos pensavam.

terça-feira, 7 de julho de 2009





Pedaços

Todos os farelos sem forma começaram a tomar seus lugares. Os restos de pipoca, as lágrimas, os livros, o sangue, a virada de cabeça, os ossos, o suspiro.
Estavam todos os farelos ali, já juntos, apenas esperando a hora de ir para seus lugares, mas voltemos ao começo.
Veja o fantasma sem forma movendo-se delgado pelas paredes, um fantasma sem sentido, um fantasma sem tato; veja toda a bagunça espalhada por toda parte que ele faz, os pedaços dos que ele quebrou, as lágrimas que ele arrancou de olhos alheios jogadas - e ele destruiu, como destruiu. Ele é um monstro.
De repente o fantasma começa a sentir pena de si mesmo, e inicia sua jornada de juntar os pedaços. Cata uma lágrima antiga, um jeito antigo de se coçar - talvez fosse a hora de ele escolher de vez ser um fantasma ou ter algo além de sua figura e de sua força burra. Cata os detalhes mínimos e delicados, cata tudo, cata além da casca; cata as miudezas das beiradas, a fúria do interior - cada uma das partes, e vai juntando tudo. Amontoa tudo num canto, trégua para suas vítimas, e começa a brincar de quebra-cabeça. Uma parte que vai ali, outra aqui, e tudo muito bem colado, cantinho com cantinho. Um vaso quebrado nunca será o mesmo, mas ainda é um vaso. Um fantasma nunca será um ser humano novamente, mas pode voltar a agir como um e a ser visto como tal. E assim o fantasma fez. E no fim, o que viu foi tão bonito que a moça que estava por trás do fantasma, por trás de todos os pedaços, olhou-se no espelho e se amou muito. Era tudo tão perfeito, mas ela sabia que o fantasma dormia dentro de si, que às vezes ele poderia voltar.
O fantasma era o medo de sofrer abandonada de novo, de ser ignorada de novo, de ser novamente deixada para trás; sua cola era voltar a buscar por seu maior sonho...
Tolice, sonhos estúpidos assim não se realizam. E agora, ela está frágil e de guarda baixa, pronta para ser destruída de novo por verdades que teima em não aceitar. O fantasma grita, pedaços já começam a cair... Ela vai quebrar de novo, ah, vai sim!, e depois vai aprender que merda de sonho nenhum presta quando só serve para fazer ela sofrer.
Ela só queria poder ser o fantasma agora mesmo, fazer a si mesma em pedaços, porque não vai conseguir suportar existir quando quem ela mais ama o fizer por ela.

Anéis

Eu o vejo em rostos alheios, tão distante de mim como se eu fosse um distímico; é tão doce, tão plácido, tão sacudido às vezes, que até chego a sentir saudade. Mas certas coisas ensinam que nem tudo é para todos, quem precisa sorrir quando se tem um amor?

Eles eram invisíveis, tão delicados que caiam no chão a qualquer movimento um pouco mais brusco, aí quebravam. E novamente estavam lá no dedo, os dois, em cada dedo, em cada mão, em cada um. Uma auréola tão discreta que a maioria nem percebia que estava lá, tão etérea quanto era-lhe possível. Às vezes, estava com tanta força, que arrepiava. Mas nunca tanto quanto deveria estar. Nunca tão forte quanto na mão do que não os via. Apenas ela via. E estava ficando fino.
Eles eram tão belos, que ela não conseguiria imaginar um substituto material para eles. Tão bem-feitos em prata, que apenas um ourives de exímio talento os fariam; eram duas pedras, uma em cada um, pequenas e brilhantes, uma verde, a outra vermelha, esse era o par. Brilhavam tanto, apesar de pequenas, que não poderiam ser reais. Ela as via em todos os locais onde o vermelho e o verde se completavam. Desenhos, slogans, lá estavam elas para ter alguma história - que estava só na cabeça dela - para ela se lembrar.
A prata tão bem polida assombrava, tamanho o seu espelhado; ela podia se ver refletida delicadamente no material, meio translúcida - pois aquela prata era quase mágica - e gostava de se olhar ali. Eram finíssimos cordões que se entrelaçavam para formar uma coroa de louros, as folhas arrumadas sem se espalharem demais, os ramos postos nos lugares certos.
Eram idênticos; no entanto, na mão de um era uma algema, na do outro, uma coroa; na mão do que tinha uma algema, estava o controle, na mão do que tinha uma coroa, estava a verdadeira algema.
Oh, quanta beleza extrema! - ela pensava. Oh, como é bela a ligação ela pensava.
Ela é louca. Ninguém, jamais, conseguiu enxergar os anéis. E ela esperaria, sem motivo real, até que fossem substituídos por anéis de metal de verdade - ela nem ligava para as pedras.
Mas é louca, tola, estúpida. Não aconteceria nunca. Ela não é boa o bastante para isso.

Good Enough - tradução (Evanescence)

Boa O Bastante

Sob o seu feitiço novamente
Eu não posso dizer não para você
Deseje meu coração e ele estará sangrando em sua mão
Eu não posso dizer não para você

Não deveria ter te deixado me torturar tão docemente
Agora, eu não posso acordar deste sonho
Eu não posso respirar, mas me sinto

Boa o bastante
Sinto-me boa o bastante para você

Beba desta doce decadência
Eu não consigo dizer não para você
E eu me perdi completamente, mas eu nem ligo
Eu não posso dizer não para você

Não deveria ter deixado você me conquistar completamente
Agora, eu não posso acordar deste sonho
Não é possível acreditar que me sinto

Boa o bastante
Sinto-me boa o bastante
Ha muito tempo eu esperava isso, mas me sinto bem

E ainda estou esperando a chuva cair
Derrame a vida real sobre mim
Porque eu não posso me apegar a uma coisa boa
o bastante
Eu sou boa o bastante para você me amar também?

Portanto, tome cuidado com o que me pede
Por que não posso dizer não


http://www.youtube.com/watch?v=zSxoKQ_sWYY

Pesadelo

Ela costumava acordar sobressaltada... A pele arrepiada, os ossos em totalmente frágeis, quebráveis em um único suspiro. Mas acordava e era o fim do pesadelo. Talvez agora ele tenha cansado de ir embora sempre, e tenha só ficado tão forte, tão cruel, que ela perdeu a vontade de estar aqui.
É fácil demais correr por um corredor sem saída, cegamente, quando se tem uma mão para agarrar, quando se tem um chão. Mas do nada, o chão sumiu, a mão que estava lá, nunca estivera. O pesadelo não tardaria muito a continuar mesmo com os olhos abertos.
"Queria ser como você, queria deitar fria no chão como você, tem espaço aí para nós dois, não estou de luto por você", ela disse. A luta lutada foi solitária. Não há vitórias.
O sonho ruim continua, ela abre os olhos, eles estão cansados e secos, acabaram as lágrimas. Defender o que de quem? Ela não tem mais para onde correr. A pele seca, os olhos fundos, a pele não humedece durante o dia, os olhos não retornam à superfície. O silencia unilateral continua. O aperto no peito, a dor. Ela só queria ser amada e apenas amar. Não acontece. Não há amor no controle, no egoísmo, da desistência. Só há teimosia, só há fraqueza.
Ela acorda novamente. Os velhos monstros vão embora, ficam os novos: o ataque, a falta de formas de se defender. Ela não consegue mais dormir, tudo é estar dormindo. Era nos pesadelos que ela descobriu sua falta de valor. Apenas quando acordou deles e viu que eles continuavam que ela percebeu que os pesadelos sempre estiveram lá, ela se virou de vê-los, ela se anestesiou de suas dores, ela se calou de seu suspiro.
Ela grita e chora, se debate, e abre os olhos de novo. Novamente desperta no pesadelo. E ele não vai embora. Ela olha o próprio corpo - frágil, arranhado, marcado - e chora quieta. As pancadas não param de vir do lado de onde ela só espera carinho e proteção. Ela se silencia, corta os pulsos, deita quieta e espera...
Ela acorda novamente. A morte não chegou rápido o suficiente? Ela ainda acredita que um cavaleiro de armadura brilhante vá aparecer em seu cavalo, e levá-la dali. Mas todos sabem que não vai acontecer. Ela perdeu sua majestade, não é mais uma princesa, não é mais uma nobre. Perdeu a graça. Ela não tem mais cabelos esvoaçantes, ela não tem mais cores pastéis no rosto.
Ela acorda novamente. E é o pesadelo. Depois novamente. Pesadelo ainda lá. E de novo, nada mudou, e de novo, e de novo...
Talvez ela já tenha morrido. Algum dia vai chegar a hora de deitar.

Quisera

Quisera eu num humilde momento poder relaxar os olhos e contar cegamente com quem eu deveria contar cegamente desde o começo. A realidade machuca, não tenho ninguém para me ajudar, mesmo quem me prometeu fazer isso, simplesmente se recusa a cumprir a própria maldita promessa.
A solidão alimenta meu amor-próprio; existe forma melhor de me sentir feliz comigo mesma do que não ter que ouvir da única pessoa que eu esperava compreensão coisas que só servem para eu me sentir pior? Uma vozinha minha que grita o tempo todo está me deixando tonta. Talvez seja a auto-defesa ou a vontade de sumir, talvez sejam as duas coisas, porque com certeza se eu sumisse, todo esse ciclo de agredir por amar, amar por poder agredir, violentar os desejos e vontades meus, tudo isso, acabaria. Eu estaria a salvo de mim mesma, e de você.
Eu já vejo, bem longe, as coisas ficando cada vez piores; vejo daqui pra frente a relação de controle se intensificando, eu ficando ainda mais sufocada. Vejo minha dor vazando pela minha pele rompida novamente e vejo cada um dos momentos bons desaparecendo, em cada um deles! - aflorando, delicadamente - uma grosseria, um fim do dia onde sou ignorada, uma lágrima que derramo na solidão ou uma vontade que não cumpri porque minhas demonstrações sempre te parecem tolas, fúteis e menos valiosas.
Talvez eu tenha cansado, talvez não seja mais eu quem vá te tirar da forca. Por tanto tempo precisei de tua proteção, mas fiquei a mingua, esperando sempre, pelo menos, o menos doloroso que poderias fazer, mas NUNCA o tendo...
Não adianta, não tem solução, não tem volta! A tua hipocrisia vai matar tudo que ainda há de bom para você em mim.