sábado, 5 de setembro de 2009

Metade

Sim, eu vou falar de amor. Sim, eu vou falar de eternidade, vou falar de laço, vou falar de união e vou respirar esses temas. Sim, eu vou colocar tudo no mundo lado a lado com isso, pois do amor faço arte, do amor, faço pensamento, do amor faço trivialidade e do amor faço compromisso. E não se assuste se, um dia, do amor eu fizer mudança, fizer revelação, fizer florescer ou fizer religião.



Metade


Que a força do medo que eu tenho, 
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito 
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, 
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe, 
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo 
seja para sempre amada 
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo 
não sejam ouvidas como prece 
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, 
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço, 
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora 
se transforme na calma e na paz 
que eu mereço.
E que essa tensão 
que me corrói por dentro 
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto, 
um doce sorriso, 
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim 
é a lembrança do que fui, 
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio 
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim 
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, 
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar 
porque é preciso simplicidade 
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor, 
e a outra metade...
também.


Esse texto não é de minha autoria, beijos. 

Vanitas

Vanitas: forma de expressão artística relacionada com vaidade, finitude da vida e de seus componentes, transformação da juventude em velhice. Temporariedade das coisas da vida. De onde somos, para onde vamos?
A juventude está cega. Trata-se, fere-se e rasga-se em mesas de cirurgia em busca de prolongar a superficialidade da juventude. A procura constante pela vida eterna na medicina: cada tratamento que surge acrescentando mais alguns anos para os infelizes com problemas deletérios. Maior duração da vida com certeza é igual a mais tempo de trivialidades, mais tempo de estudos, mais tempo de aproveitamento do mundo. A vida eterna? Conceito burro de mais para que eu dê qualquer importância nesse texto. Para quebrar esse clima de vanitas do mundo, surgem alguns iluminados; algumas pessoas que enxergam além disso. Aí vem o conceito verdadeiro de vida eterna.
Duas almas livres que se cruzam, se encaixam, se enovelam e, por uma grande ironia do destino, se completam. Orgulho, arrependimento, espera, fidelidade, dúvida: conceitos bem conhecidos por estes. Toda uma trilha anterior de afinidades diluídas, discretas e secretas, num mudo que não entenderia. E agora, por grande surpresa do destino, ele entende. O mundo está, como sempre, pondo seus obstáculos naturais, mas dessa vez, também põe coisas a favor.
A obsessão por conhecimento, a busca de um talento maior, o narcisismo. Almas cruzadas em aspectos diversos. A ebriedade da paixão, um grande amor que quase se deitou em sofrimento. A força de lutar. Mãos dadas num mesmo caminho em direção à morte - morreremos juntos? A vaidade que nos ronda vibrando numa mesma sinfonia. A morte que nos ronda vibrando numa mesma sonata. O laço que nos une vibrando num mesmo objetivo. A sorte lançada, esperança, caos, sabedoria.
O conhecimento há de se esvair... a beleza assim irá pelo mesmo caminho. O talento maior há de se desfazer na frivolidade da terra, e morre assim os corpos - a fonte sagrada de nutrientes para um mar ou um vento frio de inverno. De onde somos, para onde vamos? Somos de um lugar onde não importa de onde somos, vamos para um lugar que não importa, pois as mãos estarão atadas. A comunhão profana entre dois corpos, a comunhão etérea entre duas almas, num mosaico digno de Fibonacci e seu número, digno do número 3. Se era para ser, está sendo. E era para ser. E quando a terra nos consumir, virá a vida eterna: não a eternidade do espírito, ou a eternidade de nossas obras, mas a eternidade do amor; um amor tão grande, que nem a frieza da terra há de consumir...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Terra do Nunca

Uma menininha caminha desorientada numa escuridão tão densa, que ela mal tem consciência de si. Tropeça aqui e ali, os joelhos ralados, as pernas e os braços cortados, a pele do rosto arranhada por suas próprias unhas... O vestidinho vermelho sujo de lama, a gola branca borrada de lágrimas e sangue, misturados, num cor-de-rosa cheio de dor. Ela sabia que não podia se sujar, sabia disso, gritaria com ela, brigaria com ela, ela sentia medo, no escuro ninguém poderia mais fazer ela se sentir inferior ou pior que os outros. A escuridão, a solidão, naquele momento, significava se libertar das agressões. 
E de repente, naquele mundo confuso, sem começo, sem fim, sem ter para onde correr, sem ter lugar para se esconder, um holofote de luz surge sobre ela. E ela pode finalmente ver a si mesma. O desespero aumenta, lágrimas a cegam, soluços da alma a fazem tremer. Uma mão se estende. "Agarre-a" diz uma voz familiar, "agarre-a e se ponha fora daí dessa pocilga!" Uma voz que ela já conhecia... "Essa sou eu?" se perguntou. As lágrimas foram diminuindo sua correnteza, os soluços ficaram mais espaçados. Ela viu resgate ali, viu segurança. Não devia mais ter medo de seus segredos. Foi arrastada num puxão violento. Abriu os olhos e viu a lua. Era noite.
Um copo em sua mão, olhares familiares divertidos. Ela se vê exposta. Ela se vê numa casca da qual sentia tamanha saudade. Ela suspirava entre os dentes. Ela lembrava de momentos fortes de tontura, momentos fortes de embriaguês sem álcool. Sentiu uma emoção, uma esperança. Sentiu uma vontade de correr aos pulinhos e subir nos bancos, e o fez. Embolou a língua com algumas palavras, sentiu vontade de deixá-las mal-faladas, e assim as deixou. Embolou a língua com o conteúdo do copo, e deixou escorrer uma única gota pelo canto da boca, não sentiu vontade de acertá-la e a deixou escorrer gentil. Sentiu vontade de brincar com a vida, de rir de tudo, e riu. E sentiu vontade de mudar sua situação. Sentiu vontades que nem suas mais profundas vontades jamais a deixaram entender. Sentiu ânsias sorridentes e esticou os olhos para onde suas profundas vontades escondidas a mandaram esticar. Observou silêncio. Sacudiu-se nas bases. Decidiu coisas novas para suas profundas vontades. Decidiu que quando, chegada a hora, iria e pronto. E isso a trouxe euforia.
Enxergando além, viu um menino... Era-o nos olhos, nos dedos, no copo e nas palavras. Tonta pelas palavras pouco significativas que a Tia Garrafa dizia, esticou mais que os olhos, esticou mãos, esticou coragem, esticou decisão, esticou esperança, e por fim, esticou os lábios. Estendida estava ao menino. Deram as mãos.
Mesmo na noite mais escura, havia lua. Mesmo no frio mais crepitante, havia calor. E na ansiedade e na esperança, havia manhã. E na manhã, havia um espanto. E no espanto, um laço. Mãos com mãos, dançaram sob o som da espera, sob o som da realização. E mãos com mãos, escolheram uma trilhazinha pela floresta sombria, onde somente caminham os meninos perdidos, lá na Terra do Nunca.
Pois é assim mesmo. As surpresas da vida, as emoções descomunais que o que está além da realidade cria. E a Terra do Nunca? Muitos tolos se enganam, não é um lugar para qualquer um. É mais do que a capacidade de sonhar, mais do que sentir esperança, mais do que ter amor às coisinhas pequenas e acreditar em fadas. É conseguir viver a vida inteira sem nunca estar a mais de cinco palmos do chão.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pragejar..

Praguejar é uma arte. Semelhante ao que se faz num repente, se usa termos já conhecidos em sequência instintiva para formar cadeia, que diferentemente, não necessita rima. O conjunto de termos precisa se encaixar semanticamente de forma a criar uma repetição de uma característica, que pode ser a mesma, ou pode ser semelhante, seja xingamento a uma pessoa ou situação. 
O praguejar não é para qualquer um. É necessário um certo talento em usar palavras fortes e saber aplicá-las nas mais diversas situações, incluindo diretamente ao interlocutor, o que cria certa dificuldade, além da chance de resposta. Interessante como alguns tem um dote natural para tal, um jeito bem estilizado de fazê-lo. Fora que é uma forma interessante de intimidar o interlocutor, além de descarregar uma quantidade grande de stress de uma única vez. 
Com a carreira certa de preguejos, até o maior homem se desmonta para a menor mulher... E ultimamente, eu e o preguejar temos estado muito ligados. Praguejar tem virado mais que uma rotina, mas uma tendência tão natural quanto sorver de um copo com água num momento de sede ou esticar as pernas ao acordar - coisa tal que me tem sido de grandisíssima utilidade. Uma inspiração, uma passada de língua nos dentes, e logo uma sequência estruturada de palavras que, em separado, são apenas palavras, mas em sequência, faz surgir o efeito: uma explosão bela, em voz baixa, de todos os demônios que vem me incomodar. Dessa forma tenho procedido em diversas situações, ultimamente bastante contra um certo indivíduo em especial. Não é muito do meu feitio tolerar esse tipo de agressão pelas costas. Mas em breve, as coisas vão melhorar, ah se vão!, e minhas pragas voltarão a ser direcionadas a quaisquer outras coisas inúteis da minha vida...
NUNCA permitirei que o arraste contigo, não para tão baixo como é o inferno em que tu vives. Ti, tenho em mim com pena. Pena de tudo de bom que passa ao teu lado e não percebes; pena de tudo que tenta arrastar contigo e te foge. Pena de ti, pelo que te vês obrigada a fazer para te sentires feliz.

Veneno Escorre, por Rebecca Isnard


É a gota d'água. Chegou a um limite. Não sou mais obrigada a lidar com esses venenos desagradáveis que destilas. As pessoas podem realmente acreditar que és, agora, uma pessoa melhor, mas eu sei que ainda tens o letreiro na testa.
Não sou obrigada a aguentar essas facadas pelas costas; profanar o meu nome, profanar a minha imagem, profanar a santidade de meu refúgio, qual será a próxima? Profanarás a pureza de meus amigos? Profanarás a força de meu amor? Criatura vil e mesquinha, devorador de negatividade... A distância deveria te ensinar, e não te tornar essa serpente venenosa e prejudicial! Não me conformo com a forma que profanaste meu nome, nem com fato de ter atendido teu pedido - te deixei em paz - e tu a espalhar suas palavras nocivas. Eu não desejei, em momento nenhum, meu inferno em você.
Então, vou dizer de uma vez: a tua insegurança, teu inconformismo com a situação que tu mesmo criaste, teu recalque e tua manipulação... Tuas palavras inúteis e tolas, tua opinião estúpida e mal-moldada, tuas garras malditas de doninha... Tenha cuidado. Dessa vez não é só revanche. Isso vai ter que parar, ou as coisas vão esquentar para o teu lado. Não vou mais aceitar você ceifando coisas boas da minha vida, não vou mais aceitar você arrastando para fora do meu convívio as emoções positivas, não aceitarei mais, de forma nenhuma, você, sangue-suga, roubando o que eu tenho de bom. Maltido seja. Espere. Em, breve, as pessoas vão saber o MEU lado da história. Aí recomendo que você pense muito bem antes de abrir essa boca enorme sem pensar bem no que vai dizer, novamente...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Die with your boots on

O vento frio irritante, solapando metade da cara, cara com cara, cara metade. O vento conflitante, e um copo em cada mão. Duas metades?
É primeira vez. Primeira vez para algumas coisas. Primeira vez que vi-me em tamanho ataque de fúria contra um ser humano. Primeira vez que a ira foi tamanha que as palavras começaram a travar na garganta. Primeira golada de licor de café. Um dia bom... Um olhar. Menções, primeira vez que farei menções...
"Não abraça que eu tô sujo." Frase seguida por uma abraço. Depois um sorriso. Depois um estaladinho no rosto. Sorri. Havia pessoas boas perto de mim.
Um novo primo; a descoberta de uma nova imagem. Uma criança adormecida que acorda. Sorrisos, mais sorrisos. Primeira vez que meus "pontos de força de vontade" zeraram. E não havia mais saudade ali de coisas que ainda não tinham acontecido, porque coisas aconteceram. Um déjavu; a descoberta de uma inocência latente. A descoberta da força que uma paixão tem. A primeira vez em toda minha vida que dormi com meus calçados nos pés. Um céu denso de estrelas, suspiros prolongados. Vislumbre, graça,desejo, loucura. O poder absoluto. A verdade maior. Um despertar, um terceiro momento de despertar. E cada vez mais acordado. Segredos sombrios revelados. Revanche? O fortalecimento de uma admiração. 
A primeira vez em toda minha vida que dormi com meus calçados nos pés...

The Scientist

 Come up to meet you, Tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are
I had to find you, Tell you I need you
And tell you I set you apart
Tell me your secrets, And ask me your questions
Oh let's go back to the start
Running in circles, coming tails
Heads on a silence apart
Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start
I was just guessing at numbers and figures
Pulling the puzzles apart
Questions of science, science and progress
Do not speak as loud as my heart
And tell me you love me, come back and hold me
Oh and I rush to the start
Running in circles, Chasing tails
Coming back as we are
Nobody said it was easy
Oh it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be so hard
I'm going back to the start