segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ciúme

Uma energia obtusa se prolifera nas entranhas mais sanguentas. Um cadáver lá se deposita e fermenta pútrido à mercê de larvas e vermes patéticos, que se fortalecem na dúvida. Um açoite incessante. Um passado que não se apaga. Uma história que se repete na mente. Obsessão.


Foi atirada em um buraco úmido e gelado. Caiu direto, aquecida somente pelos pequeninos raios de luz que manteve vivos no peito. Logo se viu flutuando no ar, sem chão, parede ou teto, suspensa num pus amarelado e denso, levemente opaco e pegajoso. Logo o líquido cismou em possui-la e foi adentrando suas narinas e boca, preenchendo seus pulmões e deixando o horrível gosto de limbo e ranho de podre, e conforme entrava, ia crescendo lá dentro e a empurrando de dentro pra fora, como se a qualquer momento ela fosse explodir. Os olhos sendo precionados pra fora, a ardência mesquinha que causava a pressão, a sensação de não ter as pernas... já não respirava mais o ar. Tremeu petrificada, se remexeu, calada e tentou nadar pra fora, mas era uma bolha hermética, sem abertura alguma, selada com a força dos deuses por uma pele escorregadia e translúcida. Lutou ainda um pouco, tentando sair. Inútil. Cada grito que forçava sair, mas o pus entrava pelo esôfago, mais pressão por dentro ela sentia. Desistiu então. De fora da bolha apenas se via a criatura desfalecida, os olhos escancarados, a boca semi-aberta, a alma vazada pra fora por debaixo das unhas. 
Um impulso final... uma explosão. Toda sopa nojenta regurgitada, a bolha desfeita de um impulso só... e ela volta a cair. Os olhos petrificados... o sorriso torto na boca. Ela nunca parou de cair. 




O ciúme não era a bolha, nem o caldo... o ciúme era o buraco.