Uma energia obtusa se prolifera nas entranhas mais sanguentas. Um cadáver lá se deposita e fermenta pútrido à mercê de larvas e vermes patéticos, que se fortalecem na dúvida. Um açoite incessante. Um passado que não se apaga. Uma história que se repete na mente. Obsessão.
Foi atirada em um buraco úmido e gelado. Caiu direto, aquecida somente pelos pequeninos raios de luz que manteve vivos no peito. Logo se viu flutuando no ar, sem chão, parede ou teto, suspensa num pus amarelado e denso, levemente opaco e pegajoso. Logo o líquido cismou em possui-la e foi adentrando suas narinas e boca, preenchendo seus pulmões e deixando o horrível gosto de limbo e ranho de podre, e conforme entrava, ia crescendo lá dentro e a empurrando de dentro pra fora, como se a qualquer momento ela fosse explodir. Os olhos sendo precionados pra fora, a ardência mesquinha que causava a pressão, a sensação de não ter as pernas... já não respirava mais o ar. Tremeu petrificada, se remexeu, calada e tentou nadar pra fora, mas era uma bolha hermética, sem abertura alguma, selada com a força dos deuses por uma pele escorregadia e translúcida. Lutou ainda um pouco, tentando sair. Inútil. Cada grito que forçava sair, mas o pus entrava pelo esôfago, mais pressão por dentro ela sentia. Desistiu então. De fora da bolha apenas se via a criatura desfalecida, os olhos escancarados, a boca semi-aberta, a alma vazada pra fora por debaixo das unhas.
Um impulso final... uma explosão. Toda sopa nojenta regurgitada, a bolha desfeita de um impulso só... e ela volta a cair. Os olhos petrificados... o sorriso torto na boca. Ela nunca parou de cair.
O ciúme não era a bolha, nem o caldo... o ciúme era o buraco.
Amor fora de sintonia
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Quando eu quero sua atenção, você me dá um novo outro assunto
Se em um dia você me quis, com outra eu estava antes
Nosso amor sempre esteve fora de sintonia
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