quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sem nome I

De tranquilas palmas que se cruzaram,
num momento macio as estrelas falam...
Macio, macio...
De uma energia austera, sem expectativas,
guardado num olhar profundo,
um segredo doce e sombrio...
Em um sorriso pequeno, vi grandeza,
na timidez de um segundo, desabrochadas as dores,
dei adeus à aspereza. 
Um suspiro instantâneo, e temporário,
uma emoção explosiva e sem momento,
vejo surgir suave, um sentimento.
Leve pela mão, sem pressa, 
deixe dormir sereno, na noite gelada,
um toque, uma gota de suor escorre na madrugada.
O sereno na janela.
Dorme suave, e sem esperança,
em toda graça da lua, que voltou ao céu.
Dorme jovem, e sem lavradio, 
num suspiro macio. 
É a hora que a vida começa,
é a bem-aventurança,
é a calma sem esperança,
e um sorriso.
É voltar a sentir.

Pois agora é a hora que nada mais vai me impedir de sorrir.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ciclope

Você acredita em delays de tempo? E em banheiras de espuma sem nenhuma gotas de espuma para banho? Que tal em pessoas aleatórias em locais aleatórios que simplesmente sentem prazer em te dizer alguma palavra de amizade e nunca mais voltarão a te ver? Discos solares mais belos que até o medalhão de ouro de mais valor e requinte? Ontem foi o dia do ciclope.

Sentada na água, nunca havia notado como ele encarava; imóvel, superior, enorme, apenas um olho na órbita - um olho cinzento - completamente sem brilho e sem pupila. Eu me virava de um lado para o outro, mas seu olhar me acompanhava. Acompanhava tão fixo, tão gélido, que ao me levantar, foi como se ele perfurasse minha alma. Lembrei da hora que acordei ontem: olhei no relógio, 7:55, virei-me, e depois de um cochilo, um sonho, acordei novamente, e eram 7:55. Lembrei da professora primária no trem, lembrei das boas frutas, e do presente maior que tive em olhar o sol nos olhos e vê-lo em seu maior esplendor em um amanhecer. Ele sabia de tudo - eu via em seu olho morto. Sai por um instante, na esperança que ele fechasse os olhos; em vão. Ao sentar-me na água de novo, novamente ele estava lá. Olhei para todas as marcas da tristeza: magreza extrema, tremedeiras, cicatrizes... Passei as mãos nos olhos e senti as olheiras fundas, amareladas, sob meus olhos. Mas eu estava viva, estava sim!!! Da direita para esquerda, o ciclope movia o olho, parecia um tanto quanto sério. E, do nada, ele piscou. Arrepiei-me da cabeça aos pés, pensei que fosse impossível, mas era o que eu vira. Lembrei de outras coisas impossíveis que andei presenciando com um prazer inexplicável... Deixei a água fugir da minha volta, e deixei o ciclope só. Quando me virei, vi que ele derramava uma lágrima. Tentei dizer-lhe que tudo ficaria bem, mas ele não tem ouvidos, é apenas um olho cinzento que olha, contempla, e todas essas coisas que olhos fazem. Ele não tem um corpo, não tem ao menos uma alma: ele é somente um ciclope. No meu sonho, ele tinha sim uma alma, ele se movia, se expressava mais abertamente - mas eu não me lembro do que disse... O ciclope sabia quando olhava - a magreza não estava no meu corpo, mas na minha alma; as olheiras, as tremedeiras, as cicatrizes... Tudo na alma. Alma doente? Sim, mas com cura. Talvez agora seja o momento de finalmente sentir pena daqueles que não a poderão curar...

domingo, 9 de agosto de 2009

After Forever - Leaden Legacy (tradução)

Legado de Chumbo
O Abraço que Sufoca - Parte I

Eu não posso olhar para trás
Porque estou vivendo no passado
Lágrimas sem emoção estão preenchendo
As horas desenfreadas

(Assim como era no princípio
E agora, e para sempre, e por séculos
Por gerações)

Nós não podemos ser
O que você espera de nós
Nós não podemos ver através dos vidros do desespero
Fuja do legado de chumbo

Aqueles que deserdarem e aliarem-se à oposição
Não vêem que isso não irá levá-los a lugar nenhum
Não conseguem entender que é uma manipulação similar
Acordem e vejam a luz

Condenado a vagar por emoções reprimidas
Este refúgio imaginário me impede de despertar

Medo da penitência
Condenado a bajulação

Condenado a bajulação...


O sangue desse duplo assassinato escorre pelas minhas mãos... Mas, por um lâmpejo, por um segundo, uma segunda chance eu recebo das mãos de Cronos - posso voltar e salvar um dos dois. É salvar-me, ou salvar o Amor. Adeus, Amor.
O Sofrimento profundo se espalhando pela minha carne, arrastando minhas energias, meu sono, meus sorrisos; o sofrimento profundo que jamais desejei a ninguém, mas temo já o ter causado. Esse corte que não cicatriza, esse sonho reprimido. Mas a verdade é tudo o que tenho - escolho a felicidade ao sonho, escolho ficar de pé e ficar bem às esperanças. Escolho a mim.

Forca

Uma corda dependurada oscila de um lado para o outro. A alma assídua, os olhos cansados. E chegando a hora da sentença final. Contra o nascer do sol, ainda pálido, o laço se dependura e forma uma cruel moldura: ele, sentado, agarrado entre as grades, se encolhe de medo; esse destino ele jamais imaginou para si. Ele chora muito; as lágrimas que chora, de tantas, cavaram seu rosto por onde escorrem, formando uma calha funda; abaixo dos olhos, de tanto esfregar, marcas arroxeadas em tom escuro, quase hematomas. As mãos cortadas, assim como os pés e braços - cortes tão fundos, dos quais perdeu tanto sangue, que sua palidez mórbida se acentua contra o tom cinzento das pedras. Ele dá um último grito; as grades, as paredes pedrosas, todo o calabouço úmido com cheiro de decomposição e morte, todo o chão pegajoso, tremem. Resposta? Apenas silêncio. Um braço o agarra e o encaminha para palanque: eis ali minhas mãos. Mãos fortes, destemidas, e repletas de desesperança e sofrimento. Olho a multidão, e consigo ver ainda algum brilho nos olhos do juiz; ele olha suavemente, sente que está fazendo o certo. Mas na verdade, já não importa o que é certo ou errado. Eu, carrasca, levo-o até o palanque: ajeito-lhe tudo com todo carinho - sou carrasca, assim como meu pai, pai do meu pai, e assim como uma maldição, isso me leva apenas ao caminho que não escolhi. A corda em seu pescoço, passada delicadamente; um capuz preto sobre seus olhos, outros sobre meu rosto. Ofereço-lhe cigarros, um beijo de despedida, e o vejo como quem olha um filho bastardo e mal-quisto. Olho para tudo que tem acontecido a mim, depois tudo que tem acontecido - oh, tragédia! - a ele!!! Ele que tanto criou, que tanto cultivou, que tão fiel foi... Uma contagem, as badaladas do sino explodindo na aurora, agora completa. " Adeus" sorrio, mesmo sem sorriso, e lhe sussurro coisas boas que ficaram no final. Não gasto quase tempo nenhum, e aí, ele consegue me entender. Ele consegue me sorrir. "Blém!" Diz a última badalada do sino. Uma última lágrima é derramada. Por mim, por ele.
"Estamos aqui hoje para execução desse Amor - Amor-carnal, amor-emocional, amor-afinidade, amor-esperança, amor-amizade. Ele é acusado do crime de mais alta traição e será dependurado, por esse laço, até parar de respirar e seu coração parar de bater." proclama o juiz. Sua sentença dada, tudo preparado. Viro a cara para chutar o banco, sem ao menos dizer adeus ao pobre Amor... Viro-me e contemplo ele dependurado, se retorcendo, e por um segundo, de tolice extrema, vejo que sou a única que pode salvá-lo... a única que realmente se importa com ele, a única que realmente quer que ele fique. Mas um Amor ferrado assim só traria sofrimentos além dos que já trouxe. Deixo ele morrer, nem quero ver o corpo. Agora é com o Coveiro.
E é assim que o Amor acaba: ele nasce forte, cresce bandido, vive por um tempo assassino, e depois é assassinado - até a hora de encontrar a pedrinha verde da verdade.
Morra, Amor, morra, desapareça desgraça maldita e inútil. Vais escoando embora, com cada vez mais força. Vai de vez, e deixa espaço para eu ser feliz. Vai, e não volta jamais.

Amor, grande Amor... Você não passa de segunda.