sábado, 27 de novembro de 2010

Aviso

Adoro esse blog, mas vou encerrá-lo por falta de seguidores. Alguma hora cansa escrever para a parede.

Papel Amassado

Num quarto vazio,
jogados num canto
um pequeno maço de pincéis baratos
e um pedaço de papel.
Amassado, velho.
Mas ainda perfeito pro uso.
Assim como o sonho
usado
de daqui a alguns anos
varar aquela porta enorme
com um papel que significa
que eu sei.
Um papel amassado que ainda pode ser pintado.
Ou não.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

icterícia

menina icterícia
desdenhada superfície de felícia
delicada bandagem enxarcada
da mesma gosma ressecada
que envolve os dedos...
despedaçada


oblíqua a coluna adormecida...
segundo crispado de retundência
ecoando na cabeça espremida
entre o cabelo sujo
e os órgãos em falência


é o som da pestilência
e do sangramento vencido
de um miocárdio dolorido
que desespera obtuso
implorando por segundos de dormência
implorando ser banido
da tortura extrema
e da penitência


é a gosma da divina providência
roubando do corpo demente
a reta medida
entre o fígado, inchado e carcomido
e o baço, que já vencido
morre decrescido
da douçura sublime
e deita despedaçado
pela loucura latente


e separam-se todos
no arsênico, e no formol
um tonel de vício, lástima e riso
onde a figura inerte fica desfalecida
é a imagem paralizada
com os olhos escancarados e chorosos
e onde a graça desmedida da vida
se despedaça cansada, esbaforida
e a dor, extrema, que imobiliza
a visão perfeita, eternizada

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

La moissonneuse à venir et arracher ce qui reste une fois ...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um interlúdio entre a clara verdade e a ilusão da fantasia

Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.
George Orwell
Um ser humano: ele nasce. Ele tem braços, tem pernas; tem fome, frio, sede... tem vontades. Elas crescem e amadurecem com ele, ao lado dele, dentro da clara compreensão de que cada escolha culmina uma consequência, e que a liberdade dele está dentro, e somente dentro dele mesmo. Ele nasce com esse desejo implícito de voar sobre o chão, poder abrir as asas quando quiser, uma alma tão fina e leve que levanta facilmente voo. E aí é que vem o problema: alguma hora, em algum momento, ele vai precisar dizer não. Ele terá que dizer não pra sua vontade, e então, se tornará verdadeiramente livre. O que é dessa pessoa que não o diz?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Silêncio


Silêncio, silêncio
Silêncio no vácuo
Um grito rompe a garganta
No espaço o som não se propaga
Silêncio.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ciúme

Uma energia obtusa se prolifera nas entranhas mais sanguentas. Um cadáver lá se deposita e fermenta pútrido à mercê de larvas e vermes patéticos, que se fortalecem na dúvida. Um açoite incessante. Um passado que não se apaga. Uma história que se repete na mente. Obsessão.


Foi atirada em um buraco úmido e gelado. Caiu direto, aquecida somente pelos pequeninos raios de luz que manteve vivos no peito. Logo se viu flutuando no ar, sem chão, parede ou teto, suspensa num pus amarelado e denso, levemente opaco e pegajoso. Logo o líquido cismou em possui-la e foi adentrando suas narinas e boca, preenchendo seus pulmões e deixando o horrível gosto de limbo e ranho de podre, e conforme entrava, ia crescendo lá dentro e a empurrando de dentro pra fora, como se a qualquer momento ela fosse explodir. Os olhos sendo precionados pra fora, a ardência mesquinha que causava a pressão, a sensação de não ter as pernas... já não respirava mais o ar. Tremeu petrificada, se remexeu, calada e tentou nadar pra fora, mas era uma bolha hermética, sem abertura alguma, selada com a força dos deuses por uma pele escorregadia e translúcida. Lutou ainda um pouco, tentando sair. Inútil. Cada grito que forçava sair, mas o pus entrava pelo esôfago, mais pressão por dentro ela sentia. Desistiu então. De fora da bolha apenas se via a criatura desfalecida, os olhos escancarados, a boca semi-aberta, a alma vazada pra fora por debaixo das unhas. 
Um impulso final... uma explosão. Toda sopa nojenta regurgitada, a bolha desfeita de um impulso só... e ela volta a cair. Os olhos petrificados... o sorriso torto na boca. Ela nunca parou de cair. 




O ciúme não era a bolha, nem o caldo... o ciúme era o buraco.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Risco, logo existo

Ela e o espelho...
Ela impunha a caneta, como uma arma dela e dela mesma contra o mundo. Uma linha lânguida que desce macia sobre uma superfície rugosa. E o espelho a encara. É apenas ela e o espelho.
Pequenas partículas de grafite sobre o papel. Ela encara o espelho, encara o caminho que o pó cinzento percorre pela superfície brancosa. Só algo significativo dali sai quando não há harmonia, ou quando a harmonia se torna supre-real. Essas são as letras, as linhas, os arabescos, os pontos que lhe firmam o ser no conceito de realidade. Aquilo ali a diz viva. 


Risco, logo existo.
Risco o arabesco tênue
entre a rugura armada
e a armadura.
Risco a reta contínua
entre a plena costa do ciano
e a lapela da camisa
como que rabisca naquela lisa
levedura prensada dos insanos.
E de pedaços de reta vou formando
a linha limítrofe entre a rinha sombria do ciso
o riso prostrado do retardado
e o friso do ponto.

Coisas raras

Existem coisas que não acontecem toda hora.
Nascimento de albino.
Acidente de carrinho de supermercado.
Rompimento das barreiras do som.
Lilian pensar em compromisso sério.
Coisas acontecendo, e ninguém está olhando.
Sou a atriz principal do meu próprio filme:
sem diretor, sem pláteia, sem fãs.
Às vezes abandono realmente sucks.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Adeus é uma palavra

Certas coisas são passageiras, outras são pra ficar. Mas a verdade mesmo, é que a maioria esmagadora vem, deixa suas marcas, e depois se vai, até pelo próprio processo natural de mudança que tudo passa. Mesmo os laços mais fortes, às vezes, se desfazem. Mesmo as uniões mais óbvias, pelo próprio jeito natural de mudarem, e assim como elas , mudarem os participantes, pode sim, alguma hora, acabar. E esse medo assombra mesmo o coração mais inumano.
Gêmeos: duas crianças nascidas do mesmo processo de parto. Podem ser univitelinos, e aí nascerem com aparências iguais; podem ser polivitelinos e nascerem com aparências diversas; mas nos últimos anos descobri que podem nascer também de úteros diferentes.
Esse pequeno excerto é um tributo à amizade, elevada ao extremo. 
E é minha forma poética de declarar seu fim.
Porque não iria adiantar eu insistir, estava muito óbvio. Já não faço mais parte daquilo tudo. Então vou só me por no meu lugar.


Adeus é uma palavra muito difícil de dizer.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quebrando o silêncio

Quebrando o silêncio, atiçando a chama viva
Visando a despedida da banalidade
Alisando meu cabelo, me chamando querida
Refletindo-se nos espelhos dessa cidade

Quebrando o silêncio, olhar cor de oliva
na fina linha de ternura, que arrebenta
mão repousa farta e boleia mexida
pela outra mão pequena, que acalenta

Quebrando o silêncio, num ritmo selvagem
Destacando a linha tênue da paisagem
Signo silogístico sem sofisma, sinseridade

E quebrado silêncio, balançando a cortina
Preenchendo de lira e mistério toda minha sina
Deixando um vazio desconhecido: saudade

Just be.

Um dia as pessoas aprenderão:
não é escolha, não há razão;
não é aleatório, não é forçado,
não se cria, não se espera, não completa nada;
não é feito de sinais quase inviséveis, nem misterioso,
não é feito de duração temporal,
nem construído de esforço excessivo.
É mais que espontâneo, é óbvio como tirar o dedo se esbarra numa agulha;
não é escolha, mas não erra,
não é aleatório, mas pode vir de qualquer lugar;
forçar desmancha o pouco que ainda se pode ter, é como briga
que quando um não quer dois não brigam;
não se cria porque já estava lá, o que se inventa são as formas de exteriorizar;
não es espera porque vem na hora inexperada, no momento mais estranho, às vezes, e te pega como uma onda de ressaca;
não completa nada, mas acrescenta tanto que reescreve tudo aquilo que já estava escrito,
com sinais óbvios e escandalosos no corpo, na alma e no espírito,
e mesmo em mistério algum ainda é a coisa mais misteriosa que poderia haver.
Não é sobre anos de compromisso,
muito menos sobre comprimisso,
mesmo que compromisso e duração de anos venha e seja natural,
muito menos sobre esforço, já que na hora certa se torna tão natural quanto respirar.
É o amor, que bate à porta e entra sem convite, fica e se descobre bem vindo, e não tem hora para sair porque talvez nunca se vá.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Tão difícil acreditar que você se foi... estava ali, e agora não está mais... Nem agora, nem jamais, vou conseguir descrever o tamanho das saudades que vou sentir. Amo você. Seu olhar único, perfeito, cara coisinha só sua... Você foi uma das melhores coisas que já me aconteceram. E se alguém se atrever a dizer que não tem bicho por causa desse tipo de situação, encherei a boca e direi: "Pois eu prefiro tê-lo por um curto espaço de tempo e perdê-lo, do que nunca viver o prazer de tê-lo tido."

domingo, 13 de junho de 2010

2010

Esse ano praticamente não tinha começado. Quero dizer, não que a faculdade não fosse importante, ou que família - casa - gatos não o fossem. Mas havia algo que faltava. E eu busquei. E vi que não vinha... aí desisti de ir atrás e esperei, atolada na lamacenta esperança do inesperado e do inequívoco. 
E algo aconteceu. É oficial: 2010, na minha vida, começou hoje.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Simpatia para emagrecer de Chico Xavier

Quarta feira pela manhã coloque meio copo de agua , dentro dele o número de grãos de arroz correspondentes aos quilos que você deseja perder. Nao coloque grãos a mais do que você deseja,pois os quilos perdidos não são recuperados. 
A noite beba a água deixando os grãos de arroz, completando novamente com meio copo de água. Quinta feira pela manhã em jejum beba a água deixando os grãos de arroz, complentando novamente com meio copo de água. 
Sexta-feira pela manhã em jejum beba a água com os grãos de arroz junto. 
Obs: 1- Conserve o mesmo copo durante o processo, 2- Não faça regime pois a simpatia é infalivel, 3- Tire o número de cópias correspondente aos quilos que deseja perder 4- Começe na quarta feira após distribuir as cópias, 5- Publique na mesma semana . 
Boa Sorte 

domingo, 30 de maio de 2010

XXIII

É no sumo mais parco que baba a ferida
que as dores e remorsos se deitam frouxos
segue um cortejo de vindas e idas
de tristezas baças e corações coxos


Na tragédia o descaso comedido
outra vaia de vitória se levanta
outro coração que segue, partido
outro grito que atola na garganta

E num caminho no que o te quebraste
segue logo atrás, empunhando a ponta
e o que tu partiste te leva,vai a guiaste

O sangue preto à lágrima mistura
e o coração novo que se defenda
pois esse é mal que não tem cura

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A lição da Borboleta

Tratava-se de um grande amante da natureza. Ele amava as plantas, as águas e os animais. Gostava de passear entre eles e apreciá-los. Um dia, em sua jornada, ele viu um casulo de borboleta, e passou a observá-lo, diariamente. Conforme o tempo passava, ele ia ficando ansioso por saber a cor e o tamanho da borboleta. Até o dia que ele chegou ao casulo, e viu que ela tentava sair, mas tanto esforço fazia que ele se apiedou da pobrezinha e ajudou-a a sair. Ao fim do perjúrio, a borboleta saiu, sacudiu as asas, mas não conseguiu voar. Ela saiu, tentou, sacudiu as asas, mas nada aconteceu. Por fim, ela caiu morta no chão, e o homem, sem nem imaginar porque, tentou saber o motivo. Ele então perguntou a um estudioso, e este lhe disse: ela precisa do esforço de sair do casulo para poder fortalecer as asas e ter a força que precisa para voar. O homem então chorou pelo mal que havia feito a borboleta e jurou a si mesmo que nunca mais cometeria o mesmo erro.
A vida não se comporta diferente; o momento de perjúrio nos fortalece ao novo vôo, nos torna capazes de aguentar o que vem pela frente. Sem ele, nos tornamos fracos; sem ele, jamais poderemos voar. Os atalhos não são a solução. Precisamos encarar as situações difíceis e sermos fortes.

Pois é como estou... sou a borboleta, saindo do casulo. Esse perjúrio será a raiz da força no próximo momento. Quando passar, vou estar forte o suficiente para voar. Atalho algum vai poder realmente me ajudar, ninguém pode realmente me ajudar. Que seja o que deve ser.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mania

Virou mania inventar você. Inventar teu jeito de olhar um endereço, de usar o desodorante, de falar sobre a última novidade da TV, de esperar o ônibus e de me buscar no hall de entrada da faculdade, lotada de papéis, enrolada com os lápis que esquecida guardar na bolsa. 
Uma mania tão intensa, tão constante, que quase consigo te compôr nas linhas tênues do desenho na aula de modelo, na palavra cuspida na agonía de libertar a cabeça da prisão eterna e suprema que é viver de quereres mauquistos e viagens não feitas, de suspirar no vazio do banheiro tarde da noite, de deixar  água fria cair na cabeça precedendo o descanso e espreguiçando do nada.
Quando a mania cessa, só restam os sonhos, os segredos ditos às paredes e o espelho-pecado, lotado de olhares frios e narcizistas e um grande abismo entre a idealização e a realidade. O ar se adensa, dificulta a respiração, e novamente sou devorada pelo silêncio exterior e pelas vozes da minha cabeça.
Espera de algo que mal sei se há de vir vai me consumir. É o buraco deixado pela realidade. É o ambíguo das histórias antigas, a brasa apagada remexida pelo impulso de matar a solidão. No fim, só vive a esperança. O amor, a força, a necessidade e o metabolismo se apagam aos poucos. Só há o fim.

domingo, 23 de maio de 2010

Repousa

Repousa farto e enfarado olvido
no ombro tétrico de visões futuras
abruma a graça nas ondas inseguras
dos mil romances que houvera lido


Repousa mole e desfeito em gomos
numa tarde sem fim, tenro soustício
o dentro desses globos acha o início
dos caminhos desditos dos gnomos


E depois do amor, descarta tudo
e afia na minha linha tua crina
a que o violino cuspa o timbre mais agudo


E desentende tudo que desmonta
o laço terno de viver a cina
entre a faca, a tina e a ponta!
Avaliando os diversos tipos de masturbação mental, cheguei a conclusão que nenhuma é mais confusa nem complicada que a que o amor e seus primos causam. 
Além de sempre suspensa e quase sempre inconclusiva, somos atirados nela para encarar determinadas situações para as coisas não fugirem ao controle, mas elas sempre fogem. Impressionante como além de tomar um puta tempo, ainda é inútil. De qualquer jeito não vai se chegar a lugar nenhum, seria mais simples e mais fácil - além de bem mais rápido, diga-se de passagem - se as pessoas jogassem uma moeda: cara é isso, coroa aquilo; e pronto! Muito mais prático. Quase irritante se pensar nessas coisas e remexer na cabeça à procura de verdades absolutas. Complexo ainda mais achar que elas existem! Quisera eu, ou qualquer um, ter certeza quando o assunto é esse...
Tentativa e erro, eu digo. Espontaneidade. E um instinto sagaz para separar o que está ali realmente do que é apenas uma curiosidade (mórbida). E sempre, sempre seguir a filosofia de Vegas: "O amor é um jogo onde sempre se perde".

sábado, 8 de maio de 2010

Resenha ~ Posicionamento sobre a reação à Subcultura Gótica

"P/ mim, LAM tá longe de ser gótico ou qualquer coisa do tipo!

LAM é apenas LAM, não se agarra a rótulo algum!" ("achado" do orkut)



Uhum, claro, longe de ser gótico.
As temáticas nada tem de gótico, como paradoxo amor x morte, o niilismo, e outros.
Olha, eu fico chocada com as bobagens que leio na internet: gente tentando classificar London After Midnight fora do âmbito gótico, e nem ao menos sabem, nem pela beirada, o que é gótico. Vejo tanta idiotice acerca disso, me choco com como todo mundo adora falar sobre os assuntos que não entende, numa tentativa frustrada de ser um auto-didata que não entende o assunto, só tem suas opiniões. Nem ao menos sabem o que é resenha. Para se chegar a qualquer conclusão sobre o assunto, É PRECISO TER LIDO SOBRE ELE PRIMEIRO.


Além da massa de idiotas na rede, os cheios e opinião, mas de pouquíssima cultura, ainda essa problemática de gótico. Quem foi que falou que goticismo é escolha, maneira de fazer coisas? A estética gótica surge naturalmente nas manifestações culturais com determinadas tensões históricas e sociais, e não é fabricada, não está pré-pronta, não é uma fórmula. Roupa preta é gótica? Voz com sintetizador é gótica? Não é nada disso. Por isso se usa o termo subcultura, uma cultura que existe mas não pode ser chamada cultura somente, e somente porque não é algo de um povo, mas ainda é uma reação ao ambiente; é diversa a outras e ocorre dentro das manifestações artísticas e socio-culturais. Os maias não estavam fazendo arte maia porque achavam que arte maia era a mais legal nem nada do tipo; a cultura japonesa não aborda determinados assuntos espirituais da forma como aborda porque alguém foi lá e inventou isso, do nada. Cada situação é uma situação e nada funciona fechado de tudo, existe um conjunto de circunstâncias permeando, sempre.
Os elementos góticos permeiam toda sociedade, visto que é um movimento que sofre tensões do mundo atual, circunstâcias que tem se estabelecido nos acontecimentos históricos já a certo tempo. O decadentismo do goticismo, a busca por coisas consideradas opostas a sociedade de consumo e a superficialidade, o avanço do ateísmo como ideologia, a perda do espiritualismo e o misticismo que é substituído pela tecnologia de produção em massa. Tudo acontecendo aí. A maioria nem dá o devido crédito aos percursores, visto que tantos aspectos do gótico foram embolsados por outros grupos e são usados sem nenhuma distinção e nenhum mascaramento para que se pudessem chamar esses grupos de genuínos, originais. Até mesmo a sociedade de consumo e as empresas usam do termo para seduzir as pessoas que não entendem o que verdadeiramente significa a subcultura, apossando-se do termo gótico para usos comerciais e mais uma vez deturpando seu significado verdadeiro. 
De algum lugar no subconciente coletivo se tirou a idéia de que gótico é trágico e somente isso, mas no fim a maioria das pessoas continuam não fazendo idéia do que estão falando. 


Sinceramente, se não sabe nada do assunto, fica quieto. É assim que as pessoas sábias fazem para não se passarem por idiota. 

domingo, 2 de maio de 2010

...

Relicário confuso entre equinócios e soustícios 
Terceira lateral do triáculo relevada sempre por obtusangúlo
Obtentáculo de obtusólogo retitante de leucocitário
Azedando as entranhas entrelaçadas de grunhidos e sorrisos



segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perfeitamente defeituosa









É levemente torta,
virada pro lado esquerdo
uma jogadora de dado
uma folha morta
um corpo de lado
entre o copo e a porta
deixando misturado
a língua e o céu da boca.
É perfeitamente defeituosa
e carrega o mal herdado
de ser o caos de toda esposa
cujo homem perdido
vive entre uma cama triste
e uma vida oca.
E se alimenta
como se não existisse maldade
e come insipiência
e transpira indiferença
e vive bem alimentada
pelos espelhos da cidade.
E se revira de risinhos
ao olhar temeroso
do homem espantado
e da mulher ditosa
e desesperada
quem cheia de capricho
acha que ganharia algum dengo
sendo tudo como havia sido
E o queixo se ergue
e a figura se apara
desencaixada 
De tanto caminhar na noite
hoje é uma estrela
uma das frias
uma das mais arredias
e todos querem tê-la.
É uma ameaça,
um fantasma do natal passado
o maior achado, 
que aquele cara que tu amas poderia ter.
É uma doninha, 
ladra mesquinha
diaba em arminho
e alpha-seda de forro.
Uma obra magnética
um mal-dado esporro
com mil erros da vida
e mil acertos na genética
que exacerba a hermética
entre um momento mesquinho
e a sua falácia, e a tua ferida.
Alecrim amarrado mal-feito
saiu com defeito
obra única e sem jeito
e desjeitosa ficou:
arreganha as presas, vaporosa
olha os dedos na areia
e ignora esse monte de mal-amada
e de mulher feia.

sábado, 3 de abril de 2010

...

Nada é único
nada é tão especial
que não esteja jogado numa lata de lixo qualquer
antes do próximo natal


Nada é forte o bastante, 
nada significa o suficiente
tudo não passa de uma necessidade insipiente
de bloquear a solidão.


Nada além de vazio
nada além da lágrima
caída na beira do rio
da massificação.


Nada que seja permanente
nada que valha paixão
nada que valha o esforço
só mais um corpo em escorço
derramado no dorço 
da palma da minha mão.


Nada que tenha significado
além de um corpo marcado
pelas lâminas da juventude
quando é sepultado.


Nada que seja divino, 
nada que mereça mais lágrimas
do que aquelas que um olho derrama  
no tocar do sol-nascer.


Nada que seja sublime,
nada que seja superior
sou um um anjo caído nessa merda
onde esqueceram o que é o amor.

sábado, 27 de março de 2010

Goth Yourself (faça-se gótico)

(tradução do post do meu fotolog)
Tente pegar todas as suas roupas pretas do armário e monte alguns novos visuais.
Então, pegue seus batons escuros (ou os da sua irmã se você for um garoto)  use na sua boca, então nos seus olhos; ou outras maquiagens.
Depois leia sobre existencialismo, niilismo, ultra-romantismo, narcizismo, egocentrismo, talvez tentar história também, e óbvio, arte.
Depois escute TC, TBM, LAM, DCD, EA, só para começar.
Voce deve reensinar-se estética, ensinar-se sobre o bom gosto para decadência e obscuro, a estética do bizarro, a graça do trágico e do místico. Cuidado pois a diferença entre o gótico e grosserias, às vezes, é difícil para um novo pupilo. Isso tudo é muito lindo se você tiver uma sensibilidade especial para enxergar.
Você tem que compreender que isso é uma sub-cultura, algum dia talvez uma cultura, isso não é sobre a merda da sua juventude, isso não é sobre a merda dos seus sentimentos auto-destrutivos, isso não é sobre a merda da sua falsa depressão. Isso é algo importante para alguns, como eu.

Como quando um geek gritou comigo dizendo que eu não tenho as qualidades para ser uma geek. Ele tinha razão. Não quero mais fingir nada mais.
Eu sou a droga da garota niilista num mundo de felicidades falsas onde todos estão tão desapontados e sozinhos, mas nunca vão admitir. Eu admito. Isso não faz de mim diferente, só me torna não-hipócrita. Relaxe, a maioria é hipócrita. Isso me torna uma escrota. E eu amo isso.

Bem, às vezes você tem que nascer de novo. Isso não é sobre alguém escolher ou se vertir, como a linda jaqueta de couro nova ou meias listradas. Isso é espontâneo, coisa da personalidade, não uma loja.











Parei de tentar ser algo que não sou. Vocês deveriam fazer o mesmo.



terça-feira, 23 de março de 2010

Perdão

É difícil demais perdoar pessoas que continuam sabotando o carinho que se tem por elas.
É difícil demais dar segundas chances a pessoas que cometem os mesmos erros uma segunda vez.
É difícil demais sentir pena ou ter piedade de alguém que já te atirou no buraco cego e gélido da agonia.
É difícil demais dar terceiras chances.
É difícil demais se interessar em dividir o que ninguém dá real valor.
É difícil demais ensinar algo a alguém que não sabe mas não tem a humildade de admitir.
É difícil demais se esforçar para não responder a altura de certas palavras.
É difícil demais olhar os que realmente se importam recebendo o mesmo tratamento que os que não estão nem aí.
É difícil demais sofrer rejeição de alguém que supostamente já te aceitou.
É difícil demais fazer por menos quando as pessoas tentam te usar de degrau.
É difícil demais ser carinhoso com quem te apunhala pelas costas.

É impossível aceitar certas coisas sem reação.

Eu me recuso a dar qualquer farrapo mais do que vocês não merecem.
Podem dizer tchau-tchau pra coisa fofa, agora é pessoal.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Bolha

Hoje.





Olhei de lado
e fiquei calada
perante o brilho anelado
que uma bolha
embala
não bolha de melado, 
ou caramelo arredondado
mas daquelas de sabão
ligadas umas 
nas outras
como um leviatã.
Leviana,
elevada
alienada
da leiteira e do café
leve como
a lasciva vaporosa
que eneva a folha da rosa
e desce vermelha
à lama do vaso.
E a bolha
se rompe
ao toque
de um anular.


A bolha é o corpo, a alma sou eu. Porque "você não possui uma alma, você é uma alma e possui um corpo".

terça-feira, 16 de março de 2010

Recadinho

Nesse caminho confuso e estranho, me sinto caindo em várias armadilhas, como se tudo fosse esse imenso complô para me prejudicar. Por que está ficando difícil confiar nas pessoas que eu confiava? Porque ultimamente, elas tem mudado de idéia rápido demais, elas tem sido esquivas e tem me tratado com farelos de carinho e atenção do que estavam tratando antes. Pois bem, peguem seus farelos e enfiem em seus orifícios, não quero nenhum farrapo de algo que já foi bom como prêmio de consolação. Que tal me deixarem em paz?

terça-feira, 9 de março de 2010

Equinócio de paixões

À beira de um colapso... sentou, recostou as emoções e a ansiedade nos joelhos. Tudo, está tudo dentro da cabeça, e está fazendo um nó.




Num florescer de virada
apertada,
desmedida
até um pouco recalcada, 
ela espera o equinócio.
Um equinócio de paixões, 
anjos chorosos na manhã
que desce.
Um equinócio soprando
os ventos curiosos 
do amanhecer.
Um equinócio de paixões.
Delgado 
e meio frio,
na catástrofe do tempo.
O frágil fio
da vida
no linear do rompimento,
a loucura desmedida,
o vento,
o vento.
E o equinócio que tarda.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Todos

... que quiserem estão convidados a comentar.
O que der na telha.
Busco novas idéias.

Primavera

Quisera
outrora
que a primavera
visse a todos
mas a porta se sela
e a primeira coisa 
costuma ser a tregua
que o sol dá para os que mal enxergam...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Arrastou a capa escura pelo tapete marfim e dobrou-a em um movimento brusco. Sentou-se com os joelhos muito juntos, mas o defeito das pernas afastou, natural e sutilmente, um calcanhar do outro. Jogou a franja, já lateral, um pouco mais para o lado e tossiu suavemente antes de fazer com a cabeça o sinal de que estava pronta para que começassem. Olhou para o juiz, para os advogado de defesa, para o promotor, e para o juri. Com os olhos inchados de choro, ergueu-se nas pernas, numa postura respeitosa e olhou para todos. Por fim, acenou com a cabeça para o juiz. O martelo desceu em quarto de círculo até alcançar seu apoio. O som ecoou pelo tribunal. E assim começava o julgamento. 
Um homem de terno trouxe embalagens plásticas e pôs sobre a mesa do juiz. Uma delas continha um poema; a outra, uma lâmina. A terceira continha cacos de um objeto quebrado.
A promotoria era formada por um homem gorduxo, com bigodes como os homens de antigamente possuiam bigode, um terno como os homens de antigamente vestiam, e calças como os homens de antigamente usavam para sentirem-se elegantes. Seu nome era Patriarcal. Logo atrás da mesa da promotoria, um público de pessoas, todas da família da vítima, olhavam com olhar reprovador para a figura de capa. E a figura sentada, a franja tombada suavemente na testa, o rosto quase virado para dentro tamanha a timidez... 
Do outro lado, os advogados de defesa. Eram dois advogados. Um chamado Juventude, um chamado Intimismo e o terceiro se chamava Moderno. Atrás deles estavam dezenas de adolescentes e até adultos, todos confrontados pelo flagelos do amor, da traição, da rejeição, da luxúria, da vaidade. Todos avassalados pelo sofrimento do ser humano como besta social. Ali atrás somente uma excessão houve a isso. Era uma pessoa limpa; não estava disforme de lágrimas, ou de tristeza, ou torcida nas forças dos dedos do apropriado-inapropriado. Tinha cabelos castanhos, lisos com algumas ondas dispersas nas pontas, a cara branca achatada por dentro das mechas de cabelo e o olhar distinto, mas duro e, ao mesmo tempo, atencioso. Estava lá, o gorro do casaco sobre a cabeça, sem falar nada, sem incomodar ninguém. 
O promotor se ergue. Caminha em direção a mesa do juiz e diz:
-Prova um, por favor.
O homem de terno abre a primeira embalagem. O juiz, com o poema em mãos, pede ao promotor para prosseguir.
-Pois bem, Vossa Excelência, como pode ver, esse é um poema escrito na presença dela. O conteúdo é depressivo, se fala no nome dela diversas vezes. Junto ao nome dela, o nome de coisas relacionadas a morte, a dor e a tristeza. O flagelo dela está evidentemente exposto aí, com palavras. A prova dois, por favor. 
E a segunda embalagem é aberta. A lâmina, nas mãos do juiz, esta suja de sangue, e misturado à mancha, ferrugem.
-Pois bem, Vossa excelência, veja as consequências do que diz no poema, graças a ela, por período prolongado. O flagelo da tristeza que ela causa leva a medidas extremas, em alguns casos. A prova três, por favor.
E os cacos na mão do juiz.
-Pois bem, Vossa Excelência, aí está a prova três. O nome desse objeto é lembrança. Venha como está, depois do flagelo intenso da ré. Gostaria de falar diretamente a ré, agora.
E a pessoa da capa se põe de pé.
-Você estava presente na execução do poema?
-Sim.
-E no momento que a lâmina foi usada?
-Sim.
-E no momento que a memória foi quebrada?
-Sim.
-Pois então, juri, juiz, acredito que meu discurso até agora seja o bastante.
Senta-se então o Patriarcal. E a defesa se levanta.
Primeiro, a Juventide.
-Vossa Excelência, todos os fatores acima, por mais que tenham relação com a ré, são também relacionados com o furor que a idade tenra trás!
Segundo, o Intimismo.
-Vossa Excelência, existem iguais crimes também cometidos sem a necessidade da presença da ré! Isso é tudo uma questão de como está a relação da pessoa com suas prórprias emoções! 
Terceiro, o Moderno:
-Vossa Excelência, atualmente é natural que a ré esteja presente em muitos momentos e isso não faz dela a criminosa!
E pediram a ré que se levantasse.
-As pessoas superam essas crises, na maioria das vezes, depois que amadurecem?-a Juventude.
-Sim.
-As pessoas passam por esses momentos mesmo sem a sua real presença, não é?
-Sim.
-As pessoas de hoje estão sim acostumadas a lidar com você, e a te compreender, correto?
-Correto.
E o juri olha a defesa, e abaixa os olhos. A cabeça faz sinal reprovador.
A ré, então, com permissão do juiz, fica de pé, e tira de sua bolsa três objetos. Um livro, e nele está o conhecimento. Um espelho com moldura de cobre, bem fininha, e um frasco opaco da cor verde. 
Ela pede para falar, e o juiz acata.
Ela então começa sua verdadeira defesa.
-Vossa Excelência, este livro é o único real livro que as pessoas leem, e somente na minha presença podem ler. Aqui está o conhecimento, o pensamento, a formação do saber. É somente em minha presença que as pessoas podem o ler.
Este é o espelho do auto-conhecimento. É somente na minha presença que as pessoas conseguem utilizá-lo. A presença de outros pode desvirtuar a imagem, ou deformar o reflexo.
Este frasco, pois é nele que está o produto de tudo que se pensa na minha presença. É nele que está a certeza da realização, é nele que estão os planos para o futuro, as ambições, os sonhos, e somente, somente na minha presença, as pessoas podem usufruir de seu conteúdo. O nome do conteúdo é esperança.
Graças a minha ausência, as pessoas deixam de sofrer o flagelo da traição, da indiferença, do desprezo, e podem realmente olhar para estes três objetos e acreditar no futuro. Eu fui desvirtuada, tomada por grupos, ofendida no meu real significado, e incompreendida. Os artistas, os pensadores, filósofos, físicos, todos eles contaram um pouco comigo para crescer. O meu excesso levou  a hipocrisia de achar-me não necessária, nessa unidade conservadora onde a família é a constituição de maior importância do Estado; a minha falta e a minha desapreciação levou a todos aqueles, do lado da defesa, a me acharem como a rainha de algo que não sou.
Eu fui traída pelos meus objetivos, relevada pela ignorância e culapda de crimes que não cometi, mas as pessoas cometeram em meu nome e me culpam por algo que não decidi para elas.
-Então- diz o juiz -erguida, diga: qual é o seu nome?
-O meu nome é Solidão.
O juri olhou então a franja caída cair mais sobre um dos olhos, o tronco ficar mais erguido e os ombros menos tensos. Viu a sinceridade. Declarada inocente.
E, dos que estavam ao lado da defesa, se ergue esse homem, rapaz anda para muitos mundos, homem para outros, e caminha até o mais próximo da mesa dela que ele pode. Ergue a voz, respeitosamente, e diz:
-Eu sou o filho pródigo da Solidão. Ela estava ao meu lado quando precisei dela, soube ir-se no momento certo. Eu sou forte, mas não sou sozinho. Olhe ao lado da promotoria, a família, e me diga, qualquer um de vocês, se realmente já precisaram que ela estivesse ao lado de vocês, efetivamente, para que a sentissem em seus calcanhares.
Pois eu digo: não é a juventude, não é o intimismo nem a modernidade, é mais que isso. É algo dela para eles, eles que não souberam medi-la e apreciá-la do jeito certo. E colocam a culpa nela porque não tem mais quem culpar por sua infelicidade e falta de capacidade de amar a si mesmo.








Pois talvez eu seja um pouquinho a Solidão...