segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mania

Virou mania inventar você. Inventar teu jeito de olhar um endereço, de usar o desodorante, de falar sobre a última novidade da TV, de esperar o ônibus e de me buscar no hall de entrada da faculdade, lotada de papéis, enrolada com os lápis que esquecida guardar na bolsa. 
Uma mania tão intensa, tão constante, que quase consigo te compôr nas linhas tênues do desenho na aula de modelo, na palavra cuspida na agonía de libertar a cabeça da prisão eterna e suprema que é viver de quereres mauquistos e viagens não feitas, de suspirar no vazio do banheiro tarde da noite, de deixar  água fria cair na cabeça precedendo o descanso e espreguiçando do nada.
Quando a mania cessa, só restam os sonhos, os segredos ditos às paredes e o espelho-pecado, lotado de olhares frios e narcizistas e um grande abismo entre a idealização e a realidade. O ar se adensa, dificulta a respiração, e novamente sou devorada pelo silêncio exterior e pelas vozes da minha cabeça.
Espera de algo que mal sei se há de vir vai me consumir. É o buraco deixado pela realidade. É o ambíguo das histórias antigas, a brasa apagada remexida pelo impulso de matar a solidão. No fim, só vive a esperança. O amor, a força, a necessidade e o metabolismo se apagam aos poucos. Só há o fim.

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