quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ela disse...

Ela disse que seria pra sempre,
ela disse que seria pra sempre.
Agora ela sorri,
e caminha no assoalho de madeira
Agora ela se abaixa e joga uma bola pro cãozinho
e ela corre e perde o ar
agora ela dá as mãos a ele
e ela sorri
e o tempo passado não significa nada.
Agora ela diz coisas que devia ter me dito
mas nunca foi capaz de dizer pra mim
e ela se dobra suavemente ao vento
e seu cabelo flamula, desalinhado,
enquanto ela volta a acreditar em contos de fadas.
Agora ela olha pra ele e vê seu sonho de criança
acontecer.
Agora ela caminha desalinhada
nas ponta dos pés, 
no assoalho de madeira
quando ele nem está olhando, 
quando ele nem percebe
nas manhãs frias que deviam ser minhas.
Agora ela joga a bola pro cãozinho
e se abaixa sem se importar com os velhos medos
ela come e faz careta
e dança como se ninguém estivesse olhando
e não é pra mim, 
e nunca foi pra mim.
E pra mim foi o melhor
e pra ela nunca foi o bastante, nunca foi o que ela precisava
e agora ela joga bolas e caminha na ponta dos pés
e ri sem se importar com o amanhã.
E ela tem o amanhã,
e ela vive o amanhã
e ela se esforça pra parecer menos quebrada
e ela não precisa mais se esforçar.
E agora ela corre nos tênis que eu lhe dei
pra ele, até perder o ar
e até ele ela vai e ri
e não se deixa amolecer.
E ela se levanta e caminha no assoalho de madeira
e diz pra si sem se dar conta que não gostaria de estar em nenhum lugar que não aquele
que não aquele assoalho de madeira
e manhã fria
enquanto espera ele despertar.
E ela não precisa mais mentir pra si mesma.
E ela caminha sem ter os pés no chão
e seu cabelo flamula nas mãos dele
e ela ri desajeitada
e diz que quer ficar um pouco mais.
Agora não tem mais espaço pra mim
não tem mais um mísero pedacinho que me caiba
e ela caminha de manhã
na ponta dos pés
e espera ansiosamente ele acordar.
E os tênis que eu lhe dei
e aquilo tudo que eu achei que era meu
e aquilo tudo que eu achei que eu peguei pra mim
ficaram lá, com ele
jogando a bolinha pro cãozinho
e caminhando na ponta dos pés, no assoalho
e esperando ansiosamente ele acordar
ele sempre está olhando
dentro dela.
Ela disse que seria pra sempre.
Ela lhe disse que seria pra sempre.
Ela nunca me disse que seria pra sempre.

~

Aniquilar a alma daquele que assassinou a sua própria não a trará de volta - mas não deixo de pensar em vingança. Talvez isso me trouxesse de volta.

O Pingo

Um pingo solitário tomba em um espaço singular. Acompanhar sua descida, lenta, que vai acelerando até sua completa aniquilação, ao tocar o chão, desprotegido, mole, inerte.
Ele se rompe, esfarela, voltar a esfarelar, e por fim, desaparece. E nunca mais será aquele mesmo pingo. E nunca mais estará naquele mesmo tempo. Ele começou, teve  uma duração, depois desapareceu.
Pessoas são assim, sabe; seus momentos. Cada um deles é um pingo. Tentar trazer de volta não é possível.


E não posso mais contar nos dedos a quantidade de vezes que tentei trazer de volta o eu que seria perfeito pra agora e ele não consegue mais existir....