domingo, 4 de janeiro de 2009

O expresso da meia-noite 2

O expresso parte... Ele segue em linha reta, deixando para trás o anel, as histórias sepultadas pelo sangue desperdiçado, e de longe ainda se vê, com certo arrependimento, o reflexo de olhos saudosos. Nesses olhos brilham a culpa da fraqueza, a culpa dos erros, mas não a culpa do atraso. Mesmo que ainda não houvesse partido o expresso, restaria ainda uma longa linha delgada de significâncias além de dedos que só sabiam retirar, nunca conceder e a mão que se estende. A pequena mala com pouquíssimos coisas - coisas contadas - é carregada para o interior do vagão, e lá existe algo bom, bem melhor de se olhar que o que devia ter chego à estação na hora. Talvez tenha até chego, mas não pude ver. O vagão, lá estava ele, a esperança cintilando inquieta, o vibrar dos vocais indefinidos de um adeus que não foi compreendido. Um ponto.
E veja a grande surpresa! Lá estava o adeus duplo, um atraso significante, um sussurro desleal e crispado, o vento correndo entre os vagões sacudindo os cabelos de tudo aquilo que ficara para trás. 
E logo mãos não eram mais mãos; perfumes com sabores jamais experimentados, um ardor incontável que crescia, hora a hora, um bem-querer tamanho querido que distorcia a visão temerosa dos trilhos a frente. Um gelo na espinha, se espalahdno pelas vísceras e deixando um rastro de fogo intenso, o renascer de um pedaço do espelho da carne que por tanto ficou morto, inativado e silencioso. Lá ia ele, rompendo o tudo. Folhas secas puderam entrar pelas janelas no correr barulhento do trem, e logo, não se fez mais necessário olhar para trás. Ainda havia esse olhar para lá, um cantinho do olho, ainda meio úmido, mas o tempo, o tempo sim é o rei das verdades. Logo a clareza dele faria o caminho que ficou atrás perder o brilho, e ser apenas o caminho que ficou atrás. Deixa ser. Deixa estar. Seja e esteja. Saiba a hora de ir embora.