quarta-feira, 6 de junho de 2012

Nasci pequena

Nasci pequena,
cresci pequena,
mas não sou burra
infelizmente não é uma das minhas qualidades
o dedo podre, 
a mão azeda, 
dessas sim me gabo como qualidades.
Nasci torta,
cresci acertando,
mas não sou tapada
infelizmente não é uma de minhas qualidades
a voz rouca,
a teimosia aflorada,
dessas sim me gabo por qualidades.
E fui moldada pra completar assim
o Tudo
porque pequena,
tonta e bela
nasci pra completar o Mundo!

terça-feira, 5 de junho de 2012

XXXVI

E esperando ela se curva fria
desmanchada como a flor seca de inverno
e ansiosa, ela queima no fogo do inferno
os desejos, um a um, que um dia cria.


E trêmula e calada ela espera
e anseia que o sorriso volte a vida
e remenda com tricô a ferida
e se prepara para a próxima primavera.


E emocionada, se torna pra trás
e com um pincel, pinta o passado
de cores diluídas em aguarás


E se levanta, e caminha pro futuro
que vê contra a noite a luz que se abre
explodindo em notas no escuro.

XXXV

Ecoou a Voz do Silêncio
rastejando no frio do asfalto
um som retumbante e alto
um grito forte, um prenúncio


E as flores derramadas, mortas
voltam a vida através dos tempos
e vibrando, firma-se o intento
e as linhas das quadras, tortas


Debruçam-se as damas solitárias
sobre as canções dos orvalhos gélidos
sobre as óperas, sobre suas árias


E seus murmúrios mentais e parcos
embriagados pela luz das vontades
se emaranham nas notas, arcos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

XXXIV

Explodem-se mil estrelas
uma chuva de fogo prateado
o vermelho facial, o peito curvado
contra a luz significativa de Uranus...

Desfaz-se no céu de retalhos
a graciosa secreção dos Eternos
o óleo amarelado das cores
e o solo triste dos violoncelos

Gritam aos infinitos os silêncios
silenciosos desejos alternados
por cristais e beijos...

E sob a cúpula azul cobalto
entre flechas e jorros lançados
o som indiferente dos realejos.