sexta-feira, 15 de outubro de 2010

icterícia

menina icterícia
desdenhada superfície de felícia
delicada bandagem enxarcada
da mesma gosma ressecada
que envolve os dedos...
despedaçada


oblíqua a coluna adormecida...
segundo crispado de retundência
ecoando na cabeça espremida
entre o cabelo sujo
e os órgãos em falência


é o som da pestilência
e do sangramento vencido
de um miocárdio dolorido
que desespera obtuso
implorando por segundos de dormência
implorando ser banido
da tortura extrema
e da penitência


é a gosma da divina providência
roubando do corpo demente
a reta medida
entre o fígado, inchado e carcomido
e o baço, que já vencido
morre decrescido
da douçura sublime
e deita despedaçado
pela loucura latente


e separam-se todos
no arsênico, e no formol
um tonel de vício, lástima e riso
onde a figura inerte fica desfalecida
é a imagem paralizada
com os olhos escancarados e chorosos
e onde a graça desmedida da vida
se despedaça cansada, esbaforida
e a dor, extrema, que imobiliza
a visão perfeita, eternizada

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