terça-feira, 7 de julho de 2009

Anéis

Eu o vejo em rostos alheios, tão distante de mim como se eu fosse um distímico; é tão doce, tão plácido, tão sacudido às vezes, que até chego a sentir saudade. Mas certas coisas ensinam que nem tudo é para todos, quem precisa sorrir quando se tem um amor?

Eles eram invisíveis, tão delicados que caiam no chão a qualquer movimento um pouco mais brusco, aí quebravam. E novamente estavam lá no dedo, os dois, em cada dedo, em cada mão, em cada um. Uma auréola tão discreta que a maioria nem percebia que estava lá, tão etérea quanto era-lhe possível. Às vezes, estava com tanta força, que arrepiava. Mas nunca tanto quanto deveria estar. Nunca tão forte quanto na mão do que não os via. Apenas ela via. E estava ficando fino.
Eles eram tão belos, que ela não conseguiria imaginar um substituto material para eles. Tão bem-feitos em prata, que apenas um ourives de exímio talento os fariam; eram duas pedras, uma em cada um, pequenas e brilhantes, uma verde, a outra vermelha, esse era o par. Brilhavam tanto, apesar de pequenas, que não poderiam ser reais. Ela as via em todos os locais onde o vermelho e o verde se completavam. Desenhos, slogans, lá estavam elas para ter alguma história - que estava só na cabeça dela - para ela se lembrar.
A prata tão bem polida assombrava, tamanho o seu espelhado; ela podia se ver refletida delicadamente no material, meio translúcida - pois aquela prata era quase mágica - e gostava de se olhar ali. Eram finíssimos cordões que se entrelaçavam para formar uma coroa de louros, as folhas arrumadas sem se espalharem demais, os ramos postos nos lugares certos.
Eram idênticos; no entanto, na mão de um era uma algema, na do outro, uma coroa; na mão do que tinha uma algema, estava o controle, na mão do que tinha uma coroa, estava a verdadeira algema.
Oh, quanta beleza extrema! - ela pensava. Oh, como é bela a ligação ela pensava.
Ela é louca. Ninguém, jamais, conseguiu enxergar os anéis. E ela esperaria, sem motivo real, até que fossem substituídos por anéis de metal de verdade - ela nem ligava para as pedras.
Mas é louca, tola, estúpida. Não aconteceria nunca. Ela não é boa o bastante para isso.

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