terça-feira, 7 de julho de 2009

Pesadelo

Ela costumava acordar sobressaltada... A pele arrepiada, os ossos em totalmente frágeis, quebráveis em um único suspiro. Mas acordava e era o fim do pesadelo. Talvez agora ele tenha cansado de ir embora sempre, e tenha só ficado tão forte, tão cruel, que ela perdeu a vontade de estar aqui.
É fácil demais correr por um corredor sem saída, cegamente, quando se tem uma mão para agarrar, quando se tem um chão. Mas do nada, o chão sumiu, a mão que estava lá, nunca estivera. O pesadelo não tardaria muito a continuar mesmo com os olhos abertos.
"Queria ser como você, queria deitar fria no chão como você, tem espaço aí para nós dois, não estou de luto por você", ela disse. A luta lutada foi solitária. Não há vitórias.
O sonho ruim continua, ela abre os olhos, eles estão cansados e secos, acabaram as lágrimas. Defender o que de quem? Ela não tem mais para onde correr. A pele seca, os olhos fundos, a pele não humedece durante o dia, os olhos não retornam à superfície. O silencia unilateral continua. O aperto no peito, a dor. Ela só queria ser amada e apenas amar. Não acontece. Não há amor no controle, no egoísmo, da desistência. Só há teimosia, só há fraqueza.
Ela acorda novamente. Os velhos monstros vão embora, ficam os novos: o ataque, a falta de formas de se defender. Ela não consegue mais dormir, tudo é estar dormindo. Era nos pesadelos que ela descobriu sua falta de valor. Apenas quando acordou deles e viu que eles continuavam que ela percebeu que os pesadelos sempre estiveram lá, ela se virou de vê-los, ela se anestesiou de suas dores, ela se calou de seu suspiro.
Ela grita e chora, se debate, e abre os olhos de novo. Novamente desperta no pesadelo. E ele não vai embora. Ela olha o próprio corpo - frágil, arranhado, marcado - e chora quieta. As pancadas não param de vir do lado de onde ela só espera carinho e proteção. Ela se silencia, corta os pulsos, deita quieta e espera...
Ela acorda novamente. A morte não chegou rápido o suficiente? Ela ainda acredita que um cavaleiro de armadura brilhante vá aparecer em seu cavalo, e levá-la dali. Mas todos sabem que não vai acontecer. Ela perdeu sua majestade, não é mais uma princesa, não é mais uma nobre. Perdeu a graça. Ela não tem mais cabelos esvoaçantes, ela não tem mais cores pastéis no rosto.
Ela acorda novamente. E é o pesadelo. Depois novamente. Pesadelo ainda lá. E de novo, nada mudou, e de novo, e de novo...
Talvez ela já tenha morrido. Algum dia vai chegar a hora de deitar.

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