A sensação absurda de nada, às vezes, chega a tamanho insustentável extremo, que de qualquer jeito é preciso que seja preenchida.
Um arrepio na pele, uma busca ansiosa entre as roupas íntimas de algodão, os lenços, e nada. Ela se prorroga, e persiste em outros espaços, por toda casa, até que, depois de tudo revirado, finalmente o objeto tão desejado é encontrado.
Onde está o corpo? Onde está o ser? Nada, nada dá para encontrar no meio daquele caos imundo, daquela baixeza, daquele monte de lixo, amontoado, liberando sucos de uma repulsiva fermentação.
E surge uma perna... O deleite, o alívio, o objeto funcionando a todo vapor, as mãos tremendo, e o sangue jorra com uma delicadeza, lavando mágoas, emporcalhando o chão e arrastando aquilo que incomoda. Então vem a paz... Não existe mais vazio, ele está completamente preenchido com a dor física, a sensação de ter um corpo, a sensação de não ser só mais uma manifestação vapórica no ar.
Respiração, choro. A tremedeira então piora e vem nova agonia: como fazer para sair daqui amanhã, como vou mostrar minha cara de pessoa errada e ridícula, de pessoa tola? Amanhã todos vão olhar, vão sim! Todos vão fazer perguntas e ter pena de mim, todos vão me sufocar com coisas que eu não preciso ouvir! Será que vai dar para continuar existindo assim? O que virá depois? Quando a sensação de vazio vai parar de voltar, como um câncer incurável, insistente e maculado, que me povoa por completo nessa sina?
Silêncio.
Amor fora de sintonia
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Quando eu quero sua atenção, você me dá um novo outro assunto
Se em um dia você me quis, com outra eu estava antes
Nosso amor sempre esteve fora de sintonia
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