domingo, 19 de outubro de 2008

O vento

Nos momentos críticos, está lá sempre o vento. A arte de me esgueirar por ele, de arranhá-lo, de escutá-lo falar suas indecências esquivas e suas graças desgraçadas. O vento, cheio de vozes cheio de palavras e de sensações.
O vento, que nunca me deixa; ele vem ressecando tudo de feio, mudando os segundos em minutos, minutos em horas. Descobrir a arte de domar o vento, de controlá-lo, um objetivo que já a muito alcancei, mas nunca porei em uso.
Se domino o vento, se o submeto ao que eu acho certo, ele não seria mais vento.
O vento que me faz desejar arrastar as mãos novamente em objetos antigos, o vento que me faz sentir novos sabores em comidas que a muito já fazem parte da minha cina.
O vento veio, me trouxe a sensação de nadar em sangue denso e pegajoso; me trouxe a sensação de não ter peso, de não precisar mais respirar, excretar, absorver; o vento veio e a euforia deixou por onde ele passou em mim.
Mas, se eu domino o vento, ele não é mais vento.
O vento dançante, saltitante, tão tolo quanto eu...
Vai, vento arrasta essa existência insignificante e faça-a mergulhar nos mais profundos mananciais de desespero, de loucura, de doçura, de suavidade, de arte.
Vento.

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