quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sedentos

Sacudi a cabeça, tentei expulsar dali de qualquer jeito a impressão de que via você se materializando na minha frente. Foi só um sonho. E é profundamente detestável para mim admitir isso.
Você estava ali, sim, estava, eu pude, pela primeira vez em meses, escutar a sua voz. Os cabelos ralos estavam aparados. Acho que preferia quando estavam compridos; de tal forma, escondiam seus olhos... Aqueles olhos.
Era como olhar para um ladrão. Tive raiva daqueles olhos pela primeira vez. Já tinha notado que você era bem branco, quase aguado, mas pareceu mais bonito ontem quando fui dormir. Mas seu olhar ainda era um mistério!
Era como um criminoso caminhando na milha verde. Um destino trágico lhe aguardava e você já sabia disso. Aí, olhou para mim. Ali estavam suas respostas. Se jogou no pegiro, depois fogo... Depois não pude mais vê-lo. Mas escutei sua voz! Novamente não consegui dizer meu nome, sua voz me anestesiou. Você estava sedento, eu estava sedenta. Ameacei você! Disse coisas feias sobre saudade, e espera. Coisas tão feias que te fizeram torcer a cara. Deixei torcer. Já estou de saco cheio de ficar procurando. Mas mesmo assim, vou continuar.
Aí acordei. Seu rosto gravado na minha mente. E a boca seca.
E sei que quando você acordou, sua boca também estava seca.
Talvez estejamos sedentos de algo impossível. Bebamos então água e vamos fingir que não teve sonho. Quem sabe desse jeito, hoje à noite, consigamos dormir melhor.

Nenhum comentário: