sábado, 25 de julho de 2009

Insônia

Um sono agudo invade todo o corpo... As pernas esticam, os olhos ficam tensos, as pálpebras pesadas. Descem então. Descanso merecido. Depois de fervilhar a mente com todas as novas idéias, renovar algumas antigas e repassar algumas recentes, a mente gripta por silêncio. Mas nem no silêncio a mente silencia. Logo o descanso fica cansativo. Vem uma vontade de correr tão forte que o peso nos olhos fica leve, e desperto do sono meio em sobressalto. Olho para o lado, e ele está ali. Azul e cego, ele está ali. Talvez apenas porque não sabe ir para outro lugar. Talvez qualquer coisa azul que não sabe ir para outro lugar estaria. 
As pernas encolhem. A mente cansada começa a somatizar os pensamentos, logo a casa está cheia de sensações saudosas: o suspiro no pescoço, a batida na porta. E junto delas vem ainda mais forte as sensações da porta batendo, do sofá deformando, das costas olhando, de tudo que vai ficar para trás. Dessas últimas, apenas a saudade de não as ter evitado. 
Uma luta interna. A mente funcionando e doendo o corpo, o corpo cansado de dor, o silêncio que não consegue se calar. A música contrabalanceia por pouco tempo, logo o silêncio fica mais alto que ela. Um dicionário, um tico de fio dental, pedaços de papel recortados, colados e cuidadosamente posicionados: apenas mais um quebra-cabeça. A vopz da secretária eletrônica ecoa de novo na sala; nada a declarar. A verdade dorme longe de onde eu possa escutar; nada a declarar. A verdade grita na minha porta, me sugando a vida e a vontade de existir. Declarado. Assim não dá para continuar.
O fim está próximo? Quando vai ser o dia de dormir e não acordar de sobressalto? Quando vai ser o dia que o descanso não vai mais cansar? Quando vou olhar no dicionário e ver algum significado? A porta aberta, veja o que está acontecendo, e lembre bem da visão. Quando a porta se fechar, ela não abrirá mais. Virar para o lado e não ter o azul que não vai a lugar nenhum por não conseguir do meu lado será um bom dia para regojizar. Regojizar a preguiça, a fome, a vontade, a insônia. Será acordar no meio da noite e ver que estará lá, que estará sereno, e remexer nesse sonho alheio para tirar o sossego e falar bobagens doces e translúcidas. Vai ser espairecer de cansaso - do corpo - calma e em paz, entre uma flor e um brasão, enrolada nos cabelos que ajudei a lavar, para depois, dormir e acordar apénas quando o sol estiver já acima das cabeças.

Fessa de nulli sunt qui spem in aliquo habere e ipse defendere.

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