sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Era uma vez...

... Eu. Na época eu tinha essa pessoa ao meu lado, essa pessoa mascarada, essa pessoa de bela máscara, recheio feio. Essa pessoa que devia me defender, e me expunha. Essa pessoa que me usava como atributo social em sua ficha idiota, essa pessoa que costumava deslizar silenciosa suas patas sujas por sobre tudo que eu conquistava. Essa pessoa que admirava apenas o meu talento de usar igualmente bela máscara, essa pessoa que me confundia e dessa forma, me mantinha fraca. Era eu o troféu: exibir-me para o mundo, a beleza que eu não possuia, a submição que eu nunca tive, a graça que eu não carregava, e assim, uma máscara eu recebi também. E foi essa máscara deformada e torta que as pessoas viram... foi essa máscara translúcida, essa capa desleal. Através dela sorriso não passava. Através dela, luz não passava, não a luz natural. E o mistério do que estava por baixo era aterrador demais para que me fosse permitido qualquer vislumbre demasiado. E assim foi. E assim ficou, assim ficou por três longos meses. E dessa mesma forma, se ousou repetir. E novamente eu fui emganada, exposta a perigos que eu nem fazia idéia. Mas alguém viu a máscara... era ele. Ele me olhava de um jeito único, de uma forma tão profunda que desmenbrava minha máscara, enfraquecia minhas defesas. Ele era perigo, ele era desfrute, ele era pura loucura enclausurada numa calma surreal. Ele era como eu um dia seria. Ele era ele, ele era uma parte de mim que eu admirava... Eu não era nada. Mas para ele, eu era muito. Para ele eu era perda de tempo boa o suficiente para ele arriscar o pescoço e para me tirar da furada. A notícia chegou aos meus ouvidos: eu nem podia acreditar no que ouvia... meus olhares curiosos, criança gritando em mim aquelas características interessantes e magnéticas... e veja o que ele tinha feito! Pelos deuses... foi ali que eu consegui vislumbrar aquela casinha num lugar qualquer, aquele jardim de tulipas e ele na varanda, com um livro pesado nas mãos, sentado em uma cadeira de vime. Eu visualizei uma mulher ali, eu visualizei sorrisos, anéis, mãos atando, tulipas em ambas as mãos, uma mão no ombro, o livro repousando sobre a cadeira... mas quando voltei a mim, caiu-me a notícia de que ele estaria na casa, estaria sim, com o livro o mesmo livro!, a cadeira, as tulipas... a mulher! A mulher não seria eu. Lágrimas me fizeram temer pelo que de ruim poderia acontecer a ele, senti um medo monstruoso me engolindo, uma incerteza petrificante... Um talvez que eu logo matei havia surgido. E o talvez me fez regar um amor... platônico, sim, mas que estava ali. E depois, peguei o amor e botei ele para dormir.

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