sábado, 12 de setembro de 2009

Era uma vez... (VI)

... o Impulso. Aquele que se dizia meu aprendiz, se tornou meu salvador. Aquele que se dizia meu amigo, se tornou meu lar. E aquela que se declarou minha rival, se ajeitou ao meu lado por um ideal comum: que meu passado ficasse para trás. Gratidão, dívida, hei de pagar por essas gotas de suor, cada uma delas, dez vezes mais do que fizeram por mim, dez vezes mais porque fizeram sem esperar por nada em troca. Se saciavam do meu sorriso, e eu renascia numa fase onde eu era pássaro livre, livre de voar e livre de escolher, tudo jogado, com primor, de volta nas minhas mãos por essas seis mãos valiosas. Uma delas segurou na minha, me fez ficar de pé novamente; a outra me manteve sustentada. Uma outra me sacudiu a poeira, e seu par me apontou um novo caminho. E a quinta e a sexta, me arrancaram de dentro aquela emoção antiga, que vibrava lenta e gélida, que estava ali ainda... A sexta me atirou de volta ao passado. Não um passado solterrado de poeira, mas um passado de coisas que não haviam sido realizadas ainda. Arregacei as mãos e senti o mundo: a noite densa, as escolhas tomando tudo em mim. Mas a coragem ainda não era suficiente, eu novamente iria deixar o lampejo passar, eu novamente me acovardaria de dizer, eu novamente deixaria tudo passar, deixaria as coisas escoarem, aquela emoção perfeita dormiria novamente, aquelas sensações complexas ficariam embaçadas de novo. Isso se não fosse o vislumbre da praia...
O mar ia e vinha; ele era sonoro, arrepiado e saboroso, ele se movia e o mundo continuava a girar. Decidi, de vez, que mesmo que o mundo me negasse tudo, eu não me negaria mais aquele direito de sentir o que sentia. Eu tinha direito, EU TINHA ESSE DIREITO! Eu tinha o direito de errar, eu tinha o direito de me enganar, eu tinha o direito de dizer e de me expressar, eu não ia deixar dormir de novo! As circunstâncias não me vitimariam novamente. Atei mãos, conduzia os passos ligeiros o melhor possível, mas a tensão não me deixavam arrumar as palavras direito. Eu sabia o que estava acontecendo, eu via aqueles olhos assombrosos e profundos, eu via um mundo de verdades se escancarando. Agarrei o mais forte que eu podia nos sinais perturbadores que havia recebido dele, e do mundo, e da minha existência, e arrisquei. Arrisquei tudo, jogaria tudo fora sem pestanejar só para saber, eu precisava mais que tudo saber. Mas eu não soube. Um beijo num ponto de ônibus, o borrado da cidade gritando os sons dos mecanismos fumacentos por toda parte; uma música, em mim, surgiu. Ela tocou, me embalou, e foi difícil demais ver aqueles passos decididos levarem aquele olhar e aquele beijo para longe de mim. Olhei as coisas caídas pelo chão: senti certa culpa porque havia quebrado, sim, havia coisas ali que eu quebrara e que não havia forma de colar. Nunca quis machucar ninguém para poder sorrir. Mas às vezes pode acontecer. Poupo-me da parte de desculpas.

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