sábado, 12 de setembro de 2009

Era uma vez... (V)

...a Confusão. O coração rifável foi arrebatado, carregado de mim, e um buraco no meu peito ficou. Por meses eu busquei pelo meu eu por trás das máscaras, e o achei. Gostei do que vi, reservei uma última máscara para proteção, e o resto era interior, o resto era álcool, o resto era aperto e vontade. Novas emoções me dominaram, novas chances de sorrir falsas me surgiram. Nesse momento, eu ouvia dele as palavras, eu me comunicava escrevendo, eu me comunicava esperando, e o contato foi reestabelecido. Numa escolha errada eu afundei, sem nenhum lugar para segurar, sem nenhuma esperança de sucesso, sem nada que pudesse me manter respirando. Mas eu briguei, e como briguei para ficar viva. E então, um dia, açoitada por coisas incompreensíveis para mim naquele momento, abri a máquina perante mim e olhei, com surpresa: ele não estava ali. Esperei dias, esperei resposta, elas não vieram. Esperei o dia que ele voltaria a aparecer naquela janela, do outro lado do vidro gelado na rede, e não aconteceu. Sem ter mais como fazer, entreguei-me à circunstância. Uma ilusão bonita, bem bonita, autruísmo, salvei do desespero uma pessoa que ao desespero me atirou. Reciclava o que eu sentia, mantinha tudo sob meu olhar crítico, e gostava cada vez menos. Fui traída, diminuída a uma qualquer, fui usada e depois fui dispensada. Era fatal: jamais devia ter-me deixado entrar numa situação na qual eu sabia que entrava para me dar mal. No meio do caos que eu sofria, me vi diante dele uma outra vez e a sensação era única: meu eu comum e sem graça se sentiu com graça, palavras trocadas, olhares, eu ignorava com tamanha força aquela afeição que jamais teria percebido que, de certa forma, poderia ser mútua.
Quando finalmente o último ladrilho de chão me foi puxado e entrei em queda, um grito da garanta o fez voltar... Eu gritava, me debatia, negava ajuda... E ao lado dele, um grande amigo estiveram. Telefonemas, conversas longas e cheias de desabafo, uma dor que eu diluia, aos poucos, mas não conseguia jogar para fora. Meu corpo quase padeceu, minhas energias pararam de me responder, minha vida parou de existir. Meu coração não estava em mim. Um vazio profundo, um medo inacabável de perder o que ainda restava de mim em mim - salva-me... - uma desesperança total em tudo que poderia ser belo e verdadeiro. Uma agonia sem fim - salva-me... - me consumindo. Morram, todos os sonhos, MORRAM DE UMA VEZ, me deixem em paz para existir nessa casca. Era o fim. Uma garrafa numa mão, um cigarro na outra, os ossos expostos. 

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