sábado, 12 de setembro de 2009

Era uma vez... (IV)

... a Solitude. Era veio arrebatadora! Eu me despedi da vida que levava na antiga moradia, pisquei o flash uma última vez para momentos de lá, e carreguei comigo tudo que eu pude. Mas muitas lembranças lá ficaram, muitas não tinham valor. Minha casa, que um dia fora cheia de risos, cheia de gritos, agora estava vazia. Abandonei algumas coisas para recomeçar: uma nova fase, onde eu faria tudo porque gosto, e não porque preciso. Havia feito minha escolha de ser artista, de seguir carreira restaurando, e criar livre e leve nas horas vagas. Não havia em mim arte alguma. Não havia em mim graça alguma. Eu me sentei na minha prórpria vida, olhei para ela contemplativa e vi minhas conquistas. Belas conquistas, senti orgulho. Vi também coisas pelas quais tanto eu lutara e nada conseguira alcansar... Dor. Senti-me comprável por qualquer carinho, senti-me à rifa por qualquer cuidado que pudesse receber de um estranho perigoso; perdi completamente a concepção de missão, de destino, de sorte e azar... De repente, deixei de ser eu. Tanta coisa que as coisas ruins me ensinaram, mas eu continuava "um trapaceiro que não conhece a solidão", e dessa forma fui preenchendo as formas vazias com futilidades e abstrações. E, de repente, aquele degrau da umbra me caiu no colo novamente. Senti vontade de voltar onde eu disse que jamais voltaria, sentir vontade de falar com quem eu disse que jamais voltaria a falar, e assim, novamente meu tormento cai no meu colo. Tudo começou com contatos esparços, culminando num encontro pessoalmente. Nada de relevante para este conto aconteceu, ao menos não comigo. E eu voltei lá. E ele estava lá. Por uma noite inteira, tensa, me debati entre as circunstâncias e seus lindos cabelos compridos... Via-me às vezes perder o controle, e admirar... Era mais belo do que a escultura que o amor fizera outrora. E ali o amor brotou para fora de novo. Arrepios, dúvidas, vontades sufocadas, aquilo não podia ser só atração física. Os ocorridos ficaram vagos, exceto uma cena da noite que não deu para esquecer. Eu ri, eu dei gritinhos, eu me mexi estremecendo a cada movimento brusco. Meu coração estava ali, à rifa, baratinho, fácil de ser alcansado... mas ninguém o fez. Ninguém o queria. Ou era o que eu pensava.

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