terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O anel

Antes dele estar aqui, já existia. Já existia na prata sua força, sua intensidade. Uma prata que saíra um dia da mina, que passara por tamanho número de mãos antes de ser o anel, sem que nenhuma de sua energia fosse perdida. Talvez outrora fosse uma taça, um garfo, outra jóia, mas nenhuma de tamanho valor. Talvez tivesse sido alguma rebarba, algum caco, algo dispensável, mas não agora onde ele estava. Não importava o que acontecera anteriormente, esse poder - poder supremo - que guarda o anel não iria se desfazer. Mesmo quando o dedo onde ele está se desfizesse, essa força tremenda estaria lá. E olhar para ele já era mais que rotina, senti-lo fazendo parte do dedo, como se fosse a quarta articulação.
Concebido, então seu par, passou em muitas mãos. Em nenhuma delas coube, em nenhuma delas se encaixou. Seu par estava longe então do anel, separado dele para sempre talvez. Iria para terra, sem jamais compreender a força do anel.
Mesmo que a terra sumisse, que a água secasse, que o fogo parasse de queimar e que o ar, de correr, o anel continuaria ali. A terra iria embora, a água estava secando aos poucos, o fogo se extinguindo sem combustível para queimar, o ar entrava e saia difícil. O éther era quase livre então. E o anel iria com ele.
O anel jamais sairia do dedo; mesmo sem seu significado, ele ainda significaria. Mesmo sem sua prata, a força estaria ali. O anel era o símbolo supremo, e não mais seria sujado por outras mãos. Estava no lugar certo, mas a hora era a errada. E seu par talvez nem existisse mais. Mas ele continuaria exatamente onde está. O seu verdadeiro significado, aquilo que fora selado por ele não iria embora, não importa o quanto doesse. Viria o véu preto, viria a rosa atirada no negro buraco, mas o anel ficaria.
Não era apenas um anel, era um grilhão arrastado por todos os segundos de existir, um peso vivo, que logo peso morto seria. Mas seria arrastado mesmo assim. Mesmo antes do anel, ele já estava ali. O anel já estava ali. Preso, no dedo. E nada seria capaz de tirá-lo, nada!

Um comentário:

Rebecca Isnard disse...

Nossa oO, acho que tive uns cinco arrepios só no texto do anel, sem brincadeira. Muito lindo e verdadeiro. Lindo^^