domingo, 16 de agosto de 2009

Suspiros

Palavras engasgadas... Uma tosse compulsiva, quase viciante as fariam sair de vez. Era o tempo certo, um momento sem igual. Oh surpresa divina!

Ela se sentou na pedra... fria e um tanto quanto úmida, a pedra estava lá. O vento lhe solapava, a umidade a corroia, mas ela continuava lá, a pedra. E ela também ficou lá. 
Suspirava... A pedra ansiava pelo mesmo, mas teve que se conformar com o calor do assento. Ela descobriu que nada nem ninguém mereceria mais, e se entregou, de corpo, de alma, ao vento gelado que corria em seus cabelos. Os pés foram esfriando. As mãos seguiram o mesmo caminho, num ritmo mais lento. Ela podia sentir tão forte o calor, por dentro, que o frio não fez seu peito gelar. E continuava a esfriar.
O vento, violento, arrepiado e mal-humorado, corria-lhe pelo pescoço, pelo rosto, manchado ainda... As tremedeiras incontroláveis só passavam com música. Então cantou. O tempo, que teimava em não passar, tão surreal quanto o caminho que a lua fazia no céu, também ia corroendo um pouco de pele, um pouco de cabelo, ou pouco de água. Uma lágrima de nervosismo, nenhuma certeza. O silêncio quebrado pelos suspiros, o coração quase lhe corria do peito. 
Num momento, tomada pelo sono, descansou um pouco, deitada sobre as próprias pernas, a cabeça baixa. Não havia humilhação nenhuma ali, apenas um intento. Não estava à míngua, tinha sua certeza como acalento. Havia alguma esperança ali, mas aos poucos ela foi sendo substituída por uma necessidade de o sol sair e lhe aquecer os pés. Mas ela ficou. Muitas palavras mastigadas foram engolidas. Muitas palavras a muito tempo engolidas, voltaram a garganta, vívidas. Ela praticou consigo mesma a coisa certa a dizer. Em vão. Mas disse.
O sol saiu, mas não esquentou. Foi algo mais que a esquentou. Uma mão estendida. Cada hora valera a pena. Não havia sono, não havia cansaço. Só uma vontade gigantesca de continuar a suspirar. E suspirando ela seguiu. E atadas as mãos geladas a outras, quentes, ela sorriu. O frio esvaiu, e se apertou densa entre um sorriso, um riso, uma emoção tão funda que se fazia sentir onde não mais corpo havia. Ela conseguiu o que queria. Um soriso em retribuição. Tudo o que queria era fazer a ele bem. E fez. E sem esperar nada em troca, muito recebeu. Era regojizar. 
Era suspirar juntos.


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