terça-feira, 12 de junho de 2012

Eu tenho um amor na minha vida

Eu tenho um amor na minha vida
ele pode ser arredio, mas é forte
ele pode ser tardio, mas unida
fez a cina e o canto voltar da morte.


Eu tenho um amor na minha vida
e sobre ele derramo minha arte
e seu suor cicatriza a ferida
do desgosto passado, que me arde.


Eu tenho um amor na minha vida
e ele toca e pulsa delgado
e dele sou, o corpo algemado


e dele não escapa nem sonho
e em cada lacuna ele me toma
e em cada aresta ele me doma.




XXXVII

A lúgubre imagem do homem calado
se desmanchou no sorriso aberto
e conforme seu olhar chegava perto
mais a sombra chegava pro lado

Ao primeiro beijo, um suspiro rompido
e passo a passo a distância sumia
e sequer a gota de suor os dividia
tamanho desejo os tinha espremido

E as vozes cruzadas em gemidos
e as pernas entrelaçadas em vibratos
e a treva rendando-os em recatos

E os suores em vapores misturados
e a silhueta contra parede, moles
e a embriaguês do gozo, em goles.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Nasci pequena

Nasci pequena,
cresci pequena,
mas não sou burra
infelizmente não é uma das minhas qualidades
o dedo podre, 
a mão azeda, 
dessas sim me gabo como qualidades.
Nasci torta,
cresci acertando,
mas não sou tapada
infelizmente não é uma de minhas qualidades
a voz rouca,
a teimosia aflorada,
dessas sim me gabo por qualidades.
E fui moldada pra completar assim
o Tudo
porque pequena,
tonta e bela
nasci pra completar o Mundo!

terça-feira, 5 de junho de 2012

XXXVI

E esperando ela se curva fria
desmanchada como a flor seca de inverno
e ansiosa, ela queima no fogo do inferno
os desejos, um a um, que um dia cria.


E trêmula e calada ela espera
e anseia que o sorriso volte a vida
e remenda com tricô a ferida
e se prepara para a próxima primavera.


E emocionada, se torna pra trás
e com um pincel, pinta o passado
de cores diluídas em aguarás


E se levanta, e caminha pro futuro
que vê contra a noite a luz que se abre
explodindo em notas no escuro.

XXXV

Ecoou a Voz do Silêncio
rastejando no frio do asfalto
um som retumbante e alto
um grito forte, um prenúncio


E as flores derramadas, mortas
voltam a vida através dos tempos
e vibrando, firma-se o intento
e as linhas das quadras, tortas


Debruçam-se as damas solitárias
sobre as canções dos orvalhos gélidos
sobre as óperas, sobre suas árias


E seus murmúrios mentais e parcos
embriagados pela luz das vontades
se emaranham nas notas, arcos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

XXXIV

Explodem-se mil estrelas
uma chuva de fogo prateado
o vermelho facial, o peito curvado
contra a luz significativa de Uranus...

Desfaz-se no céu de retalhos
a graciosa secreção dos Eternos
o óleo amarelado das cores
e o solo triste dos violoncelos

Gritam aos infinitos os silêncios
silenciosos desejos alternados
por cristais e beijos...

E sob a cúpula azul cobalto
entre flechas e jorros lançados
o som indiferente dos realejos.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

XXXIII

Amei o silêncio antes de amar a canção
amei o vazio antes de amar o pleno
amei o rasgado antes de amar o fechado
cria do vazio rasgado silêncio.


Amei a beleza antes de amar a essência
amei a matéria antes de amar a escultura
amei a mão antes de amar o homem
a matéria da beleza nas minhas mãos...


Amei as notas antes de amar o arco
amei o sorriso antes de amar a respiração
amei os pés antes de amar os passos
e os pés nas notas e os sorrisos.


Amei os folíolos antes de amar a cabeleira
amei a taça antes de amar o vinho
amei a camisa antes de amar o peito
e a taça com a camisa e os folíolos.


Amei o lampejo antes de amar a luz
amei os segundos antes de amar as horas
amei o produzir antes de amar a obra
e o produzir segundar dos lampejos.


Amei o queixo antes de amar o violino
amei a barba antes de amar a boca
amei o arqueado antes de amar o arquejar
e o arqueado queixo sobre a barba.


Amei a emoção antes de amar a vontade
amei o real antes de amar o sonho
amei a ilusão antes de amar a verdade
e a ilusão do real com emoção.


Amei o som antes de amar o silêncio
amei a memória antes de amar a visão
amei o geral antes de amar os detalhes
e o generalizar das memórias dos sons.


E amei o que pensei sentir
e amei o que havia de ser
e amei o que poderia deixar de sentir
mas escolhi tentar possuir


E amei o que gostaria que fosse
e amei o ser que jamais havia sido
e amei o haver de ser
e o que havia escolhido


E amei o que jamais vai o ser
e amei o que sonhei que seria
e amei o que sonho que pode ainda ser
e o que ainda pode haver.


Amar por amor é melhor que amar por ter ou querer.