quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Outono

"As folhas estão caindo.." ele disse num sussurro gelado.
"Não" Ela disse. "quem está caindo sou eu."
Ela sentou debaixo de uma castanheira e viu o primeiro fruto que caia. O céu cinzento emoldurou a cena e o vento arrepiou todos os sentimentos que ali ainda restavam. Ela afundava na armadilha lamacenta que criou para si mesma. Ela apalpou a ponta do pé e se perguntou o porque, mas já sabia de antemão que era inútil.
Ela lembrou o rosto, desenhou na mente as linhas secas de coisas que esperou, e estava quase decidida a não esperar mais. Mas ela esperava ainda.
Ela segurou entre os dedos o resquício que sobrava do sonho, e esticou as pernas, tentando caminhar novamente na imagem. Inútil. Desceu a noite. Desceu devagar e fresca. Desceu a luz da luz filtrada. Não havia estrela alguma.
Ela olhou seu próprio reflexo na água dos olhos, que umedeciam as mãos. Segurou então mais uma que descia. E tossiu com a fumaça do crepúsculo. Pediu licença e deitou de lado. O vertical, por instantes, quase se tornou horizontal.
Ela se questionou sobre os motivos. Sabia a consequência do que havia feito desde sua primeira primavera. Sabia para onde tudo aquilo a iria levar. Mas ainda havia... simplesmente ainda havia. E ela tentou fingir que não estava cansada. E quase conseguiu.
Foi aí que ela descobriu o que era força. Ela vira tantos verões, tantos invernos, tantas primaveras... mas era sempre o outono, sempre ele que tinha aquela cor amarga. E ela resolveu dobrar flores de papel e ignorar o que acontecia do lado de fora. Ela escolheu a dor da esperança. Mas não sabia por quanto mais tempo a escolheria. O hoje era tudo que ela tinha.
E a primeira folha cai...


O outono é só a transição o verão e o inverno.

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