sábado, 3 de outubro de 2009

Os dois contos malditos ~ Clorpromazina - Haloperidol

Assunto complicado? Sim.
Consegue imaginar aquilo que deveria te ajudar atrapalhando sua vida? Piorando ainda mais a situação? Prejudicando seu corpo e sua qualidade de vida? Pois imagine. Não se cegue. Não é porque um cara é formado em algo que ele é a verdade absoluta e o saber. Cuidado, pense sobre si, pense sobre as vantagens e desvantagens, conheça a si mesmo, e decida: não deixe ninguém decidir nada por você.


Clorpromazina
Você, já ouviu falar do Amplictil? É o nome bonito para o nosso amiguinho acima. Alguns anos depois eu descobri que ele, e os outros priminhos dele que eu tomava na época pós-internação (anti-depressivo, ansiolítico) deviam ser ingeridos com leite para evitar problemas graves no estômago. Engraçado que eu não entendia porque, quando os tomava, esmagados, na clínica, minha garganta ardia, ficava dormente, e depois dolorida... Hoje eu sei. Meu eu da época? Eu falo um pouquinho dele.
Olá, prazer, eu sou a Nightwaliker, tenho 17 anos e problemas nos rins e gastrite. MInha vesícula vive me sacaneando e eu tenho, fora isso um bom estado de saúde. Estou tendo surtos terríveis de auto-mutilação e odeio o mundo, exceto meus amiguinhos e meu namoradinho. Sou bonitinha, tenho um peso bom para minha altura, mas emagreci muito na internação, meu cabelo longo e cacheado está quebradisso, estou anêmica por problemas com a alimentação dentro da clínica, mas estou me recuperando... E tinha esse carinha, esse comprimidinho branco. Eu o tomava todos os dias de manhã, e não conseguia comer de manhã, mas fazia um esforcinho, afinal uma maçã até que desce, ou uma pêra, porque tomar remédio de estômago vazio faz mal, não é mesmo? Qualquer idiota sabe disso.
Essa era eu na época. Coisa fofinha..., Não conseguia manter a cabeça de pé por causa do sono, fazia pré-vestinbular e não passei para nada, ninguém sabe porque... Talvez porque eu sentia tanto sono, TANTO SONO, que nem que passasse a orquestra russa explicando o maldito conteúdo de física, eu ficaria acordada. Sorria, você está sobre controle, sem surtos, fumanbdo feito uma condenada, mas sem surtos - sem vida, sem ânimo, sem sorrisos largos, sem vontade de existir... mas sob controle! Parabéns! Dores abdominais fortes, deve ser gases. E eu tomava remédio para gases, e não melhorava. Até o dia quer notei que, nervosa, a dor piorava. Eu comia compulsivamente para tentar fazer a dor parar, e não parava. E minha vida melhorou? Não, desculpe, piorou, beijos. Gastrite nervosa foi o resultado que a endoscopia mostrou, coisa da qual eu nunca haviua sofrido antes. E essa é a primeira história  que me fez desacreditar da medicina psiquiátrica.


Haloperidol
Sabe aquela dragueazinha tão famosa, todos falam nela para tratamento de esquizofrenia e outras patologias relacionadas, contém os surtos psicóticos e as visões? Contém mesmo? Ajuda mesmo? Não a mim. Essa é a história de como eu decidi parar de tomar essa medicação. 
Estava em situação grave de depressão, e o desespero da falta de apetite e da angústia me levaram a procurar um profissional. Dentre outros 3 medicamentos, me foi receitado o tal. Temi um pouco, mas o médico procurou me deixar tranquila, dizendo que a rigidez muscular seria reduzida por um dos medicamentos que ele me receitava, um certo anti-alérgico. Bula na mão, medicação a postos, fui para casa com um sorriso no rosto. E assim foi por algum tempo. A combinação bombástica de medicação me causava um sono surreal, eu dormia quase o tempo todo, quando não estava dormindo, sentia sono; não conseguia formar uma oração composta sem me enrolar, meus pensamentos pareciam anestesiados, era como se todas minhas capacidades mentais tivessem sido reduzidas a um décimo do que eu tinha antes. A falta de ânimo, a falta de vontade de levantar da cama não melhoraram; eu apenas tinha esperança numa recuperação - que não viria. E nesse contexto, se passou o episódio da estação das barcas.
Era um local até com pouca gente, eu havia comido algo antes de entrar e aguardava o horário de partida. Foi quando vi algo que jamais me esquecerei, que jamais do tipo havia visto antes. Estava ali, perante meus olhos: um crocodilo, e dos grandes! Apavorada, tentei mostrar ao rapaz que me acompanhava o que eu via, que não podia ser possível! E que o bicho estava me chamando, pelo meu primeiro nome, me ameaçando, dizendo que ia me devorar!!! O que fazer?? Eu entrei em surto. Com toda boa vontade, o rapaz me acalmou, falou comigo, disse sobre eu deixar o jacaré de lado, que o bicho não ia me pegar porque ele estava ali (e quem seria idiota para num momento daqueles me chamar de doida e dizer que não tinha nada ali? Acredite quendo eu digo: muitos! E piorariam ainda mais a situação). E o animal falava que ia me pegar, me mandava pular na água para eu ver só o que ele faria, me ameaçava, eu em desespero, suando... Depois eu soube que disse coisas que nem lembrava direito, todas sobre o animal, algo de arrancar os cabelos. 
Relatei ao meu médico, ele achou que o medicamento não era suficiente, aumentou algumas coisas. Minha mãe, desesperada, sem saber o que fazer, me levou a outro profissional. Lá eu descobri que o haloperidol pode ter efeito oposto ao esperado em alguns organismos. Era minha segunda prova de que médico algum é a verdade e o saber absolutos.




Então, não, obrigada, mas eu amo meu corpo, não encher ele de porcarias apara me adaptar a esses padrões ridículos pré-impostos pela sociedade de normalidade. Eu NÃO VOU  ao seu psiquiatra, NÃO QUERO o telefone do seu bom médico, minha vida é linda, e sim, eu não preciso dessas porcarias que vão me matar antes que o cigarro teha chance de fazê-lo, ou que podem me deixar completamente estragada para o resto da minha vida. Fique com seu método, eu tenho o meu: tenho meus "problemas" desde quatro anos de idade, e não morri ainda. Não é agora que um bando de laceraçõezinhas no braço vão me matar.

Nenhum comentário: