quinta-feira, 10 de maio de 2012

O beijo é a véspera do escarro

Cansei de me deter
cansei de me algemar
cansei de contar as horas que deixei de respirar


Fingir que vou vencer
como se houvesse o que ganhar
fingir sobreviver
num lugar em que sempre faltou ar


Cansada de cair
sem ninguém pra levantar
e os pedaços ter de pedir
ajuda pra juntar
ajoelhar e ter que servir
e pedir e ter de implorar
mascarar e ter que sorver
o amargo do suplicar


E abaixada ter que ceder
e cedida ainda ter que esticar
e esticada ter de prover
e desprovida ter que doar


E quebrada ter que me erguer
e erguida nos vazios sombrios
abrir os olhos no escuro
e realizar que estou sozinha
perdida em comida cara e falso arminho
num mundo mentiroso e mesquinho
nas mãos de um Rei sem rainha
no caminho de quem solitário caminha
provendo abrigo àquele que tira
e a quem se implora por ajuda
a se recolher
os pedaços tristes que sobram no fim
de uma tarde de domingo
e de um monte de bobagens superficiais.


E no fim sobra uma rosa
e uma vontade que não há de calar
de saber como seria o dia
que houvesse um dividir verdadeiro
um desejar certeiro
sem a diluição da decepção passada
um renascimento de um que talvez um dia existisse
e se perdeu nas garras
das descrenças das mesmas mentiras que hoje conta.


Só existe uma peça pra cada metade,
uma metade de algo este seria
completando um algo que não eu.


E eu me sento
e espero o Ar
tímido, voltar a se aquecer
na clareira desconhecida
dos eus que ainda estão por vir...

Nenhum comentário: