quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Caixa

Hoje olhei essa foto... Lembrei do aspecto espectral que eu tinha iluminada somente pelo monitor, sem nem tocar as teclas, braços pendurados, mãos geladas... Lembro-me de me debater até as vezes até ficar exausta, gritar, de não sentir as pernas, das lágrimas, que de tantas, já pareciam feitas de fogo, saindo dos meus olhos, cada vez mais inchados, cada vez mais vermelhos, cada vez mais doídos. Lembro-me de como isso acontecia uma vez por mês, duas vezes por mês, uma vez por semana, duas vezes por semana, seis dias de sete dias da semana, todos os dias... Lembro-me de deixar de comer, de querer deixar de respirar, de querer deixar de existir. Lembro-me de me sentir suja, feia, desprezível, detestável, vulgar, repugnante, patética. Lembro de poucas das palavras, lembro de pouquíssimos motivos, mas o sentimento ficou guardado, pulsante, teso, dentro de uma caixa como a de Pandora.
Inteligente é quem não abrir a caixa, porque tem o meu pior monstro interior ali. E pode acreditar que se alguém abrir essa caixa, o máximo que eu vou sentir é uma sensação de euforia infantil: como a da criança doente que arranca as pernas de uma barata ou ri do amiguinho que chora porque caiu e ralou a perna. Não existe nada mais cruel do que a ingenuidade e o alheamento de uma criança.

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