sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Corpo

She wolk up without herself... her body doesn't answer her calling n' she get so cold, so cold!, that her body becames rock.

Ela acordou... O corpo não respondia. Uma voz gritava nela como se tudo estivesse se despedaçando, um grito agudo sacudindo as paredes sólidas do quarto, em seu apartamento, apertado, arredio, gelado... Ela empertigou-se de pé, como se aquilo fosse o aquilo tudo do qual precisava. Os ossos tremoliantes, em voz uníssona, gritavam um lamento único, um pedido de túmulo, mas ela resistiu ao pedido. Havia o que fazer. 
Separou os pedaços de pano por cor, afastou-os todos na medida de achá-los com exatidão, tremeu as bases tentando se agarrar nos pés, mas as energias do solo a puxavam para baixo. Seus dedos tateantes e intrigados das sensações antigas, pareciam ter nascido naquele momento, tamanha sua curiosidade de remexer o mundo todo... mas as pernas não deixavam.
Entretanto, elas permitiram uma ida até a sala: eis a sala. Os sofás, bem colocados, ela apenas se esticou, rastejante, e chegou ao local onde alcançaria o controle-remoto e ali ficou. esticada entre as duas maças laranjas de fofura, pseudo-aconchego, espuma amontoada dentro de capas de pseudo-couro, seu temporário pseudo-refúgio. Os ossos em chamas gritando por um extintor, que não existia; sua mente, em total torpor, gritando por chamas, que jamais haveria de achar ali. E prostrada, ela viu o relógio girar. Chorou, retorceu-se, numa tentativa frustrada de alcançar o recanto gelado onde acharia sua comida, mas ficou na metade do caminho. Gritou em vão. Nada viria tirá-la do chão. 
Ainda se debatendo, voltou ao seu recanto alaranjado; clamou ao seu deus da guerra, guerreira queria ser! mas em vão. Ele a protegeu, mas sua armadura era pesada. Clamou à sua deusa da justiça, por todo esforço que fizera, e novamente em vão! Apenas a deusa do caos pode responder - eis o que: és caos, caos em meio a uma torrente de calmarias, caos em meio a um tornado de bom-vivans, caos, e caos ponto. Sem adiantar tremer - ela tremia sempre! - e caos sempre - sem adiantar se debater.
Podia sentir a cortizona - Tizz - corroendo suas entranhas, aquela força desperdiçada, aquela energia que fluia de si direto ao nada! - inferno! - e nada adiantaria gritar. Tizz, companheira, tenha piedade...
Um jorrar de figuras perfeitas em sua mente... Toda aquela arte desperdiçada.. Os ossos em chamas... Desespero. Silencia a dor - grita Morpheus em sua súplica - dorme. Dorme coisinha. Coisinha pequenina, indefesa, sem as intempéries dessa carne que adotaras como refúgio. A ira dos deuses... Um grito de guerra, um suplício profundo, um banho de álcool, um jorro de sangue que ficou guardado - eis uma vitória! - ela clama por um algo a mais...
A arte dormindo em local distante, os passos ardentes, ela caminha em prol de um algo a mais. Ela - ele - ela - ele - ela chama... Um sinal do outro lado, lá está. Risos, forças retornando, tarde demais. O dia acabando, a lua chegando, a lua vem trazendo a resposta do dia, um dia infrutífero, um dia inútil, um dia sem produção. Ela olha as cartas, nelas não há resposta... Para onde estará - onde estou?! - caminhando? Uma resposta muda... Uma resposta insossa, uma resposta bela, uma resposta cruel... O frio, perante tamanho sol, um frio indescritível, vergonha... Encolhida entre as cobertas grossas, pelos deuses, em 28°C, encolhida entre as cobertas... um frio de dentro.
A arte? Está lá, dormente; o amor?? eis o muso. E seu corpo? Maldito seja. Infrutífero, a arte a lhe transbordar heresias, a arte a lhe transbordar agonias, a tremedeira dos ossos! Oh eles queimam, como queimam! Talvez nem estejam mais ali... 
E o corpo? Que corpo? A Arte flui, ele não responde.. O amor flui, ele não responde! Eis aí a bela figura: caminha como se não houvesse um chão, seu jeito de olhar, entrecortado, suas lágrimas secretas, nada... Coloque sim, coloque uma vírgula em mim, eu posso mais que tudo isso, eis que posso mais que o maldito corpo, que me prende; não me sinto eu dentro dele, não me sinto completa nisso; falta uma perna extra, falta dois ou três braços para completar, falta a destreza para usá-los independentemente, um corpo de limitações, um pedaço de carne para me dizer o que posso fazer. Muita energia interna, para que? Acaba descarregada em marcas que o sangue apenas é testemunha, marcas em relevo que em muitos locais já sumiram, que em tantos lugares ficaram para trás como ficam as canções do passado! Marcas que deixam sua dor de existir, e nada mais!
Começo a acreditar em Anastasia... Todo esse sangue é agonia de arte que não é posta para fora; que essas marcas, que tudo isso, num mapa, poderia, talvez, formar a obra-prima da humanidade (tola que sou) e que tudo isso não acontece para fora, e fica preso, se libertando de forma cruel contra esta carne - que nada tem a ver com esse problema... A fumaça do cigarro, os objetos que me sobrecarregam do mundo, os movimentos complexos dos seres humanos a minha volta... Tudo é transcritível, tudo pode virar um belo borrão na tela...
A lua vem, a lua vai, e não me trás respostas seguras de nada... Essa semana já se foi, sem volta, mas outra virá - e com ela, uma nova chance de auto-controle. Nunca desistir.
Eu não vou me adaptar - não a esse mundo...
Eu não vou me adaptar - não a esse corpo...
Em algum lugar dorme o portão que me separa entre a limitação entre essa carne o e todo resto.
Eu não vou me adaptar - pois tudo depende deste corpo: corpo incompleto, de dores, limitações, artrites, artroses, e ises, e oses, e troços; tudo conspira para o não-saber; tudo conspira para a tragédia - the doom - mas eu estarei lutando. Pois o que seria eu se não fosse luta; pois o que seria eu se não fosse superação - e brigas - contra mim mesma, contra tudo, e do tudo, o nada, pois de nada a de solver o tudo... nas minhas mãos... a força nas minhas mãos... o grito sem sentido há de ter sentido.
Um chamado. Do outro lado do telefone, uma voz, que toda calma resiste à tensão da distância. E novamente.. a agonia. É ter um corpo. Ele está fraco aos adeus do amor, aos desesperos da doença, aos desiguais suspiros de uma alma que de muito o supera... e o espírito! que briga contra as paredes... (formigas adoram as batatas fritas do Mac Donalds) e cada rija, incompleta, desfazível (parede) há de persistir..
Mesmo que me custe tudo -
eis meu eu na infância -
e tudo que eu desejo jamais há de custar -
e a criança teimosa que aqui está -
e na criança briguenta persista -
a criança dorme... -
a criança dorme.
É a força desconhecida. É um algo indescritível. O corpo não vence a alma, o espírito energiza o conjunto - um grito! 
Eu continuo tentando. E eu vou conseguir.

Um comentário:

Rodrigo Costa disse...

Continue resistindo. Esse é o sentido de tudo.