sexta-feira, 29 de maio de 2009

Um farrapinho de conto - parte 1

Ela dormiu pesado depois do coito. A pele arrepiada, suada. Os cabelos largados para o lado da cama e as roupas - antes bem passadas - jogadas no chão. O bebê chorou alto no quarto, tão alto que a fez se remexer. Foi quando Ele levantou, espreguiçando-se, e foi olhar o mancebo. Estava lá, reboleando no berço suavemente, o rostinho contraindo pelo choro. Naquele momento, olhando pro próprio filho, escutando o pranto, teve raiva da própria vida. A grana entrava e as ideias para ela entrar mais ainda vinham em carreira. Mas não estava nada bem. Nada mesmo.
Caminhou até a cozinha, e deu o telefonema que ansiava. Era a gota final caindo, era a última alternativa. No meio de todo aquele tédio, ele sabia de onde poderia vir a vida. O telefone do outro lado chamou, chamou de novo. Nada. Chamou novamente, e depois caiu a ligação. Ele pensou: "Ela desligou na minha cara..." Era um quem sabe doído, inusitado. Era definitivamente um quem sabe.

Ele dormiu pesado depois do coito. A pele arrepiada, suada. Os cabelos largados para o lado da cama e as roupas - enxovalhadas de rolar no chão da casa bagunçada - jogadas no chão. O dono do boteco chorou alto na loja na esquina. Foi quando Ela levantou, espreguiçando-se, e foi comprar uma dose de vodka. Os bêbados casuais estavam no bar, reboleando nas cadeiras abruptamente, os olhos avermelhados pela bebida. Naquele momento, olhando pros próprios pés, escutando o lamento do dono do bar, teve preguiça da própria vida. A grana entrava e as ideias para ela sair mais ainda vinham em carreira. Mas não estava bem. Nada mesmo. Tomou toda vodka, voltou, e da porta, escutou o telefone tocando. Tocou, e tocou de novo. Não atendeu. Tocou novamente, e Ela desligou na cara de quem ligava. Ela pensou: "Ele me ligou..." Era uma certeza doída, inusitada. Era definitivamente uma certeza.

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