domingo, 1 de março de 2009

Eu sou...

...aquela que acordou, um dia, com um estrondo. Teve a impressão que a porta tinha sido arrombada, mas não foi estrondo da porta que ouviu. Era o coração: batia com tanta força, que mal dava para respirar... Um sacolejar desordenado do corpo, uma sensação de ter achado aquele túnel para sair do vazio total. Doía, cansava, arrebatava e jogava no chão, ao mesmo tempo que levava as forças ao caminho que precisavam ir para que levantasse. Era como ser um pedaço de algo que não era o todo, como gritar um adeus inesperado. A dor, ao invés de diminuir, cresceu. A sensação de rejeição, a agonia de se esforçar até os ossos doerem, um silêncio sorridente que é quebrado por uma terceira voz: uma voz intrusa, do passado, e o desespero se derramando novamente, e tudo que era ruim, antes, volta e fica mais doído ainda... Uma esperança, uma espera, uma certeza. A esperança, morrendo, a espera perdeu o sentido, a certeza, a certeza mais burra que tivera. A sensação de gritar ao nada, quando cada grito foi medido; a sensação de ser uma metade de algo que nunca existiu... As marcas na pele, pungentes ainda, queimando, pedindo por mais ação, um fatídico dia em que o lírio colhido caiu no rio. Quando a dor virou, de tudo, uma só, e a união se fez real, e total, a ferida aberta já sangrava demais para ser fechada. A sensação de ser rejeitada, de ser insignificante, de ter gritado tanto e não ter sido ouvida... E ainda ser aquela que chora, aquela que ama, aquela que espera. E ainda, ao mesmo tempo, não ser nada. E olhar o mundo e não ter a capacidade de culpar ninguém, só de espernear e culpar o inferno de existir.
E ainda, sim, um força para brigar. Brigar para ficar com as migalhas que der para recolher, brigar para um dia, talvez até poder ser o passado saudoso, berrar com vontade e gosto as emoções. Depois de conhecer o ciúme de verdade, ninguém é o mesmo. Depois de conhecer a saudade, também não. Depois de descobrir a própria insignificância, idem. E jamais será mais humana do que quando puder provar dos três, ao mesmo tempo, e não ter a capacidade de culpar, de odiar, ou de se vingar. O resto é exagero, passou disso é burrice.
Essa dor, essa dor nunca vai dormir. Ela vai estar lá, pulsando por todo corpo, por toda parte, a cada segundo, te arrancando uma lágrima. Vai se remexer sempre, vai berrar às vezes, mas nunca, não importa o que aconteça, nunca vai dormir.
Existir dói, e dói ainda mais se a vida fizer a covardia e te reduzir a um mero e comum ser humano.

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