domingo, 7 de dezembro de 2008

O que fazer com aquela maldita ânsia?
Ela vem rasgando a carne, sendo cuspida em chamas do meio dos miolos e largando um rastro ardido pelos feixes musculares! Intensa, vem arrastando consigo as vontades misteriosas que nem ao menos entendemos porque moram lá... Vem o grito, vem a força de escapar de tudo, vem a degustação dos ventos de primavera, vem o poder de romper o infinito áspero e sem paredes...
E logo, me acabo, me basto de lábios bem-feitos, os mais plácidos que já vi...
Um arrepio na pele, as mãos que continuam iguais, a saudade se dissolve em meio às palavras sem ambição alguma, sussurradas suavemente à altura do ouvido, arrastadas entre a lama e árvores - quem seria melhor confidente que elas? - e depois a chuva, e então os livros, calados, começam a falar...
Como cogitar que um querer bem quisto caminharia por tantas pedras e continuaria quase intacto, quase sem ondas, quase sem marcas? Só pode ser realmente pureza, daquela que achamos só ver nos filmes, pureza rara daqueles que estiveram murados esperando. Aqueles que souberam baixar a guarda apenas no momento certo. Daqueles que ficaram marcados como os insensíveis, e que lidaram com o mundo como quem lida com adultos grandes e maus. Daqueles que aprenderam cedo que confiar é perigoso de mais para se dar ao desfrute de confiar em todos facilmente.
E logo os lábios se afastam, esboçam um sorriso e rosam pela percepção de serem observados, mostrando graça além da graça, timidez além de timidez, e além de tudo, temor além de temor. Impossível explicar.
Talvez esse poder que as pessoas que amamos tem de nos ferir.

Um comentário:

Rebecca Isnard disse...

Involuntário e inevitável. Quantas são as sensações que o amar causa, e dentre elas tantas ruins? Mas não é por isso mesmo que o homem vicia neste sentimento?

Lindo texto! Continue sempre!! ;*