segunda-feira, 21 de julho de 2008

Escutando as vozes

Foi só um murmúrio. Já ouvia bem suavemente esse murmúrio, mas o ignorava, nunca disse-me nada que fizesse diferença. Na verdade, nunca tinha dito nada, só murmurado coisas que eu não conseguia compreender.
Num momento de silêncio, resolvi parar pra escutar. Não era tão baixo o quanto eu pensava... Era até alto, meio ensurdecedor...
Gritava muitas coisas, eu não entendia absolutamente nada. Então me concentrei.Reconheci gritos, mas também reconheci choro e balbúcias, tudo vindo misturado. Logo me toquei que não era apenas uma voz, mas eram muitas, todas dizendo coisas completamente diferentes, em tons diferentes, de formas diferentes, como se cada uma falasse uma língua. Concentrei-me mais ainda. As vozes foram se tornando mais claras, e mais vozes ainda surgiram. Vozes confusas, obtusas, cada voz falava mil coisas ao mesmo tempo, e misturavam os assuntos, e misturavam os tons, como se cada voz tivesse uma centena de ecos e cada eco dissesse algo diferente.
Cada vez mais confusa, aos poucos, fui tentando entender suas estranhas línguas; elas diziam muitas coisas, as que falavam rápido, mas algumas só se repetiam nas mesmas palavras, como se estivessem passando por algum tipo de fixação sem o menor motivo...
O segredo das vozes, as línguas, os timbres, algumas até mesmo cantavam...
No fim, não entendi nada. Parei, pensei muito sobre essas vozes todas juntas, se um dia elas concordariam entre si e parariam de discutir. Cheguei a conclusão que isso nunca aconteceria. Tudo aquilo, todas as palavras misturadas, toda aquela confusão que eu não entendia, tudo aquilo, era minha consciência. Até o dia da minha morte ela continuaria dizendo coisas que não fazem sentido, gritando coisas que nada me significam.

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