sábado, 29 de agosto de 2009

Teia de Barbantes

Uma trama confusa, com variações de espaços diversos, onde um tenciona o outro, onde cada extremidade é um ego único; onde cada fio, é uma trançagem de relações diversas, confusas, obtusas entre si. Não existe um centro; cada extremidade é centro de si próprio. Onde nada é absoluto, onde nada é 100% verdade. Eis o planeta de onde eu fugi no cometa. O pulo do gato. Isso é a vida? Não, não mesmo.
A teia se estica dia-a-dia, para qualquer lado, para o lado oposto. Ódio/amor, atração/repulsão, tudo dependendo do quanto cada fio é esticado. E tudo dependendo de cada, fio, pois cada fio que estica reage diferente. O mesmo fio que esticado outrora era ódio, de repente se torna amor. Uma repulsão que vira mera atração carnal, e esticado ao extremo, volta a ser amor. Um fio que de repulsão, encolhido, vai ser tornando atração, e de menos encolhido, vira amor, depois esticado um pouco, acaba por virar distanciamento. Uma indiferença que vira raiva, se recicla na proximidade e acaba por se tornar pena. Um outro que de amor, vira indiferença numa aproximação extrema, depois volta a amor, e por fim, se torna apenas indiferença. E cada fio tencionado influencia nos outros de cada ego; e cada fio encolhido, dá sua reviravolta e trás uma nova surpresa. Nenhuma pessoa é absolutamente boa, ou absolutamente má. Essa parte é normal. Mas daí a tornar-se seu oposto, daí a complicar-se trançada aos outros, vira piada. Jogos de interesse; verdades e mentiras absolutas inexistentes. Porque a verdade mesmo é que nesse meio, ninguém se ama (com excessões) ou ninguém se odeia realmente. Apenas um tabuleiro de xadrez, onde quem dá as cartas são as vontades aleatórias de aproximar ou afastar, tencionar fios e/ou encolher fios, onde o posicionamento de cada ego muda com frequência, onde as coisas ditas significam muito mais do que as feitas. Sinceridade minha? Tudo uma piada. Alguns tão presos às próprias teias que deformam a si próprios. 
Aí, um dia, uma voz sábia me entrega uma tesoura. O fim de tudo. Menos um elemento. Porque se recusar a aceitar o que não se gosta é natural, porque simplesmente aceitar e se conformar é anti-natural para pessoas como eu; a tesoura, o pulo do gato. De tudo, ainda vejo a você como mais que isso; vejo você superior, vejo você lidando com seus interesses de forma a estar funcionando com a teia, mas se recusando a confabular com ela. Vejo um ego que só se deforma por necessidades profundas da alma, mas que na verdade, não quer se deformar pela sua força interior. Vejo sua capacidade de julgar a teia como algo ruim. Eis o planeta de onde eu fugi no cometa. O pulo do gato. Isso é a vida? Não, não mesmo. E, um dia, vou poder lhe dar a tesoura que recebi. Um dia essa teia de venenos não vai mais lhe fazer falta. Porque, mesmo do meu jeito tosco, tudo que eu quero é o seu bem. Mas somente quando você perceber isso, vai poder entender. Apenas quando você perceber o mal que isso lhe faz, vai poder desejar a tesoura. E aí, eu volto ao planeta, no mesmo cometa, apenas para lhe buscar, e seremos felizes, lado a lado, como estivemos outrora, onde a rosa e a tulipa descansam, conversando entre si sobre tudo que perdemos e ajudando uma a outra a reconstruir. Pois eu seu que um dia você vai perceber que não vale a pena viver através de quem esse ego supostamente central trás para sua vida; você verá que de toda relatividade, você é única, especial e inteligente demais para tudo isso. Fica a admiração.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Rapsódia IV

Teu olhar lupino, de cromação fugaz
Mostra do tom mais suave ao mais venéreo
As essências sombrias do mundo, mistério
Decifrável apenas pela ante que trás.

Mas é nos teus olhos que me perco tomada
Pelo teu semble, pele, figura e sorriso
Olhar de ressaca, maior que o de Narciso
Na descoberta da forma da pessoa amada.

E no fim de tudo, diz-te casmurro
E acha nessa tola pessoa enfeitiçada
A razão para teus novos e frescos ideais...

E eu! Desmanchada no teu amado sussurro,
Arrastada pelas íris, embriagada,
Correnteza que me engradesse e enche de paz.

domingo, 23 de agosto de 2009

Felicidade

Uma vez me disseram que para se ser feliz junto, antes precisamos ser felizes solitários. E eu li que estar com alguém deve ser porque queremos e não para não ficarmos sozinhos. Dito e feito. Ai vida vem e me ensina outra lição.

Deito a cabeça no travesseiro e lembro do dia. Um dia que começou de manhã, e só terminou de manhã do dia seguinte, 24h acordada... Lembro dos sorrisos, dos sabores, do seu olhar... Absolutamente magnético. Vejo como é simples ter motivos para sorrir - novamente. Um copo plástico na mão, uma mão na outra mão, passos pequenos, um perfume suave de passeio, e mais sorrisos. Como é fácil sorrir quando você simplesmente sorri e não fica procurando motivos e justificativas para o sorriso; como é fácil rir quando você simplesmente ri, sem se perguntar muito se a reação é inteligente ou não. Derramar refrigerante na calça, um curativo na perna; um riso, um sorriso. Ser salva de cair numa poça por um amigo, um riso. Hi-5 com um outro amigo, outro riso. Um beijo, um sorriso...
E rindo e sorrindo, as coisas voltam a ser coloridas. E sendo apenas o que sou, as coisas voltam a fazer sentido, mesmo sem ter sentido algum. Uma mão que se vai, outra que se estende; sem códigos, premiças ou premeditações. Simplesmente é. E está por toda parte. É o cheiro da felicidade, inundando minhas narinas embriagadas de amor; é seu suave toque na praça, no meu cabelo bagunçado de ventos e romance. É a coisa mais anti-linear e mais confusa do mundo, mas quem acha uma vez, não a perde mais. Mesmo que ela durma, ela continua lá.
E se o mundo acabasse hoje, nesse momento? Não sei, e nem importa. Porque as coisas só são como são, e viver feliz por elas é uma dádiva. Porque está na hora de parar de culpar os outros pela tristeza. Poruqe está na hora de cair a ficha e de ver que a felicidade vai além dos atos, é só um estado de espírito que não se modifica quando simplesmente a queremos. Sem lutar. Sem perder ou ganhar. Não é a vitória, não é a sorte, mesmo que essas ajudem. É mais que isso. Quando queremos algo assim, simplesmente nunca provamos. Porque mesmo que o mundo exploda, quem quer tem e pronto. Uma lágrima delicada pode delinear um aceno de mãos. O coração pode acelerar e doer de tanta força que usa para bater. Quem quer é e pronto. E está além das coisas boas ou ruins que acontecem. Está além do corpo. Além da dor de uma saudade comprida, de um friozinho na barriga quando estamos satisfeitos. Abrir os braços e abraçar não depende só de quererem um abraço quando não se quer abraçar. E a felicidade faz assim. Quando queremos, ela simplesmente volta.